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30 março, 2005

O iluminado
Por Fran Pacheco

Descobri ter sido torpemente enganado, em criança, por minhas professoras Mme. Genoux e Melle. Petite (ninfomaníaca-depressiva). Anos despendidos para aprender mal et pourquement a ler e escrever em Francês (falar nunca foi meu forte). Quem alumiou minhas idéias foi o omnipresente Paul Rabbit. O Merlin das belles-letres conta que, quando estreou na França, sua editora lamentou que ele não falasse o idioma de Molière. Coelhô não se fez de rogado. Entrou num curso e - diz ele - 3 meses depois (repetindo, três meses depois) estava dando palestras e entrevistas na terra de Rimbaud. A nós, mortais, só resta mesmo invejar um gênio desses. E exigir um pingo de celeridade aos professores da Alliance Française.


 

29 março, 2005

Antologia da vaia (3)
Por Fran Pacheco

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Onze de janeiro de 1985. Dia inaugural do primeiro Rock in Rio. As hordas de visigodos e ostrogodos que tomaram de assalto os gramados de Jacarepaguá à espera dos grãos-mestres do Iron Maiden e Whitesnake mal acreditaram em suas dilatadas pupilas. Um senhor meio careca, já no avançado dos anos, trajando um coletinho de couro repleto de tachinhas despontou no palco e martelou com toda pinta de bad-boy: “Preciso lembrar... que eu existo... eu existo, eu existo...”. Os hunos não entenderam nada e limitaram-se a ruminar o próprio vômito. Os mongóis começaram a ver aquilo como uma séria provocação a seus deuses ancestrais. “Hey mãe! Não sou mais menino...”, cantarolava, absorto diante de sua imaginária platéia de tietes do programa Jovem Guarda, o veterano Erasmo Carlos. Aquilo não tinha como dar certo.

Nota: horas antes, as caravanas de metaleiros foram submetidas, sadicamente, a um pré-show de Ney Matogrosso, que além de trocar de roupa em pleno palco, respondeu gentilmente aos apupos com um “vão se foder”. Em falsete. Aquilo despertou a cólera dos vikings.

Quando o Tremendão arrematou com “um dia gatinha manhosa eu prendo você / no meu coração...”, foi a gota de nitroglicerina na fúria secular dos bárbaros. A suposta profecia de Nostradamus, divulgada naquele verão, parecia estar prestes a se confirmar: “um grande encontro de jovens na América do Sul perto do final do século XX terminará com uma tragédia que causará a morte de milhares de pessoas.”

Felizmente, o vaticínio era pura invenção de bar e a hecatombe se limitou a uma descomunal vaia de 1 Megaton, com uma tempestade de pedregulhos e imprecações na língua das feras, que praticamente enxotaram o Tremendão da ribalta. O tio-avô do rock quase foi esfolado vivo naquela noite.

Os organizadores do evento não aprenderam nada, absolutamente nada, com o incidente. Na segunda edição do festival, em 91, lá estavam os devotos de Judas Priest, Guns n’ Roses, Megadeth, Queensryche, e Sepultura diante do pop-rock-experimental-cabeça de Lobão. Aquele festival ficou marcado menos pelas vaias e mais pelas gargalhadas de desprezo provocadas por atrações polichinelas, como Inimigos do Rei (com os hits “Adelaide, Minha Anã Paraguaia” e “Barata Kafka”, pfiu). O limítrofe Supla e o zumbi andrógino Serguei também deram o tom de freak show ao evento.

Mas o, digamos, choque de estéticas, ficou reservado ao Sr. Lobão, que resolveu estimular os metaleiros com a... bateria da Mangueira! O contra-ataque ideológico foi rápido e esmagador, com uma saraivada de latas cheias de urina e uma vaia animalesca, das maiores ouvidas desde a queda de Roma. Ao pop-roqueiro-cabeça só restou uma opção: mostrar o eloqüente dedo para a platéia ensandecida e refugiar-se no Tibete.

Quem não fugiu do confronto, na terceira edição do evento, em 2001 foi o baiano Carlinhos Brown. Jogado às feras, para abrir mais um show de rock pesado, Carlito Marrom despertou, com sua batucada, a total indiferença dos metaleiros. Não satisfeito com os rumos da coisa, o timbaleiro decidiu fazer sua performance no meio da platéia, o que de fato animou as bestas-feras – a trucidá-lo. Evocando a proteção dos deuses, Mr. Marrom avisou às latas que lhe eram atiradas “Podem atirar! Eu sou da paz! Nada me atinge!”. Atingia sim, e o genro mais famoso de Chico Buarque praticamente quebrou o recorde dos 100 metros rasos para escapar com as tranças inteiras daquele corredor polonês de latas e dejetos despejados pela horda descontrolada.

De volta ao palco, Carlitos - após checar que estava com todos os membros no lugar - seguiu sua apresentação e pediu para quem fosse “da paz” que levantasse a mão. A legião de Trolls levantou os dedos. “Não adianta gostar de nada quando se é ignorante.”, ponderou o tribalista, para concluir sugestivamente: “E o dedinho pode enfiar no traseiro!”

