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30 novembro, 2004

Diário póstumo de um cinéfilo (3)
Por Fran Pacheco

Apatia. Eis a palavra de ordem do festival. Tento vencê-la. Este é um festival de Aventura! Que soem as trombetas do tema de Indiana Jones! Não entendo por que ninguém topou pagar 50 reais por uma sessão noturna no Teatro. Sairia pela bagatela de cem reais o casal. Agora só vejo o Robério correndo de um lado pro outro. O Governador quer resultados, é um homem técnico, pragmático, quer retorno. Robério se afoba e libera geral a entrada. Aguardem: em breve estará recolhendo gente na rua para encher as sessões. A última esperança do secretário e expor o Giannecchinni às massas. Se ele vier.

Seguem minhas observações muy pessoais acerca do que vi:


Paloma de Papel (filme em competição)
Um filme literalmente do Peru. Belas imagens dos Andes me levaram a um sono gostoso durante a projeção. Eu estava pouco me lixando para o drama pessoal do protagonista, um marmanjo relembrando o tempo em que foi levado pelo Sendero Luminoso (a Al-Qaeda deles), quando ainda chico. A madrecita do menino morre. Pronto, contei. O que eu não me conformo é que o Peru - que fica logo ali, em Tabatinga - produz Cinema (Pantaleón y las Visitadoras, Bajo la Piel, No Se Lo Digas a Nadie) e nóis aqui, do outro lado da rua, fazendo vídeo caseiro de 1 minuto...

O Xangô de Baker Street (hors-concours)
Um dos mais caros filmes brasileiros em todos os tempos. A grana transparece em cada sequência deste blockbuster tupiniqum insosso, sem estilo e quase sem graça. Filme de época? Comédia? Noir? Aventura? A soma incipiente das partes incompletas de cada gênero, resultando num filme quadrado e pasteurizado (gostei desse chavão). A impressão é que, para garantir o retorno do investimento, foi contratada uma junta de diretores. Não há traço autoral. Jô Soares, que nem é tão bom ator assim, aparece numa gag. A prochaska da Isabel Guerón também, no justo momento em que eu acordava, o que, para mim, salvou o filme. Vale ser revista. Digo, revisto.

Buffalo Boy (filme em competição)
"Saigon. Shit." (Apocalypse Now). Mas vamos ao filme: Minh Nguyen-Vô é o nome do sorridente vietnamita que assina a película. Mais uma vez o curador francês, Messier Ditilhê, põe um drama de juventude na parada, desta vez deslocado para a Indochina dos anos 40, ocupada por quem? Pela turma do Asterix, é claro. Altos negócios nos trópicos úmidos é com eles (vide as ex-possessões na África e o Amazonas Film Festival). Não confundir com Buffalo Bill, embora essa fosse a intenção. O curumim em questão gerencia a manada de búfalos marajoaras, nas várzeas do delta do Mekong e cuida do pai gagá. Aprende muito com a ralação e se torna um Homem. Enquanto isso, meu sono se aprofundava e eu sonhava com meia hora de Norma Bengell pelada na praia naquela cena de Os Cafajestes (62). Mas Norma Bengell no atual estado. Acordei transido de suor.

 

29 novembro, 2004

Diário póstumo de um cinéfilo (2)
Por Fran Pacheco

Conforme prometido, baixei em todas as sessões possíveis do Festival de Cinema (que ocorre por aqui em média a cada 35 anos). Ainda vou descolar umas dicas com o Barretão para arrancar dinheiro público para um "filme rebelde" que estou elaborando. A seguir, minhas impressões esparsas:

Filmes dos dias 27 e 28/11

Tainá II (exibido na sessão de abertura)
Só para lembrar: eu não fui ao histórico evento. E filme infanto-juvenil não é a minha praia desde Fantômas (1913). Esta crônica está a cargo de Irmão Paulo e suas doces palavras.

No Paiz das Amazonas (exibido na Roberiolândia, antes do Carrosel da Saudade)
Não me canso de rever esse documentário do meu amigo Silvino Santos, lançado em 1921. Silvino promoveu o filme na Capital Federal vestido de Indiana Jones avant la lettre. Figuraça, o portuga. Lembro que ele revelava os negativos no meio da selva, dentro de um tronco oco de árvore, convertido em laboratório. Fi-gu-ra-ça. Mesmo carcomido, o filme mantém o encanto da Manáos prazenteira e louçã de antigamente. O problema foi o pianista. O pianista ofuscou, com sua quixotesca figura, a projeção. O que é que o Pedrinho Sampaio estava fazendo ali, com aquele... cocar? Pra que aquele cocar, fariseu?

Tae Guk Gi (1º filme da mostra competitiva)
Vocês perderam. Um filmaço de guerra vindo da terra do músico Chick Korea. Dispensei as legendas e saboreei a fala monossilábica dos tigres asiáticos. O fato de não ter entendido, por conseguinte, porra nenhuma, não diminuiu o impacto postivo em mim causado por esse drama. Bem, suponho ser um drama. Infelizmente, não consegui diferençar nenhum ator, mas são todos dignos. Dormi na metade e perdi algumas mutilações. Até agora, por ser o primeiro filme em competição que vi, é o meu franco favorito para ganhar o troféu do festival (uma cabeça moai de madeira com 75 cm de comprimento).

A Selva (hors-concours)
Vocês perderam, também. Finalmente pude conferir o resultado das filmagens na Rua Bernardo Ramos, que o ex-prefeito Buchada tentou "revitalizar" e na praça da Manaós Tramways, que o Decarlão ganhou de presente do Amazonino e depois destruiu. Este filme lusitano foi rodado em Panavision. Isso significa: grana, muita grana, ó pá. Em termos de produção, chuchu beleza. Mas o resultado artístico geral foi irregular (gostei desse chavão).Não gostei do Cláudio Marzo (o eterno senhor de engenho e congêneres) dizendo com toda pompa: "isso aqui é a Selva!". Por sua vez, o gajo protagonista não tinha carisma algum. Pudera, o cara se chama Diogo Morgado. Dormi mais ou menos aos oitenta minutos, perdendo uma cena de sexo com animais. Gostei mesmo da Dona Yayá da Maitê Proença. Mas isso já é praxe.Vocês não fazem idéia do tamanho do Q.I. da Maitê (atenção: não estou sendo irônico).

 

28 novembro, 2004

Frase da Semana
Por Fran Pacheco

"Vou procurar um emprego."
Do ex-deputado Cordeirinho.

Este self-made-man teve o mandato cassado, mas não por ter ajudado a desviar 500 milhões de reais em licitações fraudulentas, e sim por ter falado mal de seus colegas, nas conversas grampeadas. Nada demais nisso: pegaram Al Capone por um erro na declaração do Imposto de Renda. Mesmo de licença médica, Cordeiro apareceu na Assembléia, depois de 3 meses de ausência, aparentando excelente saúde. Só por essa mentira já devia ter sido defenestrado.

Graças à votação secreta, o nobre vigarista obteve 6 nefastos votos contra a cassação (quem foi? quem foi?). Precisava só de mais um para escapar. Foi por pouco. Muito pouco. Quero saber quem foram os seis Bons Companheiros interessados em salvar o Cordeiro. Se eu fosse o ACM, vulgo Toninho Malvadeza, já estaria com a lista da votação em mãos. Como não sou, deixo a pergunta no ar, para especularmos.

 

Diário póstumo de um cinéfilo (1)
Por Fran Pacheco

Não conta pro Robério não, mas está todo mundo no Festival de Brasília. Como não conheço nenhum médium por lá, fico por cá, a ver o nosso (dele) Festival. O eterno secretário da Cultura Roberiana, astuto como só ele em matéria de números, emplacou na imprensa nacional que será um festival com 148 filmes. Repetindo: 148 filmes! Leon Kakof e sua Mostra de São Paulo que se cuidem.Nem vou estragar a festa do secretário dizendo que deste montante, 92 são os tais vídeos de 1 minuto. Vão passar nos terminais de ônibus, local ideal para o povão se divertir (ou não) durante uma hora e meia de projeção enquanto o busão não chega.

Às voltas com pendências no meu espólio e com tentativas de exorcismo contra o médium responsável por este blogue, não pude baixar na grande cerimônia de abertura. Irmão Paulo, com seu bem conservado crachá do Estado de São Paulo, entrou lá e viu tudo. Vem chumbo grosso por aí.

Vou me esforçar, doravante, para assistir a todos os filmes com mais de quinze minutos. Pagar, eu não pago entrada mesmo. Quando em vida já era assim, eu nunca pagava. Eu vinha com aquela cartola e um ar imponente de Kaiser, que esmigalhava com o olhar o moleque da bilheteria, e ai dele se me pedisse o ingresso. Ai dele! Hoje, em estado etéreo, as coisas estão mais fáceis. Ai de quem benzer a entrada do cinema e tentar deter minh'alma.

