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30 abril, 2005

Ah, turistas...
Por Fran Pacheco

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Por que todo turista é um bund..., perdão, sofre de flacidez nadegal? Lá vão eles, barrigudos, cambotas, com a cara vermelha de quem nunca passou protetor solar na vida, de bermudas "mongo" e aquelas horrendas meias levantadas até o meio das canelas branquelas, as mulheres jogadas fora, despenteadas, em camisetas encardidas, os fartos peitos caídos, os sovacos invariavelmente peludos e ruivos à mostra, todos perambulando em bandos, bisbilhoteiros, carregando mochilas de 120 quilos, em meio às ruínas da cidade, ao caos do trânsito, aos cheira-colas, ao labirinto de barracas de camelôs, à indiferença dos nativos, enfim, à rotina absolutamente banal, desinteressante e estressante de um aglomerado urbano terceiro-mundista. Só não os desprezo completamente porque eles têm muito money para torrar com suvenires e com o "sabor regional" (que muitas vezes não é o tucumã, mas a cunhã).

Tomemos o exemplo do desocupado que o destino me fez servir de médium. O vadio desapareceu do trabalho por quase duas semanas, enfurnado num "paraíso tropical", cujo local exato não posso precisar (fica entre a Baía dos Porcos e a Patagônia). Quem o conhece como "o cara recatado da repartição" ficaria boquiaberto ao vê-lo trêbado, dançando uma salada de mambo, calypso e forrobodó num balneário com nativas seminuas. O cidadão conseguiu a proeza de passar tanto, mas tanto protetor solar que saiu da praia mais branco do que entrou. Exceto em algumas regiões do abdômen, marcadas por estranhos quadriláteros vermelhos (e algumas figuras semelhantes aos sinais que os alienígenas deixam nos trigais). Meteu-se a "pegar jacaré" nas ondas do mar das Caraíbas revolto e levou tamanha quantidade de caldos que andará guenzo pelo resto dos seus dias. Na arrebentação, perdeu metade do dinheiro, que guardava no calção de banho ("foi tributo a Yemanjá", desconversa). Descobriu sofrer de hiper-alergia a camarão, após deglutir um dos grandes, inteiriço - e causar comoção na praia, ressucitando ao fim da tarde. Conseguiu extraviar-se do seu bando e pegar o ônibus errado, para o outro lado da republiqueta, tendo que praticamente recorrer a mateiros rastafaris para econtrar a trilha de volta para o albergue meia-estrela que lhe foi vendido como "resort".

E o que considero mais grave: não comeu ninguém*.

Enquanto isso, meus canais com o mundo fenomênico só funcionavam em mão única. E vi o Cardeal Inquisidor Heil Tzinger acenar feliz que nem pinto em bosta ao se tornar, naquela marmelada de conclave, o papa Bené 1.6 (para os íntimos). E vi a festa mega-brega da Globo 40. E vi muitas cousas que não pude comentar - tudo graças ao espírito desbravador da figura vil que materializa essas mal digitadas linhas.

Felizmente, a Grande Ópera chegou à cidade, trazendo todos os bund..., perdão, turistas de volta (meu médium incluso). Eles estão por toda parte, assobiando o jingle das Valquírias e andando esquisito (já ouviram falar de "mula"?). Vão curtir 16 horas de Wagner (e não Fágner, como muitos descobriram decepcionados). A fixação do nosso Secretário Perpétuo de Cultura pelo anel do nibelungo é algo ainda não muito bem esclarecido - mas até o fim de seu pontificado chegaremos a uma conclusão freudiana.


* A outra finalidade para se praticar turismo nos trópicos é contrair doenças arcaicas, como malária, febre amarela e mal de Chagas - atrações que, tal como as cunhãs, os gajos não encontram no Velho Mundo.

 

24 abril, 2005

Música Gravada - O Começo II
Por irmão Paulo

(...O fonógrafo de Figner não foi o primeiro a que viu o Rio de Janeiro.)

Bem antes, em 1878, apenas 4 meses após ter sido apresentado por Thomas Alva Edison ao Departamento de Patentes para obter o registro, o fonógrafo foi demonstrado pela primeira vez no Brasil. O acontecimento deu-se a 21 de julho de 1878, numa reunião das Conferências da Glória, regularmente freqüentadas por Dom Pedro II e real família.

As `Conferências Populares da Glória', assim denominadas por se realizarem em escolas públicas localizadas na Freguesia da Glória, no Município da Corte, iniciaram-se em 23 de novembro de 1873 sob a iniciativa e coordenação do conselheiro Manoel Francisco Correia, senador do Império. A identificação da escola pública que sediou estas conferências não é uma questão totalmente esclarecida, porém as referências indicam que, inicialmente, estas realizaram-se em uma das escolas públicas da Glória (na época haviam seis escolas em ruas que atualmente pertencem aos bairros do Flamengo e da Glória), posteriormente, na Escola São José (de janeiro a maio de 1875) e, finalmente, em um prédio construído para tal fim (as indicações sugerem a atual Escola Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, construída entre 1874 e 1875). Transcorriam, inicialmente, nas manhãs de domingo (posteriormente estendidas para dois dias semanais), e eram rotineiramente anunciadas antecipadamente nos mais importantes jornais da época (Jornal do Commercio, Gazeta de Notícias e Diário do Rio de Janeiro). http://www.coc.fiocruz.br/hscience/vol2n3/fon23.html

Levado por Francisco Ribeiro de Mendonça, conferencista do dia, F. Rodde exibiu seu fonógrafo, no transcorrer da exposição intitulada: Primeiras experiências com o ‘fonógrafo’ no Brasil, conforme aviso publicado no Jornal do Commercio, RJ, p. 1 do dia anterior. De fato, tratou-se de um acontecimento e a assistência, ante a legitimidade evidente dos fatos, foi ao êxtase. Em outras palavras, a conferência e a exibição repercutiram de tal forma que, conforme registra o mesmo Jornal do Commecio do dia 26 de julho de 1878, Não tendo sido possível a muitas pessoas que se interessaram poderem apreciar este aparelho nas experiências que tiveram lugar na Conferência das Glória, F. Rodde convida essas mesmas pessoas que desejarem assistir a novas experiências para sua casa – Ao Grande Mágico – em o dia 26 do corrente. Exatamente a mesma loja onde, 20 anos no futuro, Frederico Figner, o pioneiro, instalaria sua Casa Edson. Mas não nos apressemos.