Definitivamente, nem as vaias nem os baianos são mais os mesmos.

 

27 março, 2005

Zero à esquerda
Por Fran Pacheco

Antes de ser eleito, Lula despertava o medo entre os "conservadores" e a esperança entre os "progressistas". É notável como ele não cumpriu as expectativas de nenhuma das partes.

 

Perversidade sexual no Erário
Por Fran Pacheco

A verdade, dotô, é que os hômi de cima, bem de cima, só gostam de botar atrás, bem atrás, da coisa pública.

 

Dois conceitos de mobilização popular
Por Fran Pacheco

França
Milhões de cidadãos preparam-se para o grande referendo sobre a Constituição Européia. Pesquisas indicam que o "Non" tem pequena vantagem sobre o "Oui".

Brasil
Milhões de telespectadores se preparam para a grande final do Big Brother. Pesquisas indicam que o "Jean" tem pequena vantagem sobre a "Grazi".

 

25 março, 2005

Sem misericórdia
Por Fran Pacheco

A americana Terri Schiavo, condenada a uma eutanásia lenta, gradual e inexorável, completou 1 semana sem receber água ou alimentação. Adquiriu, segundo os pais, a aparência de um prisioneiro de campo de concentração. Sem querer, as autoridades judiciais que permitiram o desligamento dos aparelhos de Terri prestaram um grande serviço aos que condenam a eutanásia de pacientes sem perspectivas. Afinal, matar (ou deixar morrer) alguém de fome, minguando durante dias, não parece uma opção muito racional à manutenção vegetativa da vida por aparelhos. Toma ares de pura crueldade, como aqueles enforcamentos nazistas, com corda de piano - lentos, lentos. Onde está o velho tiro (agora injeção) de misericórdia?

Boa Páscoa.

 

23 março, 2005

Não deixem de ler "O Zahir"
Por Fran Pacheco

Image hosted by Photobucket.comZahir, em árabe quer dizer "o evidente", "o visível". Em tal sentido, é um dos noventa e nove nomes de Deus. Numa passagem do Asrar Nama, o Zahir é descrito como "a sombra da Rosa e a rasgadura do Véu". O Zahir assume várias formas, ao longo da História, e quem o vê uma vez torna-se obcecado, a ponto de só pensar nele, até o fim de seus dias. Zahir é uma idéia fixa, revelada aos felizes leitores pela magnífica prosa transcendental do autor - sem dúvida um orgulho para todos nós, latinoamericanos. Um escritor em pleno domínio da narrativa, dono de assombrosa erudição (e que não raro brinca com ela, acrescentando elementos puramente ficcionais à sua biblioteca mental). O autor merece toda a celeuma em torno de seu nome. Um verdadeiro mago das letras.

Recomendo firmemente que todos leiam "O Zahir". Décimo primeiro conto do livro "O Aleph", de nosso estimado Jorge Luis Borges. À venda nas boas casas do ramo.

P.S. O resto do livro também é ótimo. E o Paul Rabbit materializou-se aí do lado por pura magia.

 

22 março, 2005

Terminou?
Por irmão Paulo

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Aquele 1968 ficará pra sempre incompreensivelmente inacabado no imaginário das gerações que não o viveram e torturantemente elástico para os que estiveram no olho do furacão e dele não mais saíram, até os dias atuais? Puxando o cordão dos saudosistas lisérgicos, Nelson Mota e sua paradoxalmente charmosa incompreensão dos acontecimentos.

Fran tem feito um trabalho belíssimo aqui, com sua antologia da vaia. Ampliando seu escopo, seria possível escrever, evidentemente sem objetivo revisionista, a história brasileira através da música popular. Há registro sonoro dos cem últimos anos, fora partituras mais antigas. Por hora, na esteira dourada de Fran Pacheco, fiquemos nos 1968.

Naquele maio de 68, sem saber, Caetano Veloso e Costa e Silva resistiam, cada um à sua maneira, aos ventos da estudantada francesa. Enquanto o primeiro rejeitava a sugestão de seu empresário de fazer música com o bordão pintado em um muro parisiense – é proibido proibir, e estampado em reportagem da revista Manchete, o Marechal-Presidente dava declarações de que não permitiria que o Rio se transformasse numa nova Paris. Ambos, sem saber, contaminados por uma inércia que talvez fosse, agora é possível refletir em retrospecto, a calmaria que antecede as grandes tempestades.

Costa e Silva, por absoluta incapacidade de encontrar caminhos, aplicou à crise o “remédio da procrastinação”, deixando em relativa liberdade tanto as manifestações políticas e artísticas contra o regime quanto a criminalização e radicalização do pessoal dos porões. Isso de maio a meados de setembro, quando a violência oficial recrudesceu.

Sabe-se lá quantos dos filhos da puta que hoje mandam no Brasil estavam entre as faces túrgidas de ódio que levaram o Baihuno Caetano a vaticinar o já célebre “Se vocês forem em política como são em estética, estamos fritos.” Muitos, certamente.