 

27 novembro, 2004

Onde ando
Por Fran Pacheco

Eu não morri. Pelo menos, não como blogueiro. Volto hoje ou amanhã, com uma nova infâmia. Por enquanto vou "respirar cinema" na "capital mundial da sétima arte". Cannes? Veneza? L.A.? Gramado? Não: Manáos.

(As aspas são justiça aos clichês utilizados por um jornal local e por press-releases da Agência de Comunicação do Amazonas.)

 

21 novembro, 2004

Cinemamorto assombra festival do Robério
Por Stella Maris - especial para o Club


Filmadoras portáteis de última geração serão as vedetes do festival de cinema dos Terríveis.

Mal o Secretário de Envernizamento Cultural do Amazonas, Mr. Robberyous Braga, anunciou o seu "I Festival Megalomaníaco de Cinema do Amazonas", e já surgiu um forte concorrente às suas pretensões de realizar "o maior festival de cinema do Brasil". Em aparição coletiva capitaneada por Fran Pacheco, no Centro Cultural Chico Xavier, um grupo de espectros de agitadores culturais anunciou oficialmente o "I Festival Mediúnico de Cinema de Desventuras do Amazonas."

Com curadoria do defunto cineasta Glaubério Rocha, a mostra reunirá toda sorte de produções abortadas ou assassinadas antes ou durante a produção, pelos motivos mais variados: a maioria por ser ruim mesmo. Outras, por serem "ousadas demais para o seu tempo". Várias por terem torrado todo o dinheiro do financiamento público na compra das coberturas duplex de praia de seus cineastas.

Glaubério - sempre falando pelos cotovelos - disse ter priorizado produções "anárquicas! Pós-modernas! Distópicas! Anti-imperialistas! Qualquer coisa que rompa com essa linearidade quadrada do discurso! E sem foco! Sem foco! Que foco é coisa de burguês!" Será uma oportunidade única para se conferir esse material. Gláuberio se empolga com a exclusividade: "com 100% de certeza esses filmes jamais serão vistos em nenhum outro lugar! Nenhum!"

Fran Pacheco explica que a mostra será realizada em pontos alternativos e "descolados", como a capela da Santa Casa, o necrotério do IML e diversos varadouros e encruzilhadas da cidade. O público pagará uma "modesta quantia, para manutenção de nossos sarcófagos" e em troca receberá uma dose de Santo Daime. "Sem esse cocktail de ayahuasca será impossível aos viventes tomarem contato com delírios audiovisuais do além-túmulo."

Ao final da mostra, a obra malograda mais execrada receberá o prêmio "Guilherme Fontes", escultura na forma da cabeça chata do Chatô - o Rei do Brasil. Fontes avisou que só vem ao festival se o Governo "arranjar mais seis milhões de dólares. Só quero mais seis milhões para concluir o meu filme e o piso de mármore da minha cobertura."

Confira abaixo a programação da mostra competitiva e prepare sua mente e seu estômago para essa maratona de cinema-arte:


  • Tabatinga, Mon-Amour - Clássico da Nouvelle Vague Baré, um filme com começo, meio e fim, não nessa ordem. Trilha sonora inesquecível do mímico Marcel Marceau.
  • O Último Tango em Parintins - A famosa "cena da manteiga" levou o governador Jânio Quadros a um ataque de gota e à proibição eterna deste clássico do "cinema de sacanagenzinha soft-core".
  • Je Vous Salue, Maninha - Filme-escândalo de Jean-Luc-Clochard, misturando fundamentalistmo religioso e Kama-Sutra, sob o ponto de vista de uma desinibida cunhã-poranga praticante de Kundalini Yôga. Foi proibido de ser rodado em todos os países do mundo.
  • O Ano Passado em Marabá - Aclamado pela crítica como "o filme mais chato de todos os tempos". Nenhum ser humano jamais conseguiu ver na íntegra suas oito horas de longos e silenciosos planos em preto e branco representando a busca de um protagonista anônimo por algo que se supõe ser o sentido da vida ou a chave de seu apartamento.
  • Rimbaud Programado Para Matar - Veterano-traumatizado da guerra Franco-Prussiana, Arthur Rimbaud dedica-se a exterminar poetas concretistas e vanguardistas, num jorro de sangue simbolista em sonetos e elegias, uma verdadeira temporada do inferno.
  • A Merreca Furada (Vol. I) - Faroeste tosco de Hong-Kong, rodado na mata amazônica, com muita mulher pelada e palavrões dublados porcamente em italiano. Representante máximo do gênero Yakisoba-Western, o filme de cabeceira de mestres como Quentin Tarantino e Hermes & Renato.

Para o público infantil e de trintões saudosistas, será exibido o clássico absoluto da Sessão da Tarde Amazonense:

  • A Fantástica Fábrica de Cambalachos - com Nino Mazonka no papel do ex-governador-prefeito-senador que vive recluso em seu castelo, rodeado pelos prestativos anõezinhos barrigudos, os Lamby-Coos. Em cartaz durante vinte e dois anos, acaba de ser proscrito dos cinemas locais. Foi substituído pela comédia mambembe "É dos Carecas que Elas Gostam Mais".

Faremos a cobertura completa do evento. Divirta-se, mas com moderação. Cinema de arte em excesso, em particular o iraniano, faz mal à saúde.


 

19 novembro, 2004

Estado de Direito o cacete!
Por irmão Paulo

Há um animal que escreve n'O Estado do Amazonas e que, em meio à defesa de certo nome para a pasta da segurança, desmerecendo gratuitamente os outros (de igual quilate) que estavam sendo especulados, argumenta que a Polícia Federal renasceu no governo Lula, com mais espaço para trabalhar, dentro das normas que disciplinam o Estado de Direito.

Em seguida, ainda reprovando os nomes não provincianos que eram especulados, relembra, em suas palavras, "a desastrada invasão da Comissão Geral de Licitação", onde o princípio federativo (sic) teria restado ofendido. E tome-lhe a defender o nome da província.

As duas afirmações acima transpostas - a PF age dentro do Estado de Direito e a invasão desatrada do órgão público com ofensa ao princípio federativo - são conflitantes e incompatíveis. Os Petelhos, meus queridos, não estão nem aí para Estado de Direito - talvez tirando alguns phd's que ainda resistem nas fileiras vermelhas, não sabam nem o que é isso. É bom lembrar, inclusive, que na idolatrada Cuba e na União Soviética, de saudosa memória, não há falar em Estado de Direito.

Dirceu é um homem violento. Lula, mesmo maquiado por Duda Mendonça, guarda a revolta de uma vida de exclusão. Há certo consenso de que se os comunas tivessem levado a parada, e instalado um regime autoritário semelhante ao dos camaradas soviétes, teríamos tido muito mais mortes do que as promovidas pelos jecas verde-oliva.

De minha parte, desprezo o nítido cunho político que Herr Bastos e Herr Dirceu, com o placê do Comandante Lula têm imprimido às ações da PF. De miha parte, desconheço que a PF atue dentro do Estado de Direito (invadindo casas, amedrontando famílias, invadindo órgãos à revelia do ente estatal sobre eles soberano etc.). De fato, desconheço que vivamos, no Brasil, pleno Estado de Direito, quando tantos direitos nos são negados por ilegítimas razões econômicas - até o direito de ir e vir, pra quem não tem dinheiro para pagar uma passagemd e ônibus!

Atrapalhada e cheirando à ilegalidade, a invasão do órgão e a ação da polícia, findou num resultado positivo. Aí o Jeca pergunta: Se foi positivo, qual a crítica? Onde o direcionamento político? E respondo que não é possível grelhar o Cordeiro, sem fisgar o boto ou seu esfumaçar a abelha mestra. Não faz sentido, nem pode ser séria, uma iniciativa que exclui da lista de investigados o supercorrupto Alfredo Nascimento, cuja Corrupmissão de Licitação onde tudo era, e deve continuar a ser com o Galo Velho, 100% combinado. Pergunte-se a qualquer comerciante ou empreiteiro. Quando do Reinado galináceo à frente da Secretaria Municipal das Finanças havia o que se convencionou chamar - Taxa Carijó, sob as barbas e, ao menos, omissão do Arigó Nascimento.

Assim, caríssimos, não dá pra levar a sério essa PF e nem o jornalista, que deve ter levado uma ponta (nem que tenha sido da faca do patrão) para defender uns e outros, mesmo dando em holocausto a já combalida credibilidade. E foda-se!

 

18 novembro, 2004

Direito ao foda-se
Por irmão Paulo

Transcrevo texto do Millôr Fernandes, humorista, teatrólogo e jornalista carioca, que expressa, com algum brilhantismo, o que penso acerca do tema:

"Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?

No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não, absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.

Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um "é PhD porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!". O "porra nenhuma", como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos "aspone", "chepone", "repone" e, mais recentemente, o "prepone" - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato "Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por ílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um "puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo.Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? E sua maravilhosa e reforçadora derivação "vai tomar no olho do seu cu!". Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: "Chega! Vai tomar no olho do seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!". Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? "Fodeu de vez!".

Também seria tremendamente injusto, em que pesem ainda inexplicáveis e preconceituosas resistências à sua palavra-raiz, não registrar aqui outra expressão de grander poder de definição do PV (português vulgar): "Embucetou!". E sua derivação : "Embucetou de vez!". Trata-se outra definição exata, pungente e arrasadora para uma situação que tambem atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, como a anterior, que uma vez proferida, insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto defesa. Algo assim como o comentário de um vizinho para a sua esposa, ao sacar que no auge da violenta briga do casal da residência ao lado, chegam se súbito a amante, o filho espúrio e o cunhado bêbado com o resultado do exame de DNA: "Fecha a porta, que embucetou de vez!".

Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!" que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo? Então foda-se!". "Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se."

 

Djavaneando
Por Fran Pacheco

Estou seriamente propenso a baixar no Show do Dijavã, neste sábado, desde que Hedozinha e Stellita topem fungar no meu cangote, em revezamento, enquanto me delicio com os meus versos metafísicos favoritos (sintam a profundidade):

Açaí, guardiã
Zum de besouro um ímã
Branca é a tez da manhã.

A todos os fãs e incautos que lotarem o evento, um conselho: fiquem alertas, e vejam se aquele no palco é o próprio "Homem que Fala Djavanês" ou seu fiel escudeiro, Jorge Versículo, camuflado de Whoopi Goldberg. O Dijavã verdadeiro é um bom sujeito. Fez muita coisa boa. Mas também fez esses lapidares versos românticos:

Tudo que Deus criou pensando em você
Fez a Via-Láctea, fez os dinossauros...

Experimenta cantar isso pra tua pequena, no Museu de História Natural, defronte à ossada de um pterodáctilo. Vai pintar um clima, com certeza, mesmo que seja de filme kung-fu.

Mas, a bem da verdade, o que eu quero mesmo é curtir a mais profunda música do cancioneiro brasileiro. Descobri essa pérola por indicação do blogueiro Ruy Goiaba. O nome da obra é "Obi". Vou usar de todos meus poderes espirituais para induzir o menestrel a cantar esses versos imortais para o público baré:

Obi
Obi, Obá
Que nem zen, czar
Shalon Jerusalém, z'oiseau
Na relva rala
Meu arerê
Tombara
Ali, Alá
Logo além
Nem lá
Logum
Pra cá ninguém faraó...


Pára! Vou parar, antes que meus finados neurônios entrem em curto e os leitores mais empolgados peguem o seu sarongue, fiquem odara e saiam por aí querendo devorar Caetano. Ou não.



 

16 novembro, 2004

Aviso de Inutilidade Pública
Por Fran Pacheco

Os familiares daquele que em vida política se chamou Amazonino Armando Mendes, ex-Governador do Paiz das Amazonas, convidam a todos os amigos, cúmplices, testas-de-ferro, jagunços, xerimbabos e puxa-sacos renitentes para uma sessão fúnebre de cumprimentos pela passagem dos seus 65 annos, a realizar-se no decorrer do dia, na Funerária Almir Neves.

A todos os que comparecerem, a família agardece por este acto de fé e piedade cristã.


 

15 novembro, 2004

Incógnita
Por irmão Paulo

Muitos ajudam a espalhar os boatos sobre seres voadores que povoam os montes verdes de além do deserto e do pântano. Eu não creio em sua existência. E não deve ninguém crer. Dizem também que eles voam com a rapidez do pensamento. Basta querer estar em um lugar e imediatamente se transportam. Isso, como sabemos, é impossível. Nenhum corpo resistiria a uma aceleração e parada tão imediatas. A inércia é implacável.

Lá para os lados da fonte seca, vez por outra, uma dessas criaturas aparece. Mas de um jeito estranho que só alguns conseguem ver. Para mim essas aparições nada mais são que alucinações. O Homem não foi feito para voar e não voa. Devemos cumprir nossos destinos assentados no solo. Eu trouxe Kahlil, único a regressar da expedição aos montes verdes. Kahlil nos revelará a verdade. Kahlil.
Os montes verdes não existem, são uma lenda. Meus companheiros foram tragados por uma misteriosa e poderosa força. Chegando ao fim do pântano, encontramos uma intransponível floresta de espinhos. Meus companheiros de jornada, quebrando as leis, em desespero, choravam e pediam ajuda a Deus. E eu dizia, Deus não existe. E um a um eles foram desaparecendo. Engolidos por uma assustadora luz. Só, voltei à nossa cidade para prevenir meus irmãos.
Nunca devemos quebrar as leis. Nunca devemos ultrapassar os limites da cerca púrpura. A luz que brilha lá fora cega e mata o que somos. Se quisermos permanecer como estamos, devemos ficar aqui. A caverna é o único lugar seguro.

 

Dedos de Borboleta
Por irmão Paulo

Carmem Miranda não foi apenas a primeira (e talvez a única verdadeiramente) artista brasileira a atingir o estrelato mundial inquestionável. De Pequena Notável à Brazilian Bombshell, essa portuguesa de Marco de Canaveses, levou a música popular brasileira – o Samba – aos píncaros da glória, como diz a letra-drama de Vicente Celestino. Mas sua persona artística abaianada, com a qual conquistou o mundo, parece o menos importante aspecto de sua vida artística e, certamente, o menor de seus feitos.

Carmem Miranda não apenas, como se diz, traduziu o samba - música de negros, para uma audiência branca, mas criou o jeito brasileiro moderno de cantar, estabelecendo com sua afinação e irreverência vocais um novo padrão para as cantoras nacionais. Desbravadora, abriu caminhos, influenciou direta ou indiretamente tudo e todas que vieram depois dela. Por igual transformou em ouro comercial e artístico quase tudo que cantou. Músicas como Taí, Tico-Tico no Fubá e Mamãe Eu Quero Mamar fazem parte da memória nacional e da história do carnaval brasileiro, se me permitem a citação bastarda, por não lembrar mais a autoria.

Afora a faceta carnavalesca, tem mais, Na Baixa do Sapateiro, No Tabuleiro da Baiana, O que é que a Baiana Tem?, Cantoras do Rádio, Balancê, Camisa Listrada, Recenseamento, E o Mundo não Se Acabou, Tic-Tac do meu coração, Adeus Batucada, Chegou a Hora da Fogueira, Alô... Alô?, Isto é lá com Santo Antônio, Anoiteceu, Novo Amor, Gente Bamba, e muitas e muitas outras, resistiram ao teste do tempo, foram gravadas e regravadas por gente como Elis Regina, Gal Costa e Chico Buarque, sem, no entanto, superarem a gravação original, porque definitiva. Maria Alcina, Gal, Clara Nunes (na expressão corporal), Rita Lee e, em alguns momentos sublimes, Elis Regina são pura Carmem Miranda – seus trejeitos vocais, risadinhas, brejeirices. Sem ela, nada do que vivemos teria sido possível ou, pelo menos, tão fácil.

Gênio da raça, lançou moda e criou os tamancos plataforma – hoje sucesso mundial. Aurora Miranda, em depoimento emocionado, testemunhou a criação do adereço. Foram ambas ao sapateiro e Carmem pediu que fizesse um par de tamancos com solas inteiras. “Mas Dona Carmem”, teria argumentado o sapateiro, “esse tipo de sola só se faz para quem tem uma perna menor que a outra”. Do alto de seus 1,53m de altura, teria respondido a Pequena Notável, “Cale a boca e faça o qu’estou mandando”. Estava criado o tamanco Plataforma.

Carmem foi um fenômeno original, de puro talento e energia, aproveitado pela política da boa vizinhança, desenvolvida pelos Estados unidos da América, que a levou às telas de cinema. Utilizada pela máquina de propaganda de Getúlio, que seja. Mas Carmem foi mais, brigou contra o baixo-astral brasileiro e contra nossa constante crise de auto-estima. Enfrentou a indiferença popular, ao retornar (dita) americanizada e a consagração popular. Com o encantador sotaque português, a alegria sincera e dedos como borboletas voadoras (segundo a Revista Vogue), Carmem conquistou a América. Essa notável cantora, bailarina e atriz merece de nós mas que a lembrança da moça com bananas na cabeça, mas a reverência de mãe da música popular brasileira moderna.


 

Canção para uma Senhôra de 115 annos
Por Fran Pacheco


Nossa aniversariante do dia,
a Meretríssima República da Botocúndia,
em traje de gala . (Inteiraça, não acham?)


Minha República tem duas tetas
Onde mamam os marajás;
Os urubus que aqui rapinam,
Não rapinam como lá.

Nossa Lei tem mais brechas,
Nosso Erário tem mais plata,
Nossas repartições têm mais cabides,
Nossos cabides, mais aspones.