A reação brasileira foi, contudo, mais contida que a Francesa. Dias depois da apresentação oficial de Thomas Edson, o Conde Theodore Du Moncel, em nome do inventor, em uma cômica sessão da Academia de Ciências de França, apresentou o Fonógrafo. O astrônomo Camilo Flamarião, presente à apresentação, registrou o corrido em um de seus livros: Assistia eu, certo dia, a uma sessão da Academia de Ciências, dia esse de hilariante recordação, em que o físico Du Moncel apresentou o fonógrafo de Edison à douta assembléia. Feita a apresentação, pôs-se o aparelho docilmente a recitar a frase registrada em seu respectivo cilindro. Viu-se então um acadêmico de idade madura de espírito compenetrado, saturado mesmo das tradições de sua cultura clássica, nobremente revoltar-se contra a audácia do inovador, precipitar-se sobre o representante de Edison e agarrá-lo pelo pescoço, gritando: “Miserável, nós não seremos ludibriados por um ventríloquo.

Evidentemente, não eram Du moncel ou o operador da máquina falante ventríloquos. Ao contrário do que se poderia imaginar, o som era registrado e reproduzido em condições extremamente simples, como explica o próprio Conde, na primeira publicação européia do gênero, o seu Le Téléphone, Le Micro­phone et Le Phonographe: Se a velocidade de reprodução for a mesma que a do registro de gravação, o tom das palavras reproduzidas é o mesmo das palavras pronunciadas. Se a velocidade for maior, o tom será mais agudo; se for menor, será mais grave, mas reconheceremos sempre a voz daquele que fez a gravação. Essa particula¬ridade faz com que, nos aparelhos rodados à mão, a reprodução da voz quando canta seja a que mais apresenta defeitos. Nesse caso, o que foi registrado pelo aparelho soa falso. Isto não ocorrerá mais, se o aparelho mover-se sob o comando de um mecanis¬mo perfeitamente regular, como o de um relógio. Dessa maneira, poderemos obter reproduções satisfatórias. A palavra gravada sobre uma folha de estanho pode ser reproduzida várias vezes, mas a cada vez os sons se tornam mais fracos e menos dis¬tintos porque os relevos vão se desfazendo aos poucos. Sobre uma lâmina de cobre essas reproduções são melhores. Para que essas reproduções possam ser usadas indefinidamente é necessário tirar muitos exemplares dessas lâminas e, neste caso, a montagem do aparelho deverá ser diferente.

Os fonógrafos dessa primeira geração, ditos de exibição, com cilindros fixos, eram verdadeiras máquinas falantes e prestavam-se ao serviço de divulgação da nova maravilha tecnológica. Dez anos após as primeiras exibições, em 1889, um tal Comendador Carlos Monteiro de Souza levou ao Rio de Janeiro um novo fonógrafo, com cilindros removíveis e substituíveis. Promoveu três apresentações, sendo a última no Palacete do Príncipe D. Pedro Augusto, filho da Princesa Isabel, onde, horas antes da proclamação da República, gravou-lhe a voz, cantando. Entretanto, nem as conferências, nem Rodder e, muito menos, o Comendador podem ser considerados como os introdutores do fonógrafo no Brasil. Tal título cabe a Fred. Figner.

 

21 abril, 2005

Dia de Tiradentes
Por Fran Pacheco

Os filhos da pátria comemoram com galhardia esta data tão querida, quando ganham as ruas com as barbas por fazer e, em grande algazarra, com boticões, fios-dentais, alicates ou os próprios dedos calejados - arrancam os dentes dos incautos com um "Viva a República!". Basta um brasileiro abrir o sorriso para vermos que esta é uma festa das mais comemoradas - sobretudo nas classes mais humildes. Logo na tenra infância, os patriotinhas vão abrindo as janelas da boca, até que, já adultos e cidadãos, estão aptos a aparecer naquelas transmissões do Canal 100, mostrando as gengivas à moda Tião Macalé, com 1 ou 2 dentes na frente, gritando "mengoo!". Verdadeiros logotipos ambulantes da Nação.

Claro, há os snobs, os colonizados culturais, os ditos "Joaquins-Silvérios" e as "Marias-Loucas" cheios de "não me toques os dentes!" e renegando seu passado histórico com implantes hi-tech. Gente dessa laia baixa todo ano em Ouro Preto, para receber ao lado de tipos como Antônio Palocci e Renan Calheiros uma comenda que, de tão maltratada no peito de canalhas, nada mais diz respeito ao espírito da coisa.

 

19 abril, 2005

Os Novos Biônicos
Por irmão Paulo

Na vigência da gloriosa, chamavam-se biônicos aqueles agentes políticos detentores de cargos por indicação da oficialidade, digamos assim. Sem o sábio concurso da urnas. Eram governadores, deputados e o restante do moscaral político todo indicado com a ponta do coturno.

Uma das maiores alegrias nacionais recentes foi a eleição direta para governadores de estado em 1982. Se bem que depois tenha se revelado uma oportunidade para o renascimento dos cancros do passado (como Gilberto Mestrinho), foi um momento no qual os biônicos sederam (Atenção, massas! o "s"é ironia fina!) lugar aos votados, por mais histriônicos que fossem.

Durante o despostismo esclarecido de Fernando Henrique, seu fiel vassalo Artur Virgílo Neto, bem conhecido dos camelês e feirantes de Manaus, urdiu odienta proposta de conceder à FHC cargo vitalício de Senador, sem direito a voto mas com direito a voz e às demais, e mais interessantes, prerrogativas do cargo. Foi repudiado inclusive pelos próprios comparsas de partido, ainda sob a inspiração moral de Mário Covas. Foi execrado pela oposição. A proposta foi abandonada, mas Artur conseguiu o que queria: o amor do chefe.