Em outra ponta, ante a aparente inércia do representante da Revolução, Márcio Moreira Alves, jornalista e deputado, em inflamado e despercebido discurso perguntou-se, isso em meados de setembro, até quando o exército seria um valhacouto de torturadores. Insatisfeito, retornou à tribuna e, em um ataque de Lisístrata, em discurso ignóbil, concitou as mulheres a negarem as piriquitas aos militares brasileiros. O que, naturalmente, foi demais e levou o governo a pedir autorização formal para processá-lo. O que, num rasgo de virilidade nunca dantes ou depois visto, foi negado pelo Congresso. Era mais uma falseta insepulta que pregavam no regime e num Costa e Silva, àquela altura, já na tocaia.

Às dezessete horas do dia 13 de dezembro, Costa e Silva iniciou a reunião do Conselho de Segurança que, apenas com a discordância (encenada?) do vice-presidente da República, aprovou o texto do Ato Institucional número 5. Jarbas Passarinho, infame figura da República, acariciando os ovos presidenciais, manifestou-se em palavras que ficaram famosas: “sei que a Vossa Excelência repugna, como a mim e a todos os membros desse conselho, enveredar pelo caminho da ditadura pura e simples, Mas me parece claramente que é esta que está diante de nós. Às favas, senhor Presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência.”

Pelas contas de Elio Gaspari, durante a reunião, falou-se dezenove vezes nas virtudes da democracia e trezes vezes pronunciou-se pejorativamente a palavra ditadura. Na linguagem filistina dos ministros, diziam o que Caetano dizia, mas saíram da reunião proibindo tudo. Parece que muita coisa ainda está lá. Esperando para ser compreendida e então, finalmente, esquecida.

 

Não cales a boca, Severino!
Por Fran Pacheco

Nada que vem de Severino me surpreende mais. Aprendi a lidar com ele. O hômi é a transparência personificada. Não é um hipócrita, um dissimulado, como 9,9 entre 10 de seus pares. É um límpido, translúcido e assumido canalha. Seu superego foi amputado em criança. Resta-lhe o puro e manifesto desejo de puder. E põe manifesto nisso. Nunca se ouviu falar tanto em um Presidente da Câmara. Pudera. Os cutucões de sua filha como dizendo “cala a boca, papi!” não lhe surtem efeito – e ele rumina ao microfone que aliviou a multa de trânsito de um eleitor. Ele faz das suas e diz.

Severino é desprovido de consciência, aquela voz interna a nos lembrar que pode ter alguém espiando. Ao contrário, quando tem muita gente por perto é que ele põe as cartas na mesa. Lá está ele, em outro evento, avisando com todas as suas trêmulas sílabas: se o inepto (o juízo é meu) deputado Ciro Nogueira, seu apadrinhado, não for nomeado Ministro das Comunicações, seu grêmio-partidário-escola-de-trambiques, o PP*, deixa de ser aliado do Governo e se bandeia para a trincheira do PFL-PSDB. É o toma-lá-dá-cá às escancaras, o eclipse total da decência visível a olho nu.

Constrangidos com a extorsão em público, os palacianos recebem Severino do jeitinho que gostam: huis clos, a portas fechadas. O que tramaram? O que barganharam? Quanto esse “remanejamento ministerial” irá nos custar, monetária e moralmente? Severino, não saia calado, nós queremos saber. Severino, manifeste-se!

(*) Dá para imaginar o PP, atual mutação evolutiva da ARENA, longe do governo petista?

 

21 março, 2005

Antologia da vaia (2)
Por Fran Pacheco

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“Vaia de bêbado não vale”. João Voz, Língua & Violão.


“Por favor, venha. Não me deixe só!”. Ao receber em Veneza esse telegrama desesperado de Tom Jobim, Chico Buarque achou que era brincadeira. Não era. Duas semanas depois de Caetano proferir seu inflamado discurso no TUCA, foi a hora e vez de Chico e Tom entrarem na roda e encararem a fúria estética popular, naquele 68 que não acabou. Sua composição Sabiá, uma releitura particular da Canção do Exílio caiu na antipatia dos porraloucas, que queriam a engajada e inevitavelmente datada Pra Não Dizer que Não Falei de Flores (a.k.a. Caminhando) de Geraldo Vandré, como a campeã daquele III FIC, o maior dos “festivaias”.

Nota: o próprio Vandré fora discretamente vaiado em sua primeira apresentação, cantando solo, acompanhado apenas de seu violão – um postura clean demais em comparação aos elaborados arranjos e acompanhamentos dos concorrentes. Mas logo a rapaziada entendeu o recado da canção e a elevou ao status de hino supremo contra a ditadura. Semanas depois a prisão de Vandré seria pedida.

