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24 março, 2007

Trânsito: tem jeitinho?
Por Fran Pacheco

Pode até ser que haja vida inteligente em algum ponto remoto do universo. Nos órgãos de planejamento de trânsito da cidade não tem. Mesmo assim, as ôtoridades ditas competentes não desistem de ter “idéias”, as quais se chamássemos de “idéias de girico” incorreríamos em deplorável eufemismo.

Se conhecermos, porém, um pouco da psicologia animal, até que podemos entender o drama que aflige as rudimentares estruturas nervosas dos planejadores do tráfego urbano. Enquanto metade da cidade reclama da emputecente lentidão do trânsito a outra se queixa da velocidade homicida praticada por uma vasta legião de viúvas e viúvos do Senna. O último tecnocrata que tentou conciliar essa antítese, só de pensar no que diabos é “antítese” viu aterrorizado seus miolos escorrem fervendo pelas fuças.

Sem falar no problema dos suicidas, aqueles pobres coitados que desistem de tudo e decidem atravessar na faixa de pedestre – mas esses males d´alma estão fora de nossa alçada. O que podemos, e devemos, como deformadores de opinião, é primeiro ajudar, ou melhor, adestrar a municipalidade a parar de fazer coisinha feia por aí. Segundo, a saírem do muro e decidirem de uma vez por todas entre o caos e a esculhambação. Terceiro, a implantarem a Secretaria Extraordinária de Gambiarras à qual eu prontamente enviaria minhas próprias, royalty-free e muy viáveis...

Propostas para combater os excessos de velocidade nas ruas da cidade:

  • Correria se combate com engarrafamento. Aos apressadinhos, a municipalidade deve criar culhões e dizer em cadeia de rádio e TV: “Queriam o quê? Andar a 200 por hora que nem que na Alemanha? Taqui esse engarrafamento procês. Autobahn é o cacete!”
  • Equipar as vias com vasto sortimento de buracos, fendas, canyons, atoleiros e calombos, devidamente sinalizados (“Área de Conservação Permanente de Crateras; “Cuidado! Lombadas Camufladas.”)
  • Em casos extremos, retirar a cobertura asfáltica da pista e substituí-la por mata cerrada.
  • Instalação de chancelas nas faixas de pedestres.
  • Contratação emergencial, sem concurso público, de mil loiras de parar o trânsito.
  • Alargamento dos canteiros centrais de forma a tomarem a maior parte, se não toda a extensão da via trafegável.
  • Encenação de trombadas, engavetamentos e hecatombes em pontos estratégicos, com direito a gelo-seco e dublês gemebundos, cobertos de ketchup. Não tem quem não pare pra olhar.

Propostas para reduzir os congestionamentos nas ruas da cidade:

  • Promover o acesso gratuito e universal da população a cursos de paraquedismo, e possibilitar a todo cidadão ser jogado do alto de aviões Hércules da FAB diretamente sobre seu local de trabalho.
  • Implantar a jornada de trabalho de 40 horas semanais. Seguidas, para ninguém ficar nessa de ir e voltar do trabalho todo santo dia. O horário do almoço pode ser substituído facilmente com o uso de soro fisiológico.
  • Promover gestões junto às montadoras para reduzir em 30% o comprimento dos veículos, o que por si só reduziria em 30% a extensão dos engarrafamentos.
  • Implantação de um programa de emigração voluntária, com perdão total de dívidas de IPVA, IPTU, auto de infração, auto de fé e o diabo a quatro, a quem quiser dar o fora da cidade (levando o carro junto, é claro). Concomitantemente, promover ampla divulgação na mídia nacional de epidemias, assaltos, chacinas e atrocidades administrativas ocorridas na cidade "de formas" que qualquer valente pense duas vezes antes de não se mudar para cá com seu carro a tiracolo.

Por fim, caso faleça às autoridades a vontade política para implantar tão singelas medidas, que pelo menos acabem com a Voz do Brasil! Engarrafamento ao som de Voz do Brasil é meio caminho para o câncer.


 

11 março, 2007

Em defesa do baixinho
Por Fran Pacheco

Os sarcásticos e mordazes analistas de futebol (oficiozinho quase tão micha quanto o de “crítico de TV” ou “blogueiro formador de opinião”), em sua grande maioria membros da grande conspiração rubro-negra para conquistar o mundo (“Rumo a Tóquio 2007”), estão se esbaldando com a derradeira e solitária saga do Sr. Romário de Souza Faria, quadragenário, em busca de seu acalentado milésimo tento (era assim que se grafava “gol” quando Romário nasceu).

Francamente, senhores, nunca se viu tanto deboche, tanta acidez despejada contra a melhor idade! Contra o apogeu da medicina geriátrica, que permite ao provecto desportista o prodígio de dar seus bicões sem se desmilingüir. Ou arriscar cabeçadas, com suas veneráveis cãs, desdenhando o risco de um AVC. Não se respeita nem mesmo o respeito demonstrado pelos backs (“zagueiros”, na linguagem hodierna) adversários, que abrem passagem para o herói pátrio, o founding father do Tetra, sem ousar molestá-lo, assim como qualquer gentil-homem cederia seu assento no bond para, digamos, Henriqueta Brieba.