Agora, ao que dizem informações desencontradas, Aluízio Mercadante faz renascer a proposta, objetivando não apenas arranjar um lugarzinho pro bombeiro mas também, para angariar a simpatia dos tucanos, uma de labija para FHC e Itamar e, de quebra, para agradar as oligarquias de plantão, para Sarney. Pergunto-me como ficaria Collor, Cleptolunático, nessa quizumba.

A proposta não passa de mais uma patifaria que pretendem perpetrar os parlamentares contra a ordem institucional. Senador vitalício é coisa de império mal ajambrado e, a julgar pelo avanço da medicina e pela pouca idade dos presidentes, em breve teríamos tantos senadores vitalícios a obstruir as sessões, buscando um espaço para verbalizar as idéias que teríamos de ressuscitar a idéia original de Machado de Assis, ao seu tempo sugerindo o uso do fonógrafo, e instalar e presentear os nov´´eis senadores com equipamentos de gravação que permitissem serem seus discursos reproduzidos durante as madrugadas.

É certo que não teriam o mesmo público nominal, mas as hienas que insistem na propostas certamente estariam presentes a prestigiar seus chefões.

 

17 abril, 2005

Concessão de um cruzmaltino a um mestre tricolor
Por Fran Pacheco

Image hosted by Photobucket.com– Nelson, todos sabem que você considera como o maior clássico do futebol brasileiro o embate Volta Redonda vs. Fluminense. Desta vez seu tricolor das Laranjeiras levou a melhor. Como foi ver a partida do camarote aqui de cima, com direito a gol do título aos 47 minutos do segundo tempo?

"Rapaz... sem soar exagerado posso dizer que foi a mais bela vitória do futebol mundial em todos os tempos! Sabe, Fran, para mim o Volta Redonda x Fluminense não tem começo.... O Volta x Fluminense não tem fim. O Volta x Flu começou 40 minutos antes do nada... E então as multidões despertaram. E os mortos saíram de suas tumbas... E alma das ruas saiu pelos ares. Depois do glorioso apito final, Fran, eu via a grã-fina das narinas de cadáver cair de joelhos e estrebuchar feito uma jararaca agonizante. Daqui a 200 anos, a pátria dirá, mordida de nostalgia: 'Ah! Aquele Volta x Flu!' Quem não esteve hoje no estádio Mário Filho, Fran, não viveu!"

****
Deixo o velho "anjo pornográfico" degustar a glória do título estadual (estadual... pfui!). Nelson me oferece, todo pimpão, um copo de leite para brindarmos. Ele ainda não se convenceu de que sua úlcera é coisa do passado.

 

16 abril, 2005

Música Gravada - O Começo
Por irmão Paulo

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Nosso relembrar deveria começar em 1900. Nesse emblemático ano do quarto centenário do descobrimento do Brasil, em que o Censo Demográfico aponta uma população de 17.438.434, o comerciante tcheco, naturalizado norte-americano, Frederico Figner, funda, no Rio de Janeiro, a Casa Edison, a primeira especializada em equipamentos sonoros.

Voltemos antes, um pouco. De origem judia, Frederico Figner nasceu na madrugada de 2 de Dezembro de 1866, na Tchecoeslováquia e deixou sua casa aos 13 anos de idade. Filho de pais pobres, Figner teve que imigrar para o Novo Mundo, como faziam os jovens da Europa Central, naquele tempo. Aos treze anos, como disse, sai do lar paterno e vai para a cidade de Bechim, aprender um ofício. Em 1882, aos 16 anos, deixa definitivamente a terra natal. Parte com sua maleta de emigrante para Bremershafen, de onde, a bordo do vapor “Elbe“ (como passageiro de terceira classe), ruma para os Estados Unidos da América só levando dinheiro para a travessia. Contava Figner um pormenor interessante dessa viagem. Sua mãe fizera e lhe dera para a viagem uma trança de pão doce. Chegando a bordo, nota que a alimentação de terceira classe é absolutamente insuportável. Divide e economiza então o seu pão doce, de sorte a durar para os 14 dias de travessia.

Uma tempestade violenta foi o único incidente da travessia, tendo sido mais dura a luta para adquirir estabilidade econômica para manter-se e ajudar a família. Estados Unidos, México, América Central e, finalmente, América do Sul, foram seus campos de atuação. No Brasil, estabeleceu-se, prosperou, conheceu Esther de Freitas Reys. Mas não nos percamos.

De acordo com Humberto Franceschi, o primeiro contato de Figner com o que viria a descrever depois como “um aparelho com uns canudos que as pessoas punham nos ouvidos e riam” deu-se em 1889, no Texas. Sem muito interesse, como o cunhado já havia comprado a peça, adquiriram cilindros em branco e dedicaram-se a juntar repertório para exibir na américa latina. Terminada a turnê, movido a sonhos de riqueza, retornou aos Estados Unidos apenas para carregar-se de equipamentos, rumando para o Brasil e , num navio de carga, aportando, 12 dias depois, em Belém do Pará. Era o mês de agosto de 1891. A amazônia brasileira era um colosso econômico e Figner trazia a ela, em primeira mão, o aparelho Phonógrafo.

Ainda segundo Franceschi, hospedado no Hotel Central, Figner convocou o dono do hotel a registrar sua voz, ordenando-lhe em espanhol: hable usted aqui. Tendo o nativo verbalizado frase em francês que, depois de reproduzida a seus ouvidos, foi motivo de indizível espanto. Não mais o tempo levaria as palavras. Foi ainda convocado um advogado, Dr. Cabral, que registrou, maravilhado, um discurso contra a República. Após sucesso absoluto, e após ter recolhido repertório regional (modinhas, lundus etc.), gravado no próprio hotel, para suas próximas exibições, Figner partiu para Manaus e depois Fortaleza, Natal, Recife, João Pessoa e Salvador. Chegando, finalmente, ao insalubre Rio de Janeiro. Era abril de 1892.

O fonógrafo de Figner não foi, entretanto, o primeiro a que viu o Rio de Janeiro.