A final Vandré Vs. Chico repetia a do II Festival da Record (66), quando Disparada empatou com A Banda. Desta vez porém, o júri se decidiu, para o bem ou para o mal, pelo lirismo considerado “alienado” (mas que, em verdade, se mostraria profético) do Bardo Fanho da MPB. Chico e Tom assistiram de camarote às meninas do Quarteto em Cy, suas intérpretes, serem soterradas pelas vaias do Maracanãzinho em fúria, quando os versos “vou voltar / sei que ainda vou voltar” desbancaram o “quem sabe faz a hora” das passeatas. Para quem viu e ouviu, foi “a maior vaia já sofrida por uma música em toda a história dos festivais”. Um estrondo ainda maior do que aquele que tirou Caetano do sério. Mas, desta vez, sem réplica ou discurso. Chico sempre foi um cara muito tímido.

A roda do tempo deu suas voltas, o eixo do mundo apontou para Aquarius, os hippies viraram yuppies e chegamos ao apocalíptico 1999. Lá estava Caetano, de novo no olho do furacão, servindo de valete de luxo à estrela da noite de inauguração do Credicard Hall: João Gilberto.

Perfeccionista ao extremo, a ponto de escolher o tipo de tapete pérsico adequado para acomodar seu mitológico banquinho e o modelo exato de microfone alemão para captar suas geniais salivadas, João Gilberto provavelmente não ensaiou nem passou o som para a abertura da autoproclamada maior casa de espetáculos da Latinoamérica. Mal sabia o que esperava. Enquanto a platéia de socialaites enchia a cara com prosecco, J. Gilberto iniciou a noite com aquele tradicional atraso de diva. Logo na primeira música, reclamou do eco e das rajadas de ar-condicionado. Caetano só fazia rir meio sem graça. Deve ter sacado que aquilo não ia dar certo.

A cada música, um novo muxoxo do Reinventor da MPB. O tormento do Pai da Bossa Nova começou a dar no saco dos VIPs. Até que o Gênio Desafinado, revoltado com a péssima acústica, saiu pra valer do tom e avisou que “se fosse um artista estrangeiro, processaria esta casa”. Nota: o cachê do Maior Baiano Vivo foi de US$ 60 mil. “Nunca mais piso aqui”, avisou. Ao fim do clássico “O Pato”, grasnou: “o pato sou eu”. A bourgeosie etílica ganhou coragem e começaram os apupos. “Vaia de bêbado não vale!”, rebateu o Mito, mostrando a língua. A coisa desandou completamente e Caetano, o Polemista de Santo Amaro, não resistiu a deixa: “Eu não ia falar nada, mas vou falar, sim!”, disparou o Mallarmé do Afoxé. E foi enfático: “as pessoas que vaiaram JÕAO GILBERTO não me são aceitas no coração!”. A platéia se dividiu entre os revoltados contra e os revoltados a favor. Um clima atávico de festival tomou conta do emplumado evento. Um show errado, no lugar errado, para a platéia errada, fazendo a História mais uma vez se repetir como farsa. Não foi o único.

(continua)


 

20 março, 2005

Ars politica
Por Fran Pacheco

Parafraseando Clemenceau, sobre a guerra e generais: educação e saúde são coisas importantes demais para ficar nas mãos de políticos. Aos políticos só interessa a construção e inauguração pomposa de escolas e hospitais, já que não se pode superfaturar o salário de professores, nem receber uma porcentagem sobre as consultas dos médicos. No máximo, pode-se lotear a direção das unidades, permitir o desvio de medicamentos, direcionar a compra de material para os amigos do rei etc. Qualidade no ensino e no atendimento médico são abstrações além da capacidade de compreensão de qualquer pessoa cuja moral tenha sido conspurcada pela atividade política. Ou metas intangíveis para aquela aberração que se convencionou chamar de “vontade política”.

Quando doentes se amontoam e morrem uns na frente dos outros em pornográficas enfermarias na Cidade Maravilhosa e o prefeito – possível candidato à Presidência da República – diz, com toda nonchalance que o episódio lhe gera “um desgastezinho político”, mas o deixa “mais conhecido e com uma velocidade maior também”, anote aí: esse sujeito tem um futuro e tanto.

A política é o flagelo mais antigo da civilização. O ônus por termos descido daquelas aprazíveis árvores das savanas africanas.

E ainda tem quem saia em defesa dessa gente: “alguém tem que fazer o trabalho sujo”, correto? O que não aceito é admirarem esse alguém por isso. Admiro, sim, o trabalho de bombeiros, enfermeiras, fisioterapeutas, médicos (exceto os cirugiões plásticos de madamas, gigolôs da Medicina). Nenhum deles pode aumentar o imposto que eu pago. “Não está gostando? Se candidata, então.” é o conselho dos pascácios. Não me candidataria porque minha mãe soube me dar uma educação e, superstição ou não, a altíssima incidência de rebotalhos em nossas câmaras e assembléias só me leva a crer que política estraga qualquer ser humano.