Em locupletar-me - sozinho, ou em bando -
Mais bufunfa encontro eu lá;
Minha República tem mutretas
Que deleitam os carcarás.

Minha República vende favores,
Que é um toma-lá-dá-cá;
Em locupletar-me - sozinho, ou em bando -
Mais babita encontro eu lá;
Minha República tem duas tetas
Que empanturram os marajás.

Não permita Zeus que eu morra*
Sem que eu ganhe uma sinecura;
Sem que desfrute as regalias
Que não encontro eu por cá;
Sem qu'inda mame nas tetinhas
Onde mamam os marajás.

(*Com a devida licença poética, pois morto já estou.)


 

Que República de Mierda é essa?
Por Fran Pacheco

"Viva Sua Majestade o Imperador!".
Marechal Deodoro da Fonseca, aos 15 de novembro de 1889.


O brasileiro é um feriado, repete-me irmão Nelson Rodrigues. Cabe explicar o porquê de mais esse pretexto para vagabundagem cívica chamado 15 de Novembro.

Convenhamos, uma republiqueta supostamente proclamada por um monarquista convicto jamais poderia ser levada a sério. Jamais poderia dar certo. Digo "supostamente proclamada" porque a verdade cristalina dos fatos é essa: Manoel Deodoro da Fonseca (foto), o Generalíssimo (apelido depois imitado pelo ditador castelhano Francisco Franco) fez de tudo, naquele fatídico 15 de novembro de 1889. Menos proclamar a tal da república.

- Um cadete teria esboçado um "viva a República" na ocasião. Mas foi só. Deodoro repreendeu com rigor o fedelho.

Que diabos queria o Generalíssimo Manoel? Pura e simplesmente escorraçar o Gabinete do Visconde de Ouro Preto, hostil aos milicos. Mas o que o levou, febril e acamado que estava, a ceder aos apelos dos ressentidos fardados e liderar a quartelada? Alguém (e dessa vez não fui eu) soprou ao Generalíssimo que o Ouro Preto seria substítído pelo gaúcho Silveira Martins para chefiar o gabinete. "O Silveira, não!", pensou consigo o Maneco, lembrando da Adelaide. Explico: em tempos passados, Deodoro e Silveira disputavam os encantos da alcova de D. Adelaide, viúva alegre e prestativa, na pujança de seus 34 anos. Silveira acabou por levar a melhor na parada, ganhando a inimizade eterna de nosso "Proclamador".

Quadrinha da época, que corria à boca pequena no Rio de Janeiro:

Papagaio come milho,
Coruja bebe azeite,
Mas a pomba da Adelaide
Come carne, bebe leite...


Pois foi pensando na remota e para sempre perdida pomba da D. Adelaide que Deodoro (muito fulo) subiu no cavalo e seguiu com a tropa para o campo de Sant'Ana. Ouro Preto foi preso, dois tiros foram disparados e só. Deodoro saudou o Imperador e foi-se embora. Nas ruas, niguém entendeu patavinas.

A tal república foi criada naquela noite, quando os conspiradores aproveitaram a deixa, o vácuo de poder, para aposentar de vez o velho Imperador. Logo ele, um homem tão culto (falava sânscrito fluentemente, mesmo sem ter com quem praticar). Cambada de milicos positivistas... Milico positivista foi um dos grandes paradoxos do meu tempo, já que a doutrina de Auguste Comte (a do "Order and Progress") associava a Monarquia ao estágio teológico-militar, uma etapa a ser superada. Coisas do Bananão. Os "milicos positivistas" (rárárá) mandaram o bom velhinho embora, pra morrer na França (por que sempre na França?). Ele & família, incluindo o Conde d'Eu (pra quem, senhores, pra quem?).

O legado disso? Bem, o massacre de Canudos, as Revoltas da Armada, a Revolução Federalista esmagada na base das "cabeças cortadas a facão", a carnificina do Contestado, a ditadura do café-com-leite (regime nem de longe sequer assemelhado a qualquer coisa próxima de uma democracia representativa). Lampião & Padim Ciço. O golpe de 30, que gerou o golpe de 36, com Estado Novo e tudo. A Gloriosa de 64. O município de Presidente Figueiredo. Os fiscais do Sarney. Um cocainômano Collorido. E toda sorte de estelionatos eleitorais sociológico-metalúrgicos.

Fazer o quê? Curtir o feriado, ora pois. Dá pra imaginar um Império Tropical do Bananão, hoje, se o Deodoro não tivesse levantado da cama naquele dia? Não teríamos esse feriado. O feriado seria o aniversário d'El Rey. Um playboy qualquer, Pedrinho de Orleans & Bragança Ltda. Pós-moderno e metrossexual, casado com uma ex-mulata do Sargentelli. Quem sabe, D. Solange Coito. E os Dotô seria tudo Barão. Bom enredo para um samba do monarquista doido.

 

12 novembro, 2004

Sabedoria do Além (4)
Por Fran Pacheco

"Ser alegre numa terra tão miserável é o mesmo que,
num velório, acender o cigarro no círio do morto."
Irmão Nelson Rodrigues* (1912-1980)
* em negociação com o ECAD para ingressar no Club.

 

11 novembro, 2004

"Ele não é inocente. Ele é ingênuo."
Domingos Chalub, advogado,
a respeito de seu cliente: Deputado Cordeiro.
(Lembram dele?)

 

Das conseqüências geopolíticoeconômicas da morte do Ará
Por Fran Pacheco

Se Azazel Sharon & Bush Filho vão se empanturrar de pretzels gigantes para comemorar secretamente; se haverá comoção e histeria nas mesas da boate Gaza Strip, com casos de combustão e explosão espontânea de barbudinhos; se as pompas fúnebres contarão com uma salva de homens-bomba; se a viúva do Ará será a nova Yoko Ono; se o turbante que ele implantou na cabeça vai ser leiloado na Sotheby's junto com o boné do Milton Nascimento, nada disso me diz respeito. O que me concerne é que eu perdi a aposta. Eu tinha certeza que a Viúva do Che bafuntaria antes. Certo que nem sinal do Ará aqui por cima, mas aposta é aposta. Perdi porque acreditava cegamente na moderna medicina francófona, em contraste com a degenerescente medicina cubana (dizem que o Médico da Família veio de Sierra Maestra). Acreditei, pobre de mim, que o Ará-Vegetal duraria longos anos, plugado em sofisticados simuladores de vida. E acreditei que a fratura furreca do Fidel degringolaria numa falência múltipla de seus órgãos estatais, como é praxe em fósseis-vivos que caem por aí.

Só me resta pagar o mico e refazer as apostas. O próximo? Niemeyer, mano, não vais falhar comigo!

 

Historietas de Manáos (1)
Por Fran Pacheco

"Ponte Metállica da Cachoeira Pequena "

Não, não se trata de nenhuma emulação da coluneta bissemanal que o Berinho publica no jornal dos Kane. Até porque Mr. Robberyous fala de coisas do arco-da-velha baseado em relatos, livros mofentos e chute. Eu não. Eu estava lá.

Estava, quando o governador mulato-maluco-beleza Eduardo Ribeiro (O Pensador) detinha-se melancólico, com o cavalo parado à beira do Igarapé da Cachoeirinha. Para sair do Palácio do Governo, ali na Praça D. Pedro I (hoje em decomposição financiada pelo Monumenta) e chegar nos arrabaldes da Cachoeirinha, só pegando uma catraia. A cavalo, nem pensar. Isso pelos idos de mil oitocentos e noventa e pouco.

Ganhei muito dinheiro naquela época. Libras (do tipo esterlinas) de uns trouxas ingleses na mesa de bilhar do Hotel Cassina. A coisa mais fácil do mundo é ganhar de bêbado no bilhar. E meu organismo era imune a várias doses de Joãozinho Caminhante e absinto. Meus negócios eram sortidos e, em geral, controversos. Eu era, além de anarquista, uma espécie de lobista desses súditos da Rainha Vitória (e a véia não morria). Sabia que o governador queria ordem e progresso, e a bufunfa era tão farta que acendia até charutos (eu vi). Com a palavra, Ribeiro: "Posso afirmar que os recursos de nosso Estado são inexgottaveis!"

"Então, Excelência", eu dizia, "somos os caras certos para resolver o seu problema e o da cidade. Quer ligar o Centro ao cafundó chamado Cachoeirinha? Façamos a ponte, pois!" Nesses momentos, ele entrava em surto e imaginava não pontes, mas túneis sobre os igarapés. Queria túneis com marias-fumaças passando por baixo de tudo, tal e qual o metropolitano de Londres. Eduardo Ribeiro hoje é nome de avenida e hospício.