 

13 abril, 2005

O cajado vai comer solto
Por Stella Maris - especial para o Club

RUÍNAS DE CINÉDIA - O cineasta ortodoxo e adepto da “estética da fratura exposta”, Mel Jeguison, depois de triturar Jesus no hemorrágico A Paixão de Cristo, avisa a todos que vai filmar a história de João Paulo II. Após declarar-se “velho demais para essas cousas”, Chuck Norris recusou o papel (a bem da verdade, não ficaria bem um papa de franja loura). A escolha de Mr. Mel será disputada a tapas e mata-leões entre os atores shakespeareanos Lorenzo Lamas, Vim de Diesel, The Rock, Mario Van Peebles e Vitor Belffort – em sua primeira incursão dramática após Casa dos Autistas (no caso, seria dublado pelo imitador João Kléber). “Quero mostrar um pontífice multicultural, combatendo a sacanagem do mundo não só com encíclicas e tai-tchi-tchuan, mas com muita capoeira e brazilian jiu-jitsu”, explica Jeguison, babando no microfone. Não faltará, portanto, adrenalina, com uma perseguição espetacular na estação alpina de Castelgandolfo – onde o papa-esquiador escapará de sinistros antipapistas (ao som de “Erguei as Mãos!” do padre Marcelo, com arranjos do U2). “Mr. Karol!”, será o bordão de Hugo Weaving, no papel do ameaçador e clonado Advogado do Diabo Smith. Ao que John Paul responderá com uma saraivada de hóstias. Flash-back afetivo com Mr. Miyagi, ensinando a ao jovem Karol os princípios do Karatê com base na limpeza do claustro. E para quem detestou o final de “A Paixão”, em que o herói morre no fim, Mr. Jeguison, após degustar feno, avisa: “Ugh. Não deixarei os fãs na mão. Com certeza haverá um gancho para um João Paulo III.”


 

12 abril, 2005

Dúvida de um sedentário
Por Fran Pacheco

Sempre que o Sr. Lula aparece sorridente, deslumbrado no estrangeiro (ou seja, quase sempre), conhecendo todos, todos os rincões imagináveis do planeta, levando a tiracolo o animador Gilberto Gil ("o ministro que canta e dança!") eu me pergunto: demos a ele um mandato ou um imenso traveler's check em branco?

 

10 abril, 2005

“E aqui, antes de continuar este espetáculo, é necessário que façamos uma advertência a todos e a cada um. Neste momento, achamos fundamental que cada um tome uma posição definida. Sem que cada um tome uma posição definida, não é possível continuarmos. É fundamental que cada um tome uma posição, seja para a esquerda, seja para a direita. Admitimos mesmo que alguns tomem uma posição neutra, fiquem de braços cruzados. Mas é preciso que cada um, uma vez tomada sua posição, fique nela! Porque senão, companheiros, as cadeiras do teatro rangem muito e ninguém ouve nada!”

Introdução de Millôr Fernandes para a peça Liberdade, Liberdade (1965).

 

Uma noite no Circo Voador
Por Stella Maris - especial para o Club

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Tudo transcorria bem naquele histórico vôo do avião presidencial rumo ao Vaticano. Reinava um clima de paz e harmonia entre o prefidente Lula, os ex-presidentes Sarney e FHC, além do Rabino Sobel, o Xeque Saleh, um padre, um pastor e, para completar a piada, um papagaio ateu e um marido corno. Mas a calmaria era apenas ilusória...

Garçom: “Excelência, aceita uma aguardente?”
Prefidente: “Melhor não, companheiro. Não é hora pra iffo”
Garçom: “Mas Excelência... Trouxemos uma cachaça artesanal de Parati fabricada especialmente para essa ocasião...”
Prefidente (esfregando as mãos): “Hmmm, de Parati? Deve fer da boa. Fiquei tentado, companheiro.”
Garçom: “Posso garantir que o Sr. não vai se arrepender...”
Prefidente: “Manda ver, companheiro! Atenfão, peffoal, vamof brindar ao morto.”
(Nota-se um certo constrangimento no ar. Os convidados acham melhor evitar as tentações da carne em momento de tamanho pesar.)
Padre: “Senhores... O luto, senhores!”
(Baixam as cabeças e fazem 10 segundos de silêncio. O garçom começa a servir os convidados, que um a um vão abandonando a meditação transcendental e cedendo ao arrebatador aroma da branquinha.)

Garçom (servindo a 5ª rodada): “Excelência, o ex-presidente Collor não foi convidado?...”
Prefidente: “Não, companheiro. Feladaputa não entra neffe avião. Taqui o Feverino Cavalcanti, o Renan Calheirof e o Nelfon Jobim que não me deixam mentir. Por que, companheiro?”
Garçom: “Er, eu já trabalhei para elle, Excelência... Com licença...”
Pastor: “Desaparta! Desaparta!”
(Na entrada do banheiro, Severino e Renan Cueiros rolam pelo chão puxando os parcos cabelos um do outro.)
Renan: “Pústula! Nepotista! Fisiologista!”
Severino: “Carcará sanguinolento! Filo duma rapariga!”
(Nelson Jobim se atira sobre os dois): "Taqui o controle externo procês, ó!”
Padre: “Senhores! Ic! O luto, senhores...”
(Todos baixam as cabeças e fazem 4 segundos de silêncio. Renan, Severino e Jobim voltam a rolar pelo corredor.)

(Na 7ª rodada, FHC afrouxa a gravata e sai cantarolando La Vie en Rose com a voz da Bibi Ferreira.)
Nelson Jobim (desolado com o chefe): “Pronto! Nem precisou da mãe-de-santo. Depois ele não gosta quando chamam de Piaff...”
(FHC emenda para Je T’Aime Moi Non Plus.)
Sarney (com os marinbondos em fogo): “Jeitosinho...”