Numa ditadura, a melhor espécie de político é o exilado. Numa democracia, a pior espécie de político é aquele que se candidata a alguma coisa. Para um político, não ser eleito é o menor dos males. Ele se arranja com os eleitos. Governo de coalizão é isso, a união da matilha eleita com a alcatéia não eleita, para melhor aproveitar a carniça.

Políticos deveriam ser monitorados 24 horas por dia. Deveriam usar roupas especiais, sem mangas e sem bolsos. Deveriam ficar longe de crianças. Deveriam sofrer lobotomia. Deveriam ser incapazes, por dispositivo constitucional, de exercer qualquer influência sobre nossas vidas. Assim como “mulher pública” é prostituta, “homem público” é gigolô, fique sabendo.

Quando seu filho, senhora leitora, meter-se a presidir grêmio acadêmico, comece a ficar preocupada. Arranje-lhe urgentemente um estágio, um emprego, dê-lhe qualquer preocupação real que ocupe todo o tempo. Invente um câncer, providencie um neto, sei lá. Ou a senhora um dia será nome de uma maternidade-açougue superlotada.

 

19 março, 2005

O emprego voltou, companheiro
Por Fran Pacheco

Propaganda petista faz um bufão de cavanhaque, estilo "São Nunca" encarnar o "Emprego", e anunciar que está de volta. Puro desperdício de dinheiro do partidão. Todos sabem que o problema do emprego já foi há muito resolvido para todos, todos os companhêro do PT.

 

Dúvida existencialista das oito
Por Fran Pacheco

Se em tudo nesta vida novela cria moda, a febre agora vai ser imigrar ilegalmente (e artificialmente bronzeado) para Miami?

 

18 março, 2005

Antologia da vaia (1)
Por Fran Pacheco

“Vocês não estão entendendo nada! Nada! Nada! Absolutamente nada!”, esgoelava-se Caetano, perguntando “tem som no microfone?”, enquanto o teatro da PUC quase vinha abaixo com a vaia épica, avassaladora. “Viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker!”, berrou o tropicalista . Ninguém entendeu nada, nem parou pra pensar o que a Cacilda tinha a ver com aquilo. Puro nonsense. E Caetano avisou, atiçado pelos urros ensurdecedores, que não tinha mesmo “nada a ver com vocês!”. O fôlego da platéia era impressionante. A apresentação de É Proibido Proibir, (cujo refão era “é proibido proibir/é proibido proibir” - bis) naquela eliminatória do III Festival Internacional da Canção, degringolara de vez. “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?”, provocou o baiano, enquanto os sismógrafos iam à loucura com os apupos dos estudantes. “O problema é o seguinte! Vocês estão querendo policiar a música brasileira!” O desafio estava lançado, a verborragia descontrolada do baiano nervosinho contra os uivos tonitruantes do auditório em frenesi. “Eu quero dizer ao júri: me desclassifique! Eu não tenho nada a ver com isso! Nada a ver com isso! Gilberto Gil!” – o Gil, coitado, no canto dele, pensando em proteger a própria pele da turbamulta. E finalmente a sentença: “se vocês forem em política como são em estética, nós estamos feitos! O juri é muito simpático, mas incompetente!”

Esta assuada de 1968 tem lugar garantido em qualquer top five a respeito. Pelo menos foi a que rendeu um dos mais caudalosos entreveros da história (10 minutos de vaias e discurso delirante, pelas minhas contas). Pena (ou sorte?) que Veloso não tivesse por perto nenhum violão, como o que tinha às mãos Sérgio Ricardo, ao tentar interpretar Beto Bom de Bola, um ano antes. Caetano cansou de berrar e gritou “chega!”. Sérgio Ricardo, menos falastrão, cansou de ser vaiado e foi direto ao ponto.

Mal seu nome foi anunciado, os primeiros apupos foram ouvidos. O público simplesmente não gostava da música. O músico começou pedindo “calma”. Em vão. Primeiro desafinou, depois atravessou o ritmo, para delírio da choldra ululante. Sérgio parou a apresentação no meio e prometeu, com ar de escárnio, mudar o nome da música para “Beto Bom de Vaia”. A platéia enlouqueceu de vez. Até que o cantor entregou os pontos e partiu pro ataque: “Vocês ganharam! Vocês ganharam! Isso é o Brasil subdesenvolvido! Vocês são uns animais!” E despedaçou o violão num banquinho. A carcaça, atirou contra a choldra extasiada. E mais não disse. Foi desclassificado e saiu do festival para entrar na história.

Os registros não nos dão uma estimativa fiel da decibelagem da gritaria, portanto recorremos a Jorge Ben, que fala ex-cathedra, ao afirmar que recebeu uma das quatro maiores vaias da história do Maracanãzinho: “as outras foram Purpurina, Sabiá e Saveiros.”

O batismo de fogo de Jorge Ben, naquele FIC-68, no Rio de Janeiro, foi com Charles Anjo 45. A vaia histórica deu-lhe norotiedade e abriu caminho para o estouro do que hoje assina Benjor e seu Trio Mocotó.

