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11 março, 2007

Em defesa do baixinho
Por Fran Pacheco

Os sarcásticos e mordazes analistas de futebol (oficiozinho quase tão micha quanto o de “crítico de TV” ou “blogueiro formador de opinião”), em sua grande maioria membros da grande conspiração rubro-negra para conquistar o mundo (“Rumo a Tóquio 2007”), estão se esbaldando com a derradeira e solitária saga do Sr. Romário de Souza Faria, quadragenário, em busca de seu acalentado milésimo tento (era assim que se grafava “gol” quando Romário nasceu).

Francamente, senhores, nunca se viu tanto deboche, tanta acidez despejada contra a melhor idade! Contra o apogeu da medicina geriátrica, que permite ao provecto desportista o prodígio de dar seus bicões sem se desmilingüir. Ou arriscar cabeçadas, com suas veneráveis cãs, desdenhando o risco de um AVC. Não se respeita nem mesmo o respeito demonstrado pelos backs (“zagueiros”, na linguagem hodierna) adversários, que abrem passagem para o herói pátrio, o founding father do Tetra, sem ousar molestá-lo, assim como qualquer gentil-homem cederia seu assento no bond para, digamos, Henriqueta Brieba.

Podem rir-se da personalíssima contabilidade do imortal (ao que tudo indica) ludopedista de Jacarezinho, que aplica dribles desconcertantes na aritmética dita “clássica” e aglomera, no hiperespaço da pequena área, todos os seus tentos, digo goals, digo gols, mas todos mesmo, anotados desde priscas eras em papiros secretos, incluindo os marcados em várzeas já extintas, quermesses, churrascos de fim-de-semana, partidas de pebolim (totó) – e também os gols marcados por sósias, dublês e entusiastas dos mil golos. A maioria das testemunhas desses obscuros e controversos factos, é verdade, já faleceu ou não mais responde a provocações (e estímulos em geral). Essa controvérsia, das mais áridas e bizantinas (“credo quia absurdum”, resolveria numa só tacada o devoto), ficará em aberto, reservada para os decifradores de pergaminhos e palimpsestos – ou James Cameron, quem sabe.

Enquanto isso, fiquem vocês com os cro-magnons importados, com o Rocky XXIII, o Rambo XLVIII, Indiana Jones & o Corega Sagrado.... e não contrariem demais o baixinho! Acreditando ou não nos mil gols, é nosso dever humanitário torcer (ou zelar) para que ele chegue pelo menos lúcido até lá.