Podem rir-se da personalíssima contabilidade do imortal (ao que tudo indica) ludopedista de Jacarezinho, que aplica dribles desconcertantes na aritmética dita “clássica” e aglomera, no hiperespaço da pequena área, todos os seus tentos, digo goals, digo gols, mas todos mesmo, anotados desde priscas eras em papiros secretos, incluindo os marcados em várzeas já extintas, quermesses, churrascos de fim-de-semana, partidas de pebolim (totó) – e também os gols marcados por sósias, dublês e entusiastas dos mil golos. A maioria das testemunhas desses obscuros e controversos factos, é verdade, já faleceu ou não mais responde a provocações (e estímulos em geral). Essa controvérsia, das mais áridas e bizantinas (“credo quia absurdum”, resolveria numa só tacada o devoto), ficará em aberto, reservada para os decifradores de pergaminhos e palimpsestos – ou James Cameron, quem sabe.

Enquanto isso, fiquem vocês com os cro-magnons importados, com o Rocky XXIII, o Rambo XLVIII, Indiana Jones & o Corega Sagrado.... e não contrariem demais o baixinho! Acreditando ou não nos mil gols, é nosso dever humanitário torcer (ou zelar) para que ele chegue pelo menos lúcido até lá.

 

07 março, 2007

A hora do Cachação
Por Fran Pacheco

Camaradinhas, verdade é essa: tudo nesse mundão precisa de uma mãozinha americana para funcionar (a começar pela Europa velha de guerra, que sem a grana do Plano Marshall hoje seria uma imensa Albânia). Claro, há exceções: os nativos da Papua Nova-Guiné ainda devem fabricar orgulhosamente seus próprios atabaques (embora eu desconfie que é tudo jogo de cena – de noite eles assistem Baretta, que eu sei).

O que eu quero dizer, se me permitem uma pausa para um gole, é o seguinte. Foi só o talebã americano assumir que está mesmo afinzão do tal etanol brasileiro, que os nossos cromossomos monocultores ficaram todos ouriçados (“Plantation! Plantation!”). E, forçoso admitir, com mais um gole dessa purinha: têm toda razão. Esse negócio de o país ser tristemente alcunhado de “Bananão” já não estava casando bem com o nosso perfil muderno. Do Presidente a qualquer bicudo de menor patente, todos sabem, está na cara congestionada e no andar trôpego da nação: a verdadeira vocação nacional é o arco (que é como chamam álcool lá em Minas).

E arco do bão, como o aiatolá americano em breve sentirá no brinde protocolar com nosso companhêro conoisseur. Mas tem de ser um brindão daqueles, em copinho profissional, uma talagada só, profunda, de marcar a garganta de Mr. President a fogo. Afinal, será o gesto simbólico, embora ardido, que selará nosso upgrade de república de bananas para república da cana - a verdadeira Arábia da Mardita.

Só mesmo no gozo cerimonial daquela intimidade de bêbado, com uma mãozinha americana no nosso ombro dizendo pastosamente “sou teu amigo... te considero pra caramba...” que nosso adorado Bananão finalmente assumirá (tentando fazer um quatro sozinho, quem sabe, “me larga, porra!”) que esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Ainda vai se tornar um imenso Cachação.


 

01 março, 2007

A culpa é do cálculo
Por Fran Pacheco

Mais uma vez somos muy gratos ao Haiti por ser o único favelão da América Latina a ter um crescimento do pibe menor que o brasileiro. Ah, um dia o Haiti ainda vai perceber sua verdadeira vocação na nova zorra mundial - a de segurar lanterna e pagar mico pros outros - e pedir nos semáforos uma gorjetinha dos demais países fuleiros do mundo.

Mas e quanto ao nosso pibe muxiba, de quem é a culpa por tão vexatório resultado? Do cálculo, ora pois! Onde já se viu não darmos o devido peso, na tal fórmula, ao fabuloso crescimento do PIB e da renda per capita dos nossos “nobres representantes”? Em quatro anos de boca-libre, o PIB do Chinaglia cresceu escalafobéticos 179%. Mixaria se comparado ao da deputada Andréia Zito (PSDB), que inflou 715%. Sem falar no “Primeiro-PIB”, o do efelentífimo, que veio a dobrar – fazendo comer poeira o crescimento da China, Índia e Rússia juntas.

Imagine agora a quantas não deve andar o PIB do Okamoto, do Marcos Careca, do Dirrceu, do Bob Jefferson, do Janene, do China (Gushiken) e de tantous outros, digamos, empreendedores controversos caídos no esquecimento? Eu pergunto: pode um país submergente como o nosso desprezar tamanho espetáculo do crescimento? Não pode. Ou tiramos uma casquinha do PIB dos “companhero” ou filiemo-nos todos ao PT.