O que prova que há vaias que vêm para o bem. Maior exemplo é Lucinha Lins. Seu martírio durou 15 infinitos minutos, com direito a apedrejamento com leque de papel. Daquele festival da Globo de 81, a maioria dos viventes só se lembra de Planeta Água do enjoativo Guilherme Arantes. Favorita absoluta do público, a música foi derrotada pela zebra Purpurina, na voz da desconhecida Lucinha (alguém se lembra?). A multidão se sentiu ultrajada, enganada, aviltada. Nunca se viu tamanha comoção, convertida numa cólera que podia ser ouvida do outro lado da baía da Guanabara. Lucinha saiu daquela catarse coletiva escoltada pelo Batalhão de Choque, com hematomas pelo corpo e semiconsciente. E ficou famosa da noite para o dia.

(continua)

 

16 março, 2005

Citação da citação
Por Fran Pacheco

Num interessante artigo sobre citações desgastadas, Jerônimo Teixeira, da Veja lista o bordão “O horror, o horror” na categoria “frase de autor perdido”. De fato, a maioria das pessoas a conheceu pela boca moribunda do Marlon Brando careca de Apocalypse Now. Jerônimo afirma com todas as letras que a frase é “criação de Joseph Conrad”, cujo livro O Coração das Trevas inspirou o script de Copolla.

Enquanto isso, aquele velho bardo de Strattford-on-the-Avon se remexe na tumba, a exigir royalties e a declamar, no ato II, cena III de seu Macbeth:

“Ó horror, horror, horror! Não há língua ou coração que possa conceber-te ou nomear-te!”

É isso, ó Jerônimo.

 

Se todos fossem iguais a você...
Por Fran Pacheco

“Sou íntegro e honrado. Se todos os políticos fossem iguais a mim, o Brasil estaria melhor.”

Hildebrando Pascoal, the Ripper. A lógica do raciocínio do ex-deputado-esquartejador acreano é cristalina: se todos os políticos fossem como ele, adeptos da serra-elétrica, já teriam há muito feito strogonoff uns dos outros. E o Brasil estaria melhor, com a canaille política aos pedaços.

 

Eu quero mamar
Por irmão Paulo

A futrica do jornal dos Kane com o Eduardo Braga está tomando proporções impressionantes. Através de ações travestidas de jornalismo investigativo, Cristina Calderaro tem deixado o DNA se revelar e ameaça suplantar o velho Surubim em matéria de filhadaputisse.

Chegam a ser grotescas as indas e vindas do jornal e a forma como trata os assuntos do Zé Portuga e aqueles relacionados ao Cadeirudo Braga. Iremos testemunhar, logo a seguir, o elogio do jornal ao aumento das passagens de ônibus, numa clara demonstração do que se passa em seu interior e de quanto tem feito para mascarar uma administração inerte como a Serafim. Mas esse não é o assunto.

Algumas mentes pensantes perguntam-se o que terá acontecido para que A Crítica, subitamente, tenha mudado sua abordagem do governo estadual. A resposta é simples: Eduardo Cadeirudo Braga deve ter fechado a torneira que abastecia de dinheiro os insaciáveis bolsos de Cristina Calderaro. Como se sabe, essa senhora é viciada em contrabandear dólares para o estrangeiro, inclusive tendo seu nome incluído entre os felizes utentes de contas CC-5.

Há mais por trás disso. Tendo ido para a trincheira, forçou o governo a aproximar-se de outros veículos e pessoas, como é o caso do Estado do Amazonas. Uns dizem à boca pequena que Garcia está no páreo para ser vice de Braga e, outros, que já teria fechado a suplência de Gilberto Mestrinho. De uma forma ou de outra é um dono de jornal que, na ótica facista dos Kane, deve ser descontinuado. Há mais, ainda.

O realinhamento de forças ao redor do Presidente Lu(Mu?) la, que já deixou claro seu apoio a Braga e com a verticalização insinuando-se tão fortemente, aqui no Amazonas os Kane ficarão perdidos, pois que Alfredo Jegue Nascimento (se ainda estiver com a cabeça junto ao corpo) será obrigado a compor com Braga e Serafim Corrêa, auto-intitulado o mais antigo apoiador de Lula, se não formar com Braga, ficará neutro na história. Deixando Cristina et caterva, literalmente, sem pai nem mãe.

A lua-de-mel como Zé Portuga não vai durar para sempre. Os Cem Dias de governo municipal estão chegando. Assim que a torneira municipal fechar de vez, assim que a nebulosa situação da Citéluz (empresa que pertence aos Calderaro responsável pelas ultrapassadas paradas de ônibus e pela exploração do espaço publicitário delas) for desfeita, a sanha destruidora de Cristina se voltará contra Zé Portuga.

Os Kane são uma famiglia perigosa, que só pensa em dinheiro. A tradição de Humberto Calderaro está sendo perpetuada, com muito mais selvageria, por seus herdeiros. Uma vergonha para o jornalismo amazonense.