Xeque Saleh (entornado a 10ª): “Vocês acham que um judeu pode vender a própria mãe?”
Rabino Sobel: “Saleh, non cometça, Saleh!”
Xeque: “E aquela do relógio de estimação do Jacó?”
Rabino: “Pode gotzar da minha caraw, Saleh! Maz o Murow das Lamentatções é notsso. Ôw, ôw, ôw!
Xeque: “Sôbel! Não prôvôca, Sôbel!”
Rabino: “Foi vowzê kem cometçow, Saleh. Vowzê!!”
(Começam a soltar imprecações impublicáveis em árabe e íldiche e se atracam.)
Prefidente (apartando): “Calma, companheirof. Que tal comer uma buchada de bode arretada?”
Rabino (aplicando um golpe de Krav-Magá no Xeque Saleh): “Só comow ze for butchada kosher...”
FHC (ainda possuído pela pomba-girá): “Blargh! Seulement dans la campaigne eleitorelle...”
Prefidente: “Fale direito, hômi. Fale coifa que eu entenda!”
FHC: “Neoliberelle! Vous êtes une neoliberelle enrustide!”
Prefidente: (após longos segundos de reflexão): “Neoliberal? Neoliberal o cafete!”
(FHC bate as asas e escapa, com uma finta, do tabefe presidencial. Lula Gira no ar e desaba sobre as poltronas centrais, com a imensa barriga à mostra.)
Papagaio ateu: “Passei a noite procurando tu, procurando tu, procurando tu...”
Marido Corno: “Esse papagaio já está enchendo o saco!”
Garçom: “Mais uma rodada, senhores?...”
Prefidente (arfante): “Manda ver, companheiro. E traf depoif aquela envelhecida.”
Garçom (os olhos brilhando): “É pra já, Excelência!”

Padre: “Esse garçom não me é estranho. Ic! Vocês não notaram algo esquisto nele?”
Pastor(descomposto, no chão): “Só sei que está fazendo um calor dos infernos aqui!”
Padre: “Caótico! Caótico!”

(Enquanto o circo pega fogo, o garçom, cada vez mais satisfeito, esforça-se para esconder o rabo pontiagudo, que sempre abana nessas ocasiões.)

 

Cem Dias de Serafim
Por irmão Paulo

Completaram-se os simbólicos cem dias de governo do prefeito Serafim Correa, vulgo Zé Portuga. Tudo ocorreu como se imaginava e está como es espera. A última dentro do Zé Portuga parece ter sido mesmo sua vitória sobre o Capirôto. Seu governo tem sido, té aqui, um circo de horrores, escândalos, erros, arrogância e inatividade.

O início do governo beirou o ridículo. A Administração parada, desinformada e desnorteada, apesar do longo período de transição. Foi autorizada a humilhante divulgação de listas de nomes de pessoas que, no linguajar da imprensa endossado pela Prefeitura, foram os principais "beneficiários" dos pagamentos. Listas infamantes, humilhantes e ilegais, pois que juntaram em um mesmo balaio de gatos corruptos, fantasmas e pessoas de bem. Na lista dos grupos de trabalho supostamente fantasmas constaram até integrantes da nova administração. Total descoordenação.

Em paralelo às listas, à guisa de emergência, calamidade ou seja o que for, Zé Portuga decretou um perpétuo dispensar de licitações, livrando-se dos problemas que elas sempre causam simplesmente não as realizando. Por igual, em paralelo, já se desenrolava a a novela da tarifa de transporte coletivo urbano, com os empresários puxando para um lado, os trabalhadores para o outro e a Prefeitura equilibrando-se no cabo de guerra.

Zé Portuga levou a primeira enrabada do governador Eduardo Braga ao deixá-lo pai da manutenção provisória das tarifas, por conta de renúncia fiscal do ICMS do diesel. Levou a segunda quando Braga introduziu o néscio Chico Preto na Presidência da CMM e, por fim, levou-lhe a última, agora ao final da novela da tarifa, ao abrir mão de tributos que, junto com a renúncia estadual, serviram apenas para manter a tarifa no preço atual, mas com descontentamento de ambos os lados. Perdeu a oportunidade de parar para acertar e não vai mais assumir o controle do negócio.

As ruas da cidade, num fenômeno impressionante, transformaram-se em tábuas de pirulitos, em alguns lugares há buracos que são a própria rua. O fluxo de serviços na área da saúde foi diminuído e a Secretaria, nesse perverso e lusitano centralismo administrativo, demora meses para atender solicitações básicas das unidades.

Em sinal de desprezo à legislação, determinou a montagem de um esquema com o Banco do Brasil, ao arrepio da Lei porque excludente dos demais bancos que poderiam prestar tal serviço, que envolve a impressão de carnês e o pagamento centralziado do IPTU nas agências daquele Banco. Determinou a celebração de convênio com o Sebrae objetivando, absurdamente, a cessão de dois funcionários daquele estabelecimento para atuarem como secretários, envolvendo nesse convênio, inclusive, um ignóbil repasse financeiro.

Agora, com a ficha caindo, parece ter percebido que a Prefeitura está quebrada e que o choque de gestão, por ele prometido, não ocorrerá. Começa a chegar-se, primeiro administrativamente, para o lado do governador que, por sinal, vai custear-lhe dois viadutos (que eram compromisso do Amazonino, não seu) e outros sonhos mais. Em breve, no meio do caos de sua administração, deverá facar-se com a fatura da Crítica. Esse pagamento eu quero ver.

 

09 abril, 2005

Santa embromazzione!
Por Fran Pacheco

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No Home Theater do apê da Hedô, os Terríveis
não perderam nenhum lance do funeral papal.


Basta! Finito! Tudo o que meus 2 neurônios conservados em éter (dá barato, confesso) tinham para falar sobre sucessão papal, já psicografei neste blogue. Está decidido. Não falo mais sobre o que rola entre os srs. batinas-vermelhas. Pelo menos não hoje*.

Convenhamos, seis dias de exéquias esgotam qualquer assunto. Mas a Globo tirou leite (tipo C) de pedra. No último e interminável dia de velório, sem ter mais para onde correr, Caco Barcellos penetrou na grande bicha (calma, minha senhura, “bicha” é “fila” em Portugal) e lá ficou durante dezenas de horas. Acompanhou duas italianas sorridentes que falavam português – uma tinha nascido no Bananone. Nel mezzo del camin, elas sumiram. Tinham um “contato” religioso e (ói o Jeitinho Universal aqui travez!) furaram a fila – foram direto à Basílica. Mas Caco (repórter e Muppet), seguiu ético e firme até o fim. Pauta é pauta.