Entre um surto e outro eu o convenci a fazer a ponte metálica que hoje está lá. Sugeri chamá-la de Ponte Mikhail Bakunin. Entenderam Bacuri. Batizaram de Benjamin Constant, um porco positivista que era ídolo dos milicos da época (Eduardo incluso). Bem, deu pra ganhar um bom dinheirinho, sim. Hoje passa um esgoto embaixo. Mas qual não foi a alegria dos cidadãos manauaras no dia da inauguração!

E qual não foi a alegria de Eduardo Ribeiro, naquela mesma noite, passado o festejo, quando enfim pôde atravessar a ponte a cavalo, para encontrar-se com sua fogosa amante, que morava do outro lado.

(Em breve: como criei a cúpula do Teatro Amazonas.)


 

09 novembro, 2004

Vossa Excrescência, o Dotô
Por Fran Pacheco

Agora, me informa São Stanislaw, tem prédio na Cidade Maravilhosa em que os funcionários e condôminos estão obrigados, por decisão judicial, a tratar um certo morador, que é juiz, não mais de "Seu Fulano", mas de "Doutor" ou de "Excelência". Isso é fato.

Eu, se vivo fosse, só acataria uma norma dessas com uma condição: que o referido juiz usasse toga (de preferência vermelha) e peruca cacheada e platinada o dia todo, inclusive na sauna e na churrasqueira do prédio. Aí, sim, a gente poderia conversar, uma cervejinha na mão: "Ô, Excelência, e o Fla-Flu, hein?" Não acredito em juiz sem peruca, à paisana (pero que los hay, los hay). Se quer ser tratado como Juiz, o sujeito que se dê ao respeito e ponha-se nos trajes devidos. Mas rapaz...

(Uma objeção de peso seria o calor dos trópicos, a inviabilzar o uso diuturno da toga. Mas para isso poderia ser criada a mini-toga, a 'toguita', terminando dois palmos acima do joelho. Aí o sujeito escolhe: ou depila as pernocas, a bem da estética pública, ou usa meias vermelhas até os joelhos, no melhor estilo highlander-bunda-mole. Um luxo só.)

 

08 novembro, 2004

Biografia parcial de Marta Suplicy
Por irmão Paulo

Maria Marta nasceu em 1909, em Buenos Aires, Argentina.

Já no fim de 1909, o seu pai mudou-se para o Brasil, à procura de uma vida nova. Assim que se instalou, mandou buscar a família. A Evinha, como era chamada Maria Marta, cresceu no meio do samba Paulistano, até seu pai melhorar de vida, trocando a família de ambiente e pondo Evinha para estudar no colégio do Sagrado Coração.

Aos 30 anos, começou a trabalhar como conselheira sentimental. Primeiro no jornalzinho da escola, depois dando consultas na sala de estar de sua mãe. Daí pro sexo, foi um pulo. Com 36 anos, já tentando largar aquela vida desregrada, tentou trabalhar como vendedora de gravatas, mas ficava sexualmente excitada durante todo o expediente, pois para ela as gravatas eram símbolos fálicos muito evidentes. Entretanto, foi nesse emprego que conheceu Dudu, seu primeiro namorado, então com pouco mais de 15 primaveras. Dudu, que havia sido campeão de Remo, enfeitiçou a bela senhora e ela, com sua experiência e ar maternal, conquistou a ele. Nesta época, mudou o seu nome para Marta Suplicy (sobre nome do garoto Dudu). “A ... Marta... é... é... a ... minha i... é... minha iniciadora. Eu... a... aprendi tudo... tudo... com ela... “, declarou, depois de muitos anos, o já Senador Dudu.

Convidada para um programa de rádio de aconselhamento sentimental, foi descoberta por Ney Gonçalves Dias, que a convidou para gravar um teste na Globo, que se tornou sua primeira experiência televisiva, um quadro de sucesso que abordava questões leves do tipo como obter um orgasmo clitoridiano mais forte, fazer ou não sexo anal, a importância da lubrificação vaginal durante o ato sexual, a necessidade de ter orgasmo etc. O sucesso transformou-se num contrato com a HUSTLER, fazendo-a ganhar mais fama e tornando-se a lourinha assanhada.

Passou um ano e meio até ao seu regresso ao Brasil – período no qual, para desespero de Dudu, viveu com este um casamento aberto. Um grande estrondo na sua chegada – trazia um filho nos braços que alegava ser de Dudu. O menino era loirinho, como a mãe e maquiado, como a mãe. Chamou-se Supla, em homenagem ao ansiolítico que o pai usava à época.

Depois de muitas indas e vindas, e mais de ano a fazer e refazer plásticas e liftings mal-sucedidos, Marta Suplicy arrisca a carreira política, montada nos cornos do marido e se elege Deputada Federal. Tem uma atuação inexistente e logo percebe que não pode deixar-se descobrir incapaz. Pula da Câmara Federal direto para eleições perdidas, findando por ser eleita prefeita de São Paulo. Começa o auge da política da boa vizinhança. Ela torna-se a musa do PT, promovendo a bandeira vermelha e todos os lugares.

Marta Suplicy sempre sonhou em fazer outros papéis, maiores e mais criativos, mas estava presa pela imagem de sexóloga e ninfomaníaca. E com o fim da campanha presidencial, a política de boa vizinhança perdeu força. Não havia mais pressão sobre filmes para a América Latina. Marta tinha a sua grande oportunidade, mas precisava de ser rápida para não perder o seu prestígio. Imediatamente viaja ao exterior para remodelar o queixo, os olhos, diminuir as orelhas e desentortar os lábios. Em seguida, dá o cartão vermelho ao Sen. Dudu, e vem a lume a figura sinistra de um Franco-argentino cenominado Lê Fevre, mas não o cardeal. Sob as orientações de Duda Mendonça, comprou uma casa nos jardins, para a qual levou sua coleção de objetos sadomazoquistas, casou-se formalmente com Lê Fevre sob as bênçãos chorosas de Sen. Dudu e com o apadrinhamento do Presidente da República. Todos os que trabalhavam e conviviam com ela a amavam, achavam-na uma ótima pessoa – apesar de estranharem aquela boca enorme. O casamento reuniu a nata da sociedade decadente paulista, mas nenhum membro de sua família, que eram contra o casamento, pois percebiam o puro interesse da parte dele. Lê Fevre era duro, ríspido quando eles estava a sós irritava-se muito facilmente e expressava sua irritação muitas vezes fisicamente com ela. Um dos olhos de Marta chegou a ficar definitivamente menor que o outro e a sobrancelha arqueada eternamente.

Então ela começou a ficar doente e deprimida, mas disfarçava com óculos gucci, roupas de grife e almoços e jantares no Antiquariu’s, um dos cinco restaurantes mais caros de São Paulo. O casamento já havia acabado, mas ela era impedida de separar-se por pressões da sociedade e porque, afinal de contas, quem iria come-la.

Nessa época fazia duas aparições diárias públicas, para mostrar que ainda estava viva. Elas eram cansativas, exigiam que Marta usasse Helicóptero (para cumprir o protocolo) e gastasse horas para ajustar sua pálpebra postiça. Porém, como tivesse muito medo do transporte, ela ficava agitada e, para conseguir dormir, tomava calmantes. No começo 2, e no final, 10. Quando acordava, estava zonza e para despertar, tomava estimulantes.

Atormentada pelos problemas domésticos e pelos remédios, Marta teve um colapso nervoso. Depois de 03 anos longe, ela voltava à Prefeitura e decidia ser candidata à reeleição. Ainda dentro do helicóptero, arrumou-se para parecer bem ao público. Por ordem judicial, ocupou sua sala mais não assinou nenhum papel, durante várias semanas. Sofria de depressão aguda. Tinha crises de ansiedade ao olhar pela janela do escritório e ver a propaganda eleitoral de José Serra e ver o mundo à sua volta tucanar. Estava desorientada pelos tratamentos de choque, abalada e com a memória prejudicada, tanto que decidiu aliançar com Paulo Maluf no segundo turno. Mas nada foi suficiente para dar-lhe a reeleição. Martaxa perdeu do Vampiro Serra. E perdeu feio.

Então, do fundo de sua dor, cercada pelos amigos e pela família, ela começa a dar sinais de vida e melhora. Ganha uma embaixada de presente do presidente Lula e parte para a Europa, em companhia de Lê Fevre e suas amantes. Aos 90 anos, assume a embaixada do Brasil na França de onde só há de retornar morta. Ou demitida.