 

15 março, 2005

O Amazonas escroto
Por irmão Paulo

1. Ministro dos Transportes

Os Investimentos no sistema de transporte urbano em Manaus somaram nos últimos sete anos Nascimentinos perto de R$ 700 milhões. Parte dessa dinheirama foi utilizado pelas empresas, via BNDES, para financiamento de novos ônibus. A suposta idéia do Jegue Nordestino era dotar a cidade de um sistema de transporte baseado no exemplo bem sucedido de Curitiba. O resultado foi o caos: empresas com suspeita de terem fraudado chassis de carros para obter financiamentos, escassez de ônibus e um crescente avanço do transporte alternativo e irregular.Na esteira do desperdício criminosos que foi a construção do “Expresso”, vendido para a população como solução para os problemas de transporte em Manaus, vicejaram empresas de políticos, ora prestando serviços ao município, ora ancoradas nas concessionárias de transporte. O próprio Ministro dos Transportes, comprovando que a investigação que a Casa Civil faz não é tão profunda assim, tirou grossas lascas desses recursos com sua empresa de vulcanização, posteriormente vendido ao Otávio Raman e seu irmão, um dos outros Jegues Nordestinos, ganhou bom dinheiro fabricando e vendendo bloquetes de concreto para a Prefeitura: Isso todo mundo sabe mas as autoridades (des) constituídas nada fazem. Tudo isso explodiu ontem, com a greve no transporte coletivo, deixando parada a cidade e em pânico inercial o Zé Portuga.Cabe uma investigação severa nos recursos públicos utilizados pela Ministro dos Transportes enquanto Prefeito de Manaus, cabe uma investigação para saber a quem pertence a Cinehaus (locadora de filmes num bairro chique de Manaus), cabe uma investigação para saber se o hotel e o hospital em Natal realmente existem, cabe um acompanhamento rigoroso das ações desse miserável no ministério.

Constata-se, hoje, que o projeto fracassou criminosamente em função da má gestão e da superposição dos negócios privados sobre o interesse público. Dá-lhe Holanda!


2. Superintendente da Suframa

A análise dos gastos com telefonia, chama a atenção o caso da superintendente da Suframa, Flávia Grosso. A conta de seu celular institucional em 2004 foi de R$ 23,95 mil, o mesmo que o gasto total da Secretaria da Pesca com telefones fixos, por exemplo.

Dondoca, passa o dia cuidando dos cabelos e falando ao celular com suas amigas que, por não serem amigas do Puder, em vem de ir à repartição vão à feira de verduras. Flávia Grosso é uma mulher submissa. Agora, superintendente revela-se uma bela de uma fofoqueira.

Flávia passa um ar público quase existencialista, meio ausente do que se passa a seu redor, pois que sempre mais preocupada com o lado para onde cairão seus cabelos anos 70, meticulosamente tingidos e repartidos.

Um governo sério não apenas teria imposto um limite a essas contas de celular como por igual teria cobrado que o servidor usuário da facilidade arcasse com o excedente da conta. Mas o governo Lula não é um governo sério, vejam-se os ministros que tem.

E Flávia, coitada, virou mais um exemplo do folclórico atraso dos gestores públicos barés.

E tenho dito.

 

14 março, 2005

Cu não dito
Por irmão Paulo

Pra não deixar passar em branco a fixação naturalista do Présidente da Câmara de Deputados, Sévérino. Declarou o bardo Pernambucano que a Câmara não será o "supositório do Poder Executivo", referindo-se à edição em massa de Medidas Provisórias, o que "opilaria" a "a delegação que o povo deu aos parlamentares, que terão a restauração da sua independência e do seu poder".

Evidentemente Sévérino já demonstra certo recato público e começa a descolar-se de suas raízes ao inverter o raciocínio e evitar a pronúncia pública da palavra maldita. Ora, se as medidas provisórias é que são enfiadas, em excesso no congresso, elas é que são os supositórios, não passando aquela casa de simples cu. Efetivamente mais sujo e fedorento do que a média dos cus, mas certamente , e pela lógica da metáfora, o cu dessa história.

Indo mais fundo, já que escrevemos o que Sévérino não disse. De fato a Câmara é o cu da política brasileira. Vive escondida, não aparece à luz do sol, cheira a mofo com aquele revestimento aveludado, cheio de vermes preprando o carregamento e quando se abre só sai merda.

E cada cu tem o Sévérino que merece.

 

13 março, 2005

Província
Por irmão Paulo

É certo que o velho Chico, não o rio a ser estuprado por Ciro Gomes, mas o compositor, meteu-se, ao pensar com a cabeça de baixo, numa bruta armadilha promocional armada pela morena, não tão bela e nem tão nova, e seu marido músicorno, um tal de "Bomba"que é um amor de pessoa, segundo seus amigos da Revista Veja, o orgão de imprensa da famiglia Civita.