Menção honrosa para o marido de Fátima Bernardes. Mal soube que o papa estava com o pé na cova, digo, na Cripta de S. Pedro, William Bonno picou a mula rapidinho do Projac para o Vaticano. Pobre Ilze Scanparini, que cobriu durante anos o pontificado. A jornalista mais elegante da Globo (ninguém consegue se vestir mal na Itália?) ficou relegada ao 3º ou 4º plano do que seria a matéria de sua vida. (Quando o Bush invadiu o Iraque, quede o “jornalista-que-quer-ficar-perto-da-história”? No Jardim Botânico, oras.)

Percebi que a coisa estava desandando quando Bonno passou uns cinco minutos mostrando uma imagem de satélite do Vaticano, descrevendo, curva por curva, beco por beco, a trajetória dos peregrinos. De outra feita, uma animação 3D mostrou como o papa ia ser enterrado. O bonequinho do de cujus flutuando e zás, é empacotado pelo primeiro, segundo e terceiro caixões. Depois, como num cenário daqueles games de adolescentes, (Doom? Counter Strike?), percorremos o subterrâneo da Basílica. Acho que vi um Osaminha 3D colocado atrás de uma coluna dórica por algum animador gaiato da Globotech. Aguardem. Em breve nas Lan Houses, jovens carolas vão estar caçando Osaminhas naquele cenário, com trilha hardcore do Padre Zezinho.

Para encerrar (por hoje) este assunto secular, tomo uma decisão premente: “Papabili”. Doravante só vou me referir aos pretendentes ao trono assim. Papabili. Essa história d’eu chamar Herr Ratzinger, o Magela e o Wolfowitz (favorito do Bush) de “papáveis” andou dando muito pano para mangas aqui no Club. Vou logo esclarecendo, amizade: papável para mim era a Adalgisa Colombo, a Luz del Fuego, a Elvira Pagã e as Certinhas do Lalau. Cardeal pra mim é tudo bush, digo, bucho!

* Passo a batata quente para Irmão Paulo, que destrinçou todos os mecanismos do Conclave e vai dar sua palavra final, direto de Ipanema ou Noviorque. Não adianta o Vaticano decretar o sigilo sobre as deliberações. Já sabemos de tudo.

 

Sabedoria do Além (LVIII)
Por Fran Pacheco

“É monstruoso como, hoje em dia, as pessoas vivem dizendo pelas nossas costas verdades terríveis e indiscutíveis contra nós.”
Oscar Wilde


 

08 abril, 2005

Roteiro para turistas mórbidos
Por Fran Pacheco

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"Por aqui, cavalheiros."


Entrar na fila para ver, durante 5 segundos, o corpo embalsamado do papa. Após 22 horas arrastando os pés, ter a sensação de que fila de banco é pinto. Desfrutar a oportunidade única de fazer as necessidades atrás das colunas medievais da Piazza San Pietro (fazer um mea culpa contrito depois). Refletir, indignado: “o Diabo é aquela mosca zoando no nariz do papa”. Vislumbrar a maior reunião de chefes de estado bundones desde o funeral de Nabucodonosor. Tentar pegar um autógrafo com o ucraniano envenenado, Viktor Yuschenko, antes que ele se decomponha. Na falta, serve o garrancho do rei da Bulgária (para provar aos céticos que a Bulgária existe). Pernoitar na residência oficial do embaixador Itamar Franco e certificar-se que ele ainda não aprendeu a falar italiano (conselho: não provocá-lo, ele pode ter um faniquito). Não se iluda: depois da passagem do efelentífimo Lula, o bar vai estar seco. Guardar como souvenir uma pena de pavão caída da cauda sorbonniana de FHC. Pegar o primeiro trem-bala para London-London e não perder o casório do Príncipe-Tampax Charles com a Duquesa da Cornualha (a “Biscoito”). Admirar-se com as samambaias de estimação do príncipe-herdeiro, que serão as damas de companhia de Camilla. Rumar sem pressa para a Côte D’Azur, onde a carcaça do príncipe Rainier III, pai de Stephanie de Monacô (cf. pronúncia de Paulo Ricardo in “Louras Geladas”) ficará à mostra por 9 dias no Cassino Royale. Refletir: “eu te perdôo, ó Rainier, por me teres roubado o amor de Grace”. Tudo sem pressa. Esses ritos mórbidos dos grandes nomes são lentos, muito lentos. Deliciosamente lentos.

 

06 abril, 2005

Um patrimônio imaterial do Amazonas
Por Fran Pacheco

Nos raros momentos em que não está em França, ou fazendo shows (com cachê dobrado desde que entrou pro 1º escalão), o ministro Gilberto Gil se dedica a tombar o patrimônio imaterial brasileiro. Do acarajé à viola de cocho, das paneleiras de Goiabeiras ao que encontrarem de pitoresco pelo Bananão adentro. Estão tombando de um tudo.

Pois aí vai a minha humílima proposta a quem de direito possa interessar. Tombar o nosso boi-bumbá de Parintins é desnecessário - ele é auto-sustentável. É preciso cuidar de expressões culturais ameaçadas de extinção. Como o indefectível hábito, tão nosso, tão regional, de apontar para os lugares com os beiços.

Os italianos falam com as mãos. Nós as dispensamos. Quando queremos apontar para algum lugar, dispensamos até o "ali!" - usamos uma projeção imponente, eloqüente dos beiços contraídos.

Essa expressão popular deve ser tombada com urgência. Já estamos quase falando com sotaque da Globo (a Daniela Assayag já fala fluentemente) e chegará o dia em que desistiremos até de falar o Português. Nos tornaremos*, todos, orgulhosos americanos de terceira classe. Neste futuro quase presente, quando errarmos com nossa nacionalidade clandestina pelo Central Park, só nos restará a esperança de perguntar a alguém onde fica a street tal - e ele, todo encapotado, apontar com os beiços.

"Um dos nossos!"
, pensaremos com nostálgico ufanismo.

* Tornar-nos-emos é horrendo e o Pasquale há de concordar comigo.

 

05 abril, 2005

A razão da minha melancolia
Por Fran Pacheco

Image hosted by Photobucket.comMelancolia. No meu tempo os sábios europeus ainda não haviam inventado a depressão. Melancolia - essa era a palavra - se curava com formicida no guaraná ou acendendo querosene na banheira. No meu tempo os homens ficavam neurastênicos, as mulheres histéricas* e todos eram mais baixinhos (dois palmos mais ou menos) posto que ninguém comia biscoitos vitaminados. Havia em cada sala, num canto, uma elegante escarradeira de porcelana - e mais de 200 tipos de tosses e pigarros. Nos concertos e saraus não havia os odientos ringtones de telefones móveis - havia as tosses (podem conferir, em antigas gravações ao vivo). E tosse convém não se pôr para vibrar.