 

Divisor de águas
Por irmão Paulo

Ele é pretensioso, arrogante, grosso, traiçoeiro, mandão, destemperado, mordaz, irônico, dono da verdade. Amado e odiado em igual intensidade, ele tocou a criação da Amazonas Filarmônica, do Corpo de Dança do Teatro Amazonas, do Festival de Ópera, a revitalização dos grupos de teatro locais – com a criação de novos espaços, a implantação do Centro de Ensino Cláudio Santoro, do Museu da Imagem e do som, capitaneia o maior projeto editorial de todos os tempos no Amazonas, coordena a maior iniciativa de preservação e restauro do Patrimônio Histórico e Cultural de Manaus - cuidando da restauração do Palácio da Justiça e do Palácio Rio Negro (agora centro cultural) e seu entorno, da Catedral de Manaus, além da fachada das casas no entorno da Praça Sebastião e do próprio Teatro Amazonas. Ele é Robério Braga, historiador e escritor, Presidente do IGHA e da Academia Amazonense de Letras, Secretário da Cultura e, goste-se ou não dele, um divisor de águas no que diz respeito às iniciativas e políticas públicas culturais no Amazonas.

Discorde-se da política cultural do governo nos últimos anos, critique-se a indisfarçável filosofia circensis que cerca a maior parte das iniciativas culturais – fazendo com que o populacho pasme acompanhando os acontecimentos e paralise no aguardo da “próxima atração”, xingue-se o Festival de Ópera por incompatível com nossos hábitos culturais (poucos ousam agora), a contratação de músicos europeus (como fez antes Eduardo Ribeiro para a inauguração do Teatro Amazonas), goze-se da charrete da Roberiolândia (como fez o Ribamar), critique-se o valor dos cachês (como fez o Atum), conteste-se o volume de recursos destinado à manutenção da orquestra e à realização do Boi Junino, questione-se a qualidade e os critérios de avaliação das obras literárias publicadas com subvenção governamental e os critérios escolhidos para a reedição de importantes outras esgotadas, diga-se que estão fora de mora os desfiles de fantasia e a programação de natal, com apresentações em igrejas e locais públicos, estraçalhe-se o seringal – sucursal rural da Roberiolândia e o barco Justo Chermont, enfim arrombe-se com tudo, mas ao assim fazer reconheça-se que antes de Robério não havia nada e depois de Robério há tudo. Ou quase.

Pelo andar da carruagem, e dos mexericos, Márcio Souza pode vir a ocupar uma Secretaria Municipal de Cultura, a ser criada. Predileções literárias à parte, Márcio Souza é um dos grandes caras desse estado, sua indicação é a prova de que é possível ter uma gestão nula à frente de um órgão importante como a FUNARTE e, mesmo assim, permanecer na ativa e cotado para ocupar um outro cargo, tão ou mais importante, como o de primeiro Secretário de Cultura de Manaus. Aliás, justiça se faça igualmente aqui. Os resultados impressionantes do trabalho de Robério Braga impuseram ao Prefeito Arigó Nascimento a necessidade de implementar, mesmo que meia sola, algumas iniciativas de estímulo cultural, os tais valores da terra. Sendo que a própria criação de uma Secretaria Municipal de Cultura, se confirmada, decorrerá da dimensão que o tema ganhou após tão longa e frutificadora gestão de Berinho, como o chama o Ribamar.

Robério Braga exterminou a longa linhagem de subsecretários e coordenadores de cultura inativos. Linhagem que remonta, segundo me informam, um tal José Lindoso (conhecido como Josetito). Dele e d’outros devemos guardar lembrança, para sabermos o que não mais queremos. Como uma fera indômita, Robério Braga arrancou a fórceps dinheiro do orçamento estadual e de mecenas privados e implementou seus projetos e sua visão de política cultural. Realizou o memorável Encontro Internacional de Poesia, promoveu discussões (sic) com a comunidade artística na busca de aprimorar a política cultural do estado, mandou pras cucúias o sentimento derrotista de que não é possível fazer nada no Amazonas.
Ele é pretensioso, arrogante, grosso, traiçoeiro, mandão, destemperado, mordaz, irônico, dono da verdade. Amado e odiado em igual intensidade, ele tocou a criação da Amazonas Filarmônica, do Corpo de Dança do Teatro Amazonas, do Festival de Ópera, a revitalização dos grupos de teatro locais – com a criação de novos espaços, a implantação do Centro de Ensino Cláudio Santoro, do Museu da Imagem e do som, capitaneia o maior projeto editorial de todos os tempos no Amazonas, coordena a maior iniciativa de preservação e restauro do Patrimônio Histórico e Cultural de Manaus - cuidando da restauração do Palácio da Justiça e do Palácio Rio Negro (agora centro cultural) e seu entorno, da Catedral de Manaus, além da fachada das casas no entorno da Praça Sebastião e do próprio Teatro Amazonas. Ele é Robério Braga, Presidente do IGHA e da Academia Amazonense de Letras, Secretário da Cultura e, goste-se ou não dele, um divisor de águas no que diz respeito às iniciativas e políticas públicas culturais no Amazonas.

 

07 novembro, 2004

Fique por dentro do orkut do Fran Pacheco
Por Stella Maris - especial para o Club

Nosso velho homem de imprensa, Fran Pacheco, inseriu-se de vez nos circuitos ideológicos e caiu nas profundas da rede digital. Chafurdando no orkut do Fran, descobrimos as dez comunidades virtuais que têm tomado todo o tempo do falecido blogueiro. Cada uma a seu modo, formando um pequeno mosaico da personalidade doentia de nosso amado chefe. Aí vai a lista negra, com as descrições de cada comunidade copiadas ipsis litteris da tela* do computador:

  • Como ou não como: além-túmulo
    "O senhor sempre nutriu uma tara platônica pela Henriqueta Brieba, Aracy de Almeida, Bidú Sayão, Zezé Macedo (a Biscoito), Ishtar dos 7 Véus e outras beldades de antanho? Pois aqui é o terreiro certo. Pare de calejar as mãos em tributo às musas. Mande uma mensagem para essas gatas etéreas e tenha bons pesadelos. Garantimos o seu anonimato."

  • Phophocas e baixarias da Belle Époque
    "Se V. Sa. deseja caluniar, injuriar e/ou difamar algum coronel de barranco, as falsas virgens, os patriarcas enrustidos que atacam de popa, clérigos devassos ou simplesmente desancar a hetaira genitora de um desafeto, sinta-se à vontade. O inferno é aqui. Temos vasto sortimento de pseudônimos ao vosso dispor."

  • Gymnásio D. Pedro II - Formandos de 1916
    "Lembras do teu tempo de calças curtas, das aulinhas de Latim e Canto Orfeônico? Cabulavas as lições de Catecismo para mergulhar no Igarapé de Manáos? E os encontros secretos com as internas do Santa Terezinha? Que professor tinha o apelido de Pachocho? Lembra do Mário? Uma vez gymnasiano, sempre gymnasiano!"

  • Bebedores de XPTO e comedores de ópio S/A
    "Se você e o seu fígado nunca se esqueceram desta cervejinha, se sua mente viajou com os derivados da papoula e nunca mais voltou , deixe registrados aqui seus momentos inolvidáveis de vício e desregramento. 'E do meio do mundo prostituto, só amores deixei ao meu charuto', podes crer, amizade!"

  • Cêra para bigode e outros acessórios indispensáveis para o varão viril
    "As 128 variações do nó de gravata inglês, o uso escorreito do bico-de-pena, o caimento perfeito do terno HJ, o verdadeiro país onde são feitos os chapéus panamá, a etiqueta do cabaré e os códigos secretos das irmandades abatedoras de lebres. Esta é a comunidade do perfeito macho-man latino americano, com pelo menos algum dinheiro no J. P. Morgan.
    P.S. Metrossexual o cacete que aqui ninguém passa esmalte nas unha!"

  • Manáos Tramways: Fan Club Official
    "Quem não se lembra de ter morcegado os bondes da Tramways em criança? De ter feito cerol para papagaio nos velhos trilhos? Da estação dos Bonds, da linha Circular-Cachoeirinha, da Curva da Morte, do Entroncamento? Das frescas ao cair da tarde? Comunidade dedicada a todos os saudosistas que também acham o ônibus moderno o túmulo do pudor."

  • Eu odeio Henry Wickham
    "Esse carinha nefasto roubou nossas mudas de seringueira para inglês plantar na Malásia e acabou com a nossa farra. Para todos aqueles que faliram com o fim do Ciclo da Borracha, aqui é o lugar para malhar esse sacripanta! Burn in Hell!!"

  • Anarchistas e Ateus, Graças a Deus!
    "O bom de ser um anarquista festivo é discutir acaloradamente a Revolução Bolchevique e o Fla-Flu, depois da praia, no botequim mais próximo. Revolucionário que se preze tem que acabar na Estação INSS, com uma bela aposentadoria paga pelo proletariado. Cony é o nosso paradigma."

  • Grandes Hits dos Anos 10 - e éramos todos jovens
    "Curtiu altos saraus ao som de Apanhei-te Cavaquinho? Era fã de carteirinha de Patápio Silva e do Donga? Tinha cadeira cativa no Kananga do Japão? Caruso girava no gramofone sem parar? Junte-se aos aficionados em polcas, schottishs, maxixes e mazurcas. Traduções exclusivas de F. Cavalcantti & Bisnetos - Pour faire l'amour..."

