O jogo dos sete erros
Por Fran Pacheco
1) A estética “Homem da Camisa Suada”, já bastante surrada, cede lugar, por força do enquadramento fechado, ao estilo “Cabôco que Não Tem Tempo Nem de Passar Sabão na Cara”. O detalhe da secreção prestes a pingar do nariz é verdadeira pérola do que Cartier chama de “capturar o momento decisivo”. No entanto, a primeira impressão da platéia não foi “oh! Esse aí ganha o pão com o suor da cara”. Antes fosse, pois se dependesse das glândulas sudoríparas e sebáceas para viver, o Coisa Ruim nem precisaria ter recorrido à política como tábua de salvação (e que Salvação!). Seria um pujante pólo exportador de vinagre. Em verdade, entreouviu-se alguns discretos “Vige, que nojo...”, seguidos, evidentemente, do protocolar “Adorei, tá fofo, chefinho!”
2) O cabelo desgrenhado e encanecido em tons de “Pompéia devastada pelo Vesúvio” poderia denotar que “esse sim, é um cara vivido paca”. Mas no caso indica apenas que “o vivaldino nem penteia mais o cabelo, já.” Em matéria de valetes, portanto, Gilberto Mestrinho ainda leva vantagem, pois gozou, no remoto apogeu de três fieis escudeiros capazes até de limpar-lhe a cetácea bunda, se preciso fosse. Sabino, Tiradentes, Cavalcante, habilitai-vos, rapaziada! Antes que um Pé Frio qualquer lhes tome o lugar...
3) A testa um tanto quanto pronunciada rebrilha em tons semi-cadavéricos, denunciando que por ali já correu muita, mas muita toxina botulínica, talvez demais da conta. Agora não tem mais jeito. Nessa terra arrasada talvez só um tratamento experimental com células-tronco para recuperar um quê de mobilidade e expressividade.
4) A boquinha contraída, enigmááática, como diria Hedô, mezzo La Gioconda, mezzo Cesar Romero (ainda o top Coringa). Afinal, ele estaria contendo a iminente explosão de uma gargalhada sardônica? E de quem ele riria, prezado eleitor? Dos lesos? Mas quem são os lesos?... Estaria deglutindo uma tapioca de tucumã (o ponto branco acima do lábio é suor ou resíduo alimentar? Nhg...) servida por algum xerimbabo? Inserida no contexto geral da carranca, parece indicar que ele está apreciando mesmo seu prato predileto, a vingança. Fria e pelas bordas, comme il faut.
5) O olhar diz tudo: esse aí tá armando... As olheiras cavas e o discreto estrabismo são de somenos. O olhar é a janela da alma. Vamos brincar de voyeur e espiar por essa brecha. Tape com as mãos a parte de cima e a de baixo do rosto, deixando somente os olhos do retratado descobertos. Agora, olhos nos olhos. O quê?! Você teve um espasmo e levantou instintivamente os braços? Calma, relaxe, pare de entregar a carteira, pare!
6) A tentativa de se conseguir um flagrante “natural”, não posado, até que daria certo se o Negão não fosse o tremendo canastra que é. O naturalismo alcançado pela moderna dramaturgia televisiva, que atingiu o clímax com a estética da velhota babada, fez com que intérpretes à moda antiga como Mazoca, Boto Tucuxi e mesmo suas metástases como o Cadeirudo soem tão artificiais como um Rodolfo Valentino ou Ramon Novarro fazendo caras e bocas cheios de pancake na cara e rímel nos olhos, num dramalhão de Glória Magadan. O estilo cênico do Capiroto, ainda que eternamente exaltado pelos cupinchas de aluguel, hoje só se adequaria a um Zorra Total ou Hemes & Renato. E olhe lá.
7) Embora não faça parte da carranca em si, o slogan “O Governador de Todos” é emblemático. A rigor não quer dizer nada, mas pode-se intuir a intenção do time de criativos abelhudos em afagar o megalômano ego do Capiroto. Mais modesto era Mané Ribeiro (alguém lembra do portuga?), com seu dístico “O meu Prefeito” – ou seja, só dos pascácios. Amazonino ainda se julga, em seus delírios de puder, o Grande Sátrapa, o Comandante-em-Chefe de todas as almas da província. Mas o slogan valeu pelo “T” maiúsculo, que ao menos tenta levantar o moral dos “todos” sob a possível tutela do Negão (toc toc toc).
Por essas e por outras, lamentamos do fundo do túmulo a iminente defenestração deste precioso material gráfico. Pelo contrário, recomendamos veementemente a sua proliferação. Tão educativo como as desgraças impressas nos maços de cigarros, poderia abrir caminho para uma nova tendência de antimarketing político, revelando os candidatos sem retoques e sem glamour, tal como eles são: nocivos à saúde. Afinal, o caráter de um homem deixa sim, marcas em seu invólucro físico - ainda mais se este caráter vem aprontando das suas por décadas a fio. Sem o embuste da computação gráfica, os lobos em pele de cordeiro parecerão, simplesmente, lobos. Há quem goste.