Mas a razão por minh'alma estar triste talvez seja que eu ande ouvindo demais, no Museu da Imagem e do Som, o clássico lacrimogêneo Coração de Luto, mais conhecido pelo carinhoso apodo de "Churrasquinho de Mãe", na voz de Teixeirinha. Para os mais novos (entenda-se por isso menores de 80 anos), ouvir as desventuras do pequeno capiau cuja genitora virou paçoca é um passatempo que desrecomendo.

No meu tempo havia música assim, triste de fazer chorar. Hoje, são ruins de fazer chorar.

* Histeria, literalmente furor uterino. Neurose típica da Belle Époque. Freud se esbaldou com ela no divã. Nada ver com a macaquice de gritar em programa de auditório, na frente do Felipe Dylon.

 

03 abril, 2005

Na hora da Indesejada
Por Fran Pacheco

“Sarah... quem estar tomando conta da loja?”
Jacob, no último suspiro.


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Proferir uma frase lapidar, pouco antes de vestir o paletó de madeira não é tarefa para qualquer um. Mesmo grandes cabeças, como Sócrates, podem legar aos pósteros uma sentença insossa como: “Devo um galo a Esclépio.” Talvez o velho amigo dos efebos já estivesse mais pra lá do que pra cá, sob efeito daquela overdose de cicuta.

Ao contrário do veneno grego, a decapitação pareceu inspirar melhor os pescoços famosos. O revolucionário francês Georges Jacques Danton, ao subir no cadafalso, sugeriu todo cheio de si para o carrasco: “Não deixe de mostrar minha cabeça ao povo. Por muito tempo não verão nada igual!”. Já Sir Walter Raleigh, no que viu o tamanho do machado do verdugo, manteve a fleugma britânica e ponderou: “É deveras um remédio violento. Mas cura qualquer doença.” Luís XVI desejou magnânimo, aos ex-súditos que se acotovelavam na Place de La Concorde para ver sua régia cabeça rolar no balde: “Que o meu sangue possa cimentar a vossa felicidade.” Já Ana Bolena, quando deitou a delicada cabecinha no cepo, suspirou: “O carrasco é muito experiente, eu espero. Meu pescoço é muito fino.” E a pequena disse adeus ao Mundo.

A presunção mortuária de Danton só perde para a de Nero, que manteve seu estilo bufônico até na hora de esticar o pernil: “Qualis artifix pereo!” Traduzindo, para quem não teve Latim na escola: “Que grande artista o mundo perde!”. Há, no entanto, quem jure de pés juntos que o piromaníaco romano tenha dito “que grande artista morre dentro de mim” – para em seguida entregar a alma sebosa a Júpiter.

Lord Byron, poeta e devasso, fez saber que ia puxar um ronco. E defuntou. Uma empulhação histórica transformou seu aviso banal no pomposo “É chegada a ocasião de descansar!” Mais ou menos o que aconteceu ao general francês Cambronne, que cercado pelos ingleses em Waterloo, mandou todos à “Merda!” Seu impropério ficou registrado, inclusive em sua estátua, como “A Guarda morre mas não se entrega!”

“Estou muito mal.” – sussurrou o nibelungo Richard Wagner para sua esposa, Cosima Liszt. Estava mesmo, tanto que logo em seguida bateu a alcatra na terra ingrata. Quem também sentiu que a coisa estava mais preta que a asa da graúna foi o alagoano Graciliano Ramos, que declarou: “Estou acabado.” – e não “Mamãezinha!”, como querem muitos. Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, ao contrário do que reza o senso comum, não se despediu com o “Fulana, estou apagando”, que é a cara dele. Simplesmente pediu que a empregada não o espiasse, pouco antes de espichar a canela.

Quem se manteve fiel ao seu estilo foi Oscar Wilde. Nem na hora de comer capim pela raiz desperdiçou um witticism. Pediu um champanha e comentou: “Morro como sempre vivi. Além das minhas posses.” E nada mais falou.

“Como foi a venda de ingressos hoje no Madison Square Garden?”
, perguntou o empresário do circo de horrores, P.T. Barnum ( que nos legou a máxima “nasce um otário a cada minuto”). Antes de receber o balanço da bilheteria, feneceu. O Visconde de Taunay foi cavalheiro até na hora de bafuntar: “Chegou a morte. Devemos tirar-lhe o chapéu.” Tirou e, ato contínuo, vestiu o pijama de madeira. “Mais luz!”, clamou Goethe - e apagou.

Thomas Carlyle ficou decepcionado (ou aliviado), na hora de deixar a casca: “Então morrer é assim? Ora...”. O verborrágico James Joyce foi sucinto e desabafou: “Será que ninguém me entende?" Pergunta que caberia melhor ao farewell de Albert Einstein. Quando embarcou dessa para a melhor, o velho físico que mostrava a língua proferiu suas últimas palavras em alemão. A enfermeira, americana, não entendeu patavinas. Essa vamos ficar devendo.

 

02 abril, 2005

Franz & Fernando
Por Fran Pacheco

Nunca me conformei com a timidez de certos gênios como Fernando Pessoa e Franz Kafka, que deixaram a maior parte de seus legados em baús empoeirados. O Livro do Desassossego, um monumental, fragmentário e genial projeto inacabado de Pessoa renderia o melhor blogue de língua portuguesa já escrito.

O caso de Kafka era mais grave. Ele não só manteve inéditos os manuscritos de colossos como O Processo e O Castelo como instruiu seu amigo Max Brod a queimar tudo - eutanásia literária felizmente abortada.

Por que esconder e incinerar a obra de uma vida? Conjecturo. Talvez Kafka, franzino, tísico e theco (coitado) nunca tenha se recuperado de alguma visita ao editor, quem sabe para avaliar O Processo. "Franz, meu jovem, li a sua papelada de cabo a rabo", teria dito o velho homem de negócios, com a cara fechada. E o pobre Kafka suando frio, já meio atrasado para o expediente. "Explica uma coisa, Franz. Esste tal de José K, esse K vem a ser de quê, mesmo?"