  • Super Lápide dos Blogueiros R.I.P.
    "Junte-se às lendas blogueiras da lápide: Nélson Rodrigues, Rubem Braga, Fernando Sabino (Pré-Zélia uma Paixão), Antônio Maria, Cezário Camelo, Lima Barreto, João do Rio, Sérgio Porto. Os blogs dessas ferinhas marcaram época. A lápide grelha!! Junte-se a eles, jovem blogueiro! Die young, stay pretty!"



* Amigos alentejanos, tela é como nós chamamos cá no Bananão o ecran do computador.


 

05 novembro, 2004

Militares & Milicos (ou "E Agora, José?")
Por Fran Pacheco

Não confio em sujeitos que não mexem o pescoço. O Secretário reeleito da Defesa (ou do Ataque?) dos EUA, Herr Donald Rumsfeld não mexe. Pelo menos nunca vi. Isso, aliado àquela expressão de quem está com um eterno arroto engasgado é o que mais me incomoda nele. O fato de ser um assassino contumaz de criancinhas muçulmanas, sócio do Sharon e mentor das torturas nos barbudinhos em Abu, Aboud Greeid, Graaib (como é que se fala?) e em Guantanamera é apenas o trivial entre esse tipo de gente. Eles são assim. Não só gostam de mandar seus fedelhos matar (e eventualmente virar paçoca) no cu do mundo, como precisam disso. Trilhões de dólares investidos todo ano em munição high-tech têm que ser usados regularmente em qualquer guerra, em qualquer canto do planeta. Nenhuma potência que se preze resiste a mais de dez anos de paz. Pólvora tem prazo de validade.

Fiquei sabendo disso quando nossas gloriosas Forças Armadas detonaram uma pista clandestina furreca na curva sigmóide da Amazônia com uma pomposa bateria de ataque aéreo. A imprensa foi convidada a testemunhar o feito, inaugurando o Ecoturismo Bélico Subsidiado. Usamos nossa munição quase estragada e mesmo assim a pista deserta não teve nenhuma chance contra nossos ases.

Mas por que eu fui falar logo das nossas Forças Armadas? Sem ter quem torturar há quase trinta anos, eles devem estar agoniados... Imagine-se acordando todo dia às cinco da manhã, ao som de cornetas desafinadas, para fazer porra nenhuma? Vai ali no quartel do São Jorge ver nossas tropas de elite pintando e repintando os muros da Vila Militar. A diversão maior dessa turma é mesmo mandar uns infelizes para levar pedrada Haiti, soltar notinhas tentando justificar o assassinato do Herzog no DOI-CODI e queimar o Ministro da Defesa.

Yes, nós temos um Ministro da Defesa, tal e qual os yankees. Os chinas das FARC que se cuidem. Zé Alencar (aquele vice) é o nosso novo Donald Rumsfeld. Esperem só até ele voltar a falar pelos cotovelos e ter suas idéias próprias, agora aplicadas ao campo da baioneta... Depois dessa, só com um bom porre etéreo para adentrar com segurança no fim de semana. God bless Botocundia!

 

O primeiro grande feito da Administração Bush
Por Fran Pacheco

"Após acompanhar o resultado da apuração americana, o terrorista e prêmio Nobel da Paz Yassr Arafat entrou em estado de coma."
O Planeta Diário

 

04 novembro, 2004

Os anus Bush
Por Fran Pacheco

Ele é bronco, belicista, genocida, manipulador, demagogo, reacionário, obscurantista, xenófobo, cínico, retrógrado, inepto, aparvalhado, iletrado, inconsequente, arrogante, charlatão.

Ele é o presidente mais votado da história americana.

O que os nossos primos ricos do norte vêem nele que eu (com esses olhos que a terra já comeu) não consigo ver?

 

03 novembro, 2004

Multidão invade cemitério caçando Fran Pacheco
Por Stella Maris - especial para o Club


Porretes contra porraloucas. Valeu de tudo para tirar uma lasca da lápide de Fran.


Manáos - O Cemitério São João Baptista viveu um dia de finados de cão nesta terça-feira. Uma multidão eclética, formada por credores, serafetes e amazonetes raivosos, agitadores de aluguel e fãs do roqueiro Jim Morrison tentou, sem sucesso, depredar a tumba de Fran Pacheco. Os ânimos só foram contidos pela tropa de choque da Federação Espírita, que aplicou um passe gratuito nos revoltados, para acalmá-los.

A aglomeração se formou logo de madrugada. A primeira vítima da histeria coletiva foi o vigia do cemitério, Seo Hemernegildo (sic), que tentou fazer um cordão de isolamento de um homem só e virou patê. A turba atravessou os centenários portões do cemitério e espalhou-se em busca de seu alvo. Sem saber a localização precisa do mausoléu dos Pachecos, as hordas depredaram, pelo caminho, dezenas de bustos bigodudos do período áureo da borracha. O abalado secretário da cultura Robério Braga , já debilitado com a derrota na eleição, entrou em estado de choque com a notícia.

Credores
Uma corrente de boatos espalhados na Internet foi a causa de toda a confusão. Mensagens circularam avisando que Fran Pacheco pagaria, com juros e correção, todas as dívidas de jogo e de contas penduradas em botequins, deixadas pelos Terríveis em 80 anos de existência terrena do Club. E não era pouca coisa, a julgar pela quantidade de mármore recolhida pela patuléia, na maioria descendentes dos supostos credores.

Serafetes e Amazonetes
Serafetes (seguidores fundamentalistas do prefeito eleito), membros da seita “Eu Odeio o Club dos Terríveis” resolveram tirar um sarro pessoalmente com o “suposto” anarquista. Já os seguidores do Negão, em número muito, mas muito menor depois da derrota, resumiam-se a três ou quatro gatos pingados, membros do recém lançado “Movemento Amazonino Forevis”, cujo grão-mestre intelectual é Bruno Babbaca. “Nós num sabi lê, mas disque é por causa que o Fram falô mau do Mestre Amazonino”, declarou uma adepta, que não soube dizer seu nome.


Porraloucas
A grande maioria de descontrolados, no entanto, era de fãs do finado roqueiro Jim Morrison. Um boato circulou pela Web afirmando que não só o túmulo do ex-líder do The Doors fora removido de Paris para Manáos, mas que Fran Pacheco era Jim Morrison. Para dirimir quaisquer dúvidas, Fran divulgou para a imprensa, após a sarrafascada, a seguinte foto com uma nota enfatizando: “Man, I’m not Jim, Man! Not Jim, Man! Gimme a break, Man!”. (No entanto, a viúva de Jim, o tecladista Ray Manzarek foi enfática: "Jim!")

Salvo pelo gongo e querendo manter a integridade de sua ossada, Fran já solicitou às autoridades a remoção de seu domicílio sepulcral para lugar incerto e não sabido.


 

02 novembro, 2004

Num dia de finados qualquer
Por Fran Pacheco

Tem coisa melhor? Curtir um repouso eterno, laborum meta, e mesmo assim se encontrar todo dia com o Vinicius, nas cercanias de Alfa do Centauro, para tomar umas geladas - Tom ao piano, Stan Getz no sax. Narinha, um banquinho e a voz que é um pássaro. Voando. Ver a Leila musa esplendorosa. Trocar umas sacadas com o Oswald, umas idéias blasés com o velho Nélson, discutir com o Saldanha aquele gol da final do Estadual de 56. Aproveitar pra marcar uma pelada com o Mané. Delirar uma estética da morte com o Glauber e chamar o Plínio Marcos e o Vianinha pra roda. Rir com as novas tiradas do santo padroeiro Stanislaw, ouvir a nova crônica do Lima, do João do Rio, do Antônio Maria. Ficar na expectativa de uma nova estrofre do Quintana, do Bandeira, Drummond, Leminski, da Cecília. Deleitar-se com as "velhas" e novas pérolas do Noel, do Lupicínio, Cartola, Ataulfo, Ismael, Orestes, Ary, Lamartine, Braguinha, Pixinguinha chorão. A mesa é cativa do Adoniran, que pode ficar quantos séculos quiser. E o Chico Viola e o Orlando que não páram de cantar para nossas multidões? Alguém reclama? Ninguém. Um dia de finados qualquer.

Na noite infinita, sem fronteiras, no Cassino da Urca ou Hotel Cassina, tanto faz, Glenn Miller & orquestra, todinha, tocando Moonlight Serenade. Fred Astaire travando duelo de sapateado com Gene Kelly. E chamando Ginger, Rita, Audrey, Ava para a dança. Jorginho confidenciando: "já comi todas". Um dia ele conta tudo. E a elegância do showman Ivon Cury, para sempre sem peruca, chamando pra rodada de chansons o Montand, o Chevalier e a Piaf. Curtir depois as loucuras do Tim, a ginga redimida do Simonal. Ouvir por todo canto o canto da Clara, Elis, Dalva, Dolores, Maysa, Billie, Sarah, Ella. E a voz, para sempre entre nós, dos Old Blue Eyes. Evoé, Frank! Meus mortos prediletos.

É isso aí, mocidade da minha terra. Os grandes caras daí de baixo não param de chegar por aqui. Melhor para nós, os mortos. Vida longa aos apedeutas. Vida longuíssima aos pagodeiros.

 

Sobre a imprensa
Por irmão Paulo

Remetendo ao título esclareço que falo sobre a imprensa amazonense, décadas de atraso em relação à boa imprensa nacional. O que se viu nas eleições deste ano foi o aviltamento generalizado da imprensa local. Os jornais, sobretudo os escritos (que, como diz Fran Pacheco, podem vender-se à vontade) abusaram da possibilidade de dirigir, aumentar e forjar notícias e apreciações. Veículo símbolo da pouca-vergonha que imperou no ramo é o diário a crítica, sobre o qual pretendo refletir.

A’ crítica, que não merece ser chamado de jornal, a não ser pelo fato de ser diário (do lat. diumális, na acepção italiana giornale), através de seus diversos pontas-de-lança, consolidou sua falta de credibilidade, seu apego à mistificação, a partidarização evidente, o direcionamento das notícias, a reportagem sempre opiniosa dos acontecimentos, mal escondendo o pavor terrível que a esmoleira família Kane tem de ficar sem seus trocados públicos. O que se deseja ver agora, eu ao menos, é a como Serafim irá conduzir essa gente, cuja fome por dinheiro público não encontra saciedade.

Como disse, a imprensa Amazonense está décadas de atraso em relação ao restante do país e do mundo. O Professor Paulo Figueiredo, cito-o exemplificativamente sem intenção de dar-lhe prestígio indevido, em artigo publicado no mencionado diário, ressuscita, com ares de novidade, polêmica dos anos 1960 e 1970 sobre a “diferença entre notícia e comentário e portanto chamamento à realidade”, tema que é obsoleto, como já reconhecia Umberto Eco lá pelos idos de 1997. À época, na qual o Professor parece ter parado, muitos profissionais de verdade sustentavam, como sustenta ainda o Professor em seu artigo, que à exceção do boletim meteorológico, não existe notícia verdadeiramente objetiva. Tosco engano.

É possível a notícia objetiva. O que, quando, onde, como e porque é coisa que qualquer alfabetizado (como é o caso da plebe rude desta terra) faz. Como observa o mesmo Umberto Eco, nos últimos decênios vem se afirmando o estilo da chamada “tematização”. Assim, “mesmo separando acuradamente comentário e notícia, a própria escolha da notícia e sua paginação constituem um elemento de impacto implícito”. Se não se pode considerar legítima a estratégia da tematização, como forma de exprimir opiniões através de notícias completamente objetivas, pelo menos há que se reconhecer que é mais decente que o proceder do diário dos Kane, que sistematicamente desconsiderou o imperativo de igualdade de condições entre os candidatos, omitindo fatos, distorcendo informações, informando pela metade, utilizando imagens depreciativas e, ao final, em ação de homenagem ao velho Surubim Kane, articulando-se com o candidato de sua predileção para noticiar com riqueza de detalhes o caso IPTU.

O Professor menciona que quando começou no jornalismo, lá pelos anos 60, onde parece permanecer até hoje, era normal que os jornais tivessem lado e compara, sem lavar a boca, o The New York Times com o jornaleco dos Kane, asseverando que aquele manifestou-se a favor de Kerry em seus editoriais. Esquece de mencionar duas coisas importantes: 1. o jornal escolhe seu lado segundo os interesses empresariais do Dr. Dono. Era assim nos anos 60 e continua assim hoje. Os Kane escolheram seu lado deles tendo em vista as possibilidades de benesses financeiras e da impunidade em relação ao caso Banestado (se alguém ainda lembra a Dona Kane foi mencionada como exportadora de divisas). Foi assim com o Ministro Arigó Nascimento, que, pelo que pude captar, deu ao Kanezinho a primazia de explorar os espaços publicitários das novas, minúsculas e inadequadas paradas de ônibus pelo Arigó trocadas. 2. The New York Times, como todo jornal de primeira linha, manifesta sua opinião no editorial, bem diferente do papel dos Kane, que o faz sub-repticiamente no noticiário. Não tem desculpa, nem apelação. O jornal morreu.

No dia seguinte ao da eleição de Serafim, voltam os Kane a se ufanarem de tradutores dos mais puros sentimentos populares. Revelando um jeitão meio Pravda (de Stalin) de ser. Os jornais não são tradutores dos anseios puros do (e)leitor, são, ou devem ser, fonte de informações (sobre tudo que ocorre no mundo) e veículo de opiniões divergentes sempre, para que do choque entre as divergências nasça a opinião do leitor. Mas isso é querer demais da imprensa manauara, é querer demais do Professor, que de amigo siamês de Amazonino, tornou-se figadal inimigo. Sem ligar para o fato de que briga entre amigos é coisa de mulher ou de veado, e que homens sérios não rompem.

 

01 novembro, 2004

Sem anistia
Por irmão Paulo

A ilusão da anistia do tema ainda ronda, de longe, minha cansada consciência, mas já apenas como ilusão, sem dúvidas. O rescaldo dessa eleição, que ao menos escolheu um dedo-duro passado a um ladrão presente, merece avaliação extensa e profunda. Em relação a todos os atores, jornal a crítica, reorganização de forças políticas, futuro do governador, efeitos de Serafim na Prefeitura, encerramento da folha corrida de Amazonino Mendes, especulações em relação à Administração/ Auditora de Serafim, as eleições de 2006.
Sou despido de qualquer expectativa positiva em relação a qualquer governo. Menos ainda em relação a um governo liderado pelo Reynaldo do Casseta

 

Revista Muito Mala: especial 2º Turno
Por Stella Maris - especial para o Club

A diminuta mas combativa equipe de campo do Club dos Terríveis - formada por essa escriba que vos fala e seu fiel lambe-lambe Cartier - colocou-se nas ruas da Manô de Mil Contrastes para obter os mais palpitantes instantâneos do eleitorado VIP na esbórnia democrática:


A primeira presença ilustre registrada foi a do eleitor fantasma Elvis The Pelvis, tendo como médium o astro Diego Cheirando Maradona, que ficou hospedado no tradicional Beco do Pó, nos Educandos.




Dirigido pelo marqueteiro Egmerdo Batista, e sob forte esquema médico para evitar uma morte-súbita, o Negão25 chega à sessão eleitoral com ar de quem não gostou do que leu nas tripas dos bodes na sessão de magia negra da véspera.



Acompanhado pela família Aragão, Sarafa Corrêa chega, vê e vence, para alívio do jornal A Crítica. E avisa aos gozadores: "se vocês repararem bem, ô psiti, eu estou ficando mais parecido é com o Reinaldo do Casseta & Planeta". A polêmica está lançada.



O tiro do feriadão parece ter saído pela culatra. Os "Homens de Preto" do Negão foram obrigados a catar até na Praia do Tupé eleitores comprados na véspera a 35 merrecas. Percebam a boa-vontade cívica do banhista.




Vale tudo para chegar ao estábulo eleitoral. Na ausência de Bondes, a veterana dupla de humoristas Big & Bang saltita animada rumo à urna, gritando seu indefectível bordão: "Aiuaua! "




A Juventude Amazonista VIP fez-se presente bombando com as princesinhas de cabeça feita, em look retrô estilo "Ases Indomáveis" e "Balão Mágico". E foram enfáticas: "U-hú! "




Sem ter do que sobreviver por não ter conseguido a pensão para nenhum de seus filhotes imaginários, Dra. Soraya Soleva Sulamba foi vista na gincana dominical "Show de Horrores Turco" tentando comprovar com a mão e a boca, todos os seus dotes de sedução. A platéia não engoliu.



Figuras tradicionalíssimas, o casal Jurassic Park da política Baré, Gilberto Botinho e D. Maria Emília chegam ao circo eleitoral exibindo o resultado das aplicações de Formol e das aulinhas no Cláudio Santoro. D. Maria executa O Bife, em vesão para Stradivarius (suspeita-se do uso de play-back).



Dois eleitores, pegos literalmente com a boca na ganja, digo, botija, em flagrante delito de boca-de-fumo, prática coibida com rigor pelos Federais Caretas. O barato da dupla foi tamanho que suspeita-se que só daqui a duas semanas eles tenham consciência do resultado da eleição.



Finalmente, ELE, que não poderia deixar de votar, se possível "miu veses" em seu mestre. Bruno Babbaca exibe radiante o seu novo carro (personalizado). Infelizmente, Bruno ficou 30 minutos na frente da urna sem saber como votar e foi enxotado da sessão.


VOLTAREMOS EM 2006. NÃO PERCAM!