Franz engoliu seco. Sua maior fobia (depois de baratas) era dar explicações. "Se-senhor?"

"É parente seu? E por que tanta coisa vaga? Por que tantas pessoas sem nome? E mais uma coisa, Franz... explica para mim. Por que diabos esse tal de José K está sendo processado, homem de Deus?!"

Franz tremeu-se dos pés às orelhas, teve um acesso de hemoptise e nunca mais pisou naquela ou em qualquer outra pocilga.

 

A matéria morte
Por Fran Pacheco

A morte agora é online e step-by-step. Ou post a post. Isso quer dizer que ninguém mais passa mal e morre. Isso foi no tempo dos boletins médicos diários - como aqueles que garantiam que o Tancredo estava melhorando, até que o último press-release anunciou a sua morte. Agora cada aproximação da "indesejada" gera notícia - e audiência. Embora o protagonista esteja desenganado, todos querem saber - como no painel do pregão da Wall Street - de cada elevação de 1 grau em sua febre, cada baixa da pressão, cada perda gradual de algum reflexo, cada falência de cada víscera. Até chegar a hora do fatídico jingle do "Plantão da Globo".

E ainda virão as exéquias. Vocês não imaginam quanta mesa-redonda vão render as exéquias.

 

E onde entra Jesus?
Por irmão Paulo

O que ocorre na fé católica quando morre o papa? Nas bases, por assim dizer, além da agonia emocional dos fiéis, nada de grave se registra. Na alta cúpula da Igreja de Roma, uma vez vaga a Sé Apostólica, em princípio, instaura-se o Caos. Por isso mesmo, nas palavras do papa, “os Sumos Pontífices, ao longo dos séculos, consideraram seu preciso dever, e igualmente específico direito, regular, com normas adequadas, a boa ordem na eleição do Sucessor”. João Paulo II foi mais além ao promulgar sua Constituição Apostólica UNIVERSI DOMINICI GREGIS, na qual dispõe nos mínimos detalhes quais os poderes do Colégio dos Cardeais e qual será o papel de cada cardeal com cargo (Camerlengo, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e outros) durante a vacância da Sé, como deverão ser celebradas as exéquias do Romano Pontífice e, enfim, as regras do conclave e eleição.

Em sua Constituição Apostólica, João Paulo II, talvez ciente das fraquezas da carne, preambularmente desfia o passo a passo que será dado por seus subalternos até a assunção do novo sumo pontífice. Assim, confirma o Código de Direito Canônico e reitera, que o “Colégio dos eleitores do Sumo Pontífice é constituído unicamente pelos Padres Cardeais da Santa Igreja Romana”, limitados estes a 120 purpurados, “provenientes de todas as partes da terra e das mais diversas culturas” e, mantendo norma estabelecida por seu predecessor Paulo VI, com menos de 80 anos. Confirma, ainda, a “permanência do Conclave” e, considerando a “sacralidade do ato”, achando conveniente que o mesmo se realize numa “sede condigna”, dispõe que a “eleição continue a desenrolar-se na Capela Sistina, onde tudo concorre para avivar a consciência da presença de Deus”. Por fim, ciente de que o segredo é alma do negócio, confirma o dever de silêncio sobre tudo o que diga respeito à eleição, simplificando e reduzindo “ao essencial as normas respectivas, para evitar perplexidades e dúvidas”, determinando ao final que os eleitores manifestem o seu voto através do “escrutínio secreto”.

Morto o papa, assim que receber a notícia, o Camerlengo deve constatar oficialmente a morte, talvez segundo a tradição golpeando-lhe gentilmente a fronte com um martelo de ouro e repetindo seu nome três vezes: Karol Wojtila, Karol Wojtila, Karol Wojtila; retirar o anel do pescador, corta-lo com tesouras e destruir o selo papal com o mesmo martelo. Isso na presença do Mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dos Prelados Clérigos da Câmara Apostólica e do Secretário e Chanceler da mesma. Em seguida, o Cardeal Camerlengo deve aplicar os sigilos no escritório e no quarto do Pontífice, Após, deve participar o seu falecimento ao Cardeal Vigário para a diocese de Roma, o qual dará a notícia ao Povo Romano.

As exéquias, em sufrágio da sua alma, serão celebradas durante nove dias consecutivos. Ninguém poderá fotografar nem captar imagens, seja pelo meio que for, do Sumo Pontífice, quer doente quer já defunto, nem registrar sua voz para depois reproduzi-las.

continua...

 

01 abril, 2005

As Sandálias do Pescador
Por Fran Pacheco

O site da Reuters confirma que George W. Bush tem "sérias intenções de indicar um nome de sua confiança para o trono de S. Pedro". Especialistas em direito canônico ouvidos pela AFP confirmam que qualquer "homem no uso da razão, não necessariamente bispo" pode ser escolhido o novo Papa pelo conclave de cardeais a se realizar nos próximos dias. Isso incluiria Paul Wolfowitz, mentor da Guerra do Iraque, na disputa. O que deixaria os neoconservadores americanos com a faca, o queijo, a cruz e a espada nas mãos. No mundo pós 11 de Setembro, everything is possible.

(Post inevitavelmente datado, perdendo a validade ao fim deste 1º de abril.)

 

Causo
Por Fran Pacheco

Serafim, o portuga, estava preso numa masmorra, ao lado da cela de um leproso. Um dia, para seu espanto, o leproso desatarrachou um dedo da mão e pimba! Jogou pela janela. À parte o espanto, Serafim ficou com a pulga atrás da orelha. No outro dia, por sinal, o leproso coçou a própria orelha e ela caiu. E zás! Atirou pela janela. Serafim ficou agitadíssimo. Até que, no dia seguinte, o nariz do leproso caiu e, kaput! Lá se foi o nariz pela janela. Serafim não se conteve e chamou o carcereiro, em pânico: “Quero falaire com o diretoire! Quero falaire com o diretoire!” E foi logo entregando: “o sujeito ao lado está a fugire aos pouquinhos!”