Já é possível encontrar, com destaque, na página da mesma Veja na internet um link para ouvir músicas do Duna, o musicorno. Fran já disse, parafraseando alguém, que perto do Chico Buarque todo homem é um corno em potencial. Veja você que o Duna, ainda segundo a Veja, é dono de um estúdio frequentado por Chico há vinte anos. E teria afirmado que Chico sempre assediou sua, digamos, esposa. Como a citada fêmea anda pela casa dos 35, acaba-se de descobrir mais uma faceta dos velhos olhos verdes - a pedofilia.

Todo mundo ganha com isso. O velho Chico vai às páginas dos impressos e aos programas de fofoca, a morena ganha seus minutos de fama e o musicorno uma chance de mostrar ao grande público que é mais que um par de mansos chifres e que, dentro de si, também bate um coração de músico. Mesmo que musicorno.

Toda essa discussão é estéril e típica de província. Fidelidade no casamento é algo que não existe. Talvez nunca tenha existido. Se todos mentimos sobre sexo, dou de barato, inclusive, que as mulheres traem muito mais que os homens, que contentam-se com suas fantasias masculinas, repetidas à náusea aos outros machos, enquanto suas esposas fornicam alegremente nos motéis do mundo. Todas as grandes traições amorosas da literatura foram perpetradas por mulheres. Pois, como diz o ditado que já não lembro na íntegra, mulher quando quer dar, ninguém segura.

Ocorre-me, agora, que os governos deveriam instituir e garantir, de pronto, o exame de paternidade (DNA) para os filhos havidos na constância da casamento. Já que a natureza nos tirou a capacidade de reconhecê-los instintivamente. O outro ditado, machista mas repetido às escancaras por nossas avós é os filhos de minhas filhas, meus netos são. Os de meus filhos, são. Ou não.

A golpista divulgou, buscando manter sua dignidade pública talvez, ou prolongar o assunto, nota afirmando que divide o teto com o musicorno mas não, como diria, o conhece mais. Ridículo. Uma autêntica Bovary não faria isso jamais. Mas não se fazem mais adúlteras como antigamente. Libertinas selvagens, espontâneas e, por isso tralvez mais legítimas, deram espaço a fodedoras angustiadas. Versões grotescas de adúlteras respeitosas e essas não servem pra nada.

É duro admitir, mas as mulheres têm essa capacidade de mentir durante longo tempo. Têm a capacidade de deitar-se com o marido no mesmo dia em que se deitaram com o amante, para explicar uma gravidez, que de outro modo seria inexplicável. homens não fazem isso. Lavam-se, limpam-se e jamais conspurcam o corpo da mulher amada com fluidos de uma vadia qualquer. Não sei o que acontece hoje em dia. As coisas estão estranhas. Um sujeito solteiro, beijando uma signora casada na praia causa o maior furor, enquanto a imprensa se ocupa disso, eu ao terminar de escrever e você, leitor amigo (ironia), de ler este texto, teremos deixado morrer de fome algumas crianças brasileiras que irão engrossar os números normais do Ministro da Saúde.

 

E Volta
Por irmão Paulo

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Meu amigo Fran Pacheco, diretor desta espelunca, tem me admoestado, é esse o termo, a reaparecer por aqui e colaborar. Logo, pra não perder o amigo, mas ciente de que serei: 1. desprezando, 2. incompreendido e 3. ignorado, passo a escrever, assim, como se diz, ao correr da pena. Ou, no meu caso, dos dedos do Jeca que me empresta o corpo.

E me pergunto - sem maiores preocupações - por quê (por que, porquê, porque) razão continuar escrevendo. Antes, ao menos, ganhava o sustento com isso. Hoje, nem bônus-horas, no vocabulário de meu confrade de letras etéreas André Luís, pois escrevo para incultos incréus.

Um paisinho fuleiro, que tem coragem de pôr Lula lá, compor um congresso que acaba por ficar entre o Groucho Marx Greenhaulgh e o lunático (ou seria lulático) Sevérino e, ainda por cima, acreditar que as coisas podem dar certo, só pode mesmo dar errado. Tenho circulado, aclimatado que estou à promiscuidade amazônica, a residência de gente de bem que se confessa, na intimidade, desiludido. Talvez um caminho seja mesmo negociar o latifúndio amazônico - que de resto não nos fará falta, pois que inexplorado - com os americanos em troca da libertação econômica do Brasil civilizado. Falta praticidade aos governantes e ao pouvo brasileiro.

Enquanto isso, Jane Hanói Fonda reaparece nas telas de cinema estrelando uma comédia fuleira com a fuleira Jennifer Lopez. Esta, por sinal, deve ser mais convicente na vida real que nas telas, pois convenceu um galanzinho a casar-se com ela ao argumento de que seria semi-virgem - sabendo-se lá o que significa isso. Talvez o que Mônica Lewinski disse ter feito com Bill Clinton e foi relatado pelo misógino promotor Keneth Star, roçado seu genital nos lábios vaginais mas sem penetração propriamente dita. Se não for semi-virgem, é totalmente filha da puta. Jane Fonda, suponho, ganhou horrores para reaparecer mas, waaal, dinheiro não justifica tudo e jane Fonda já não é a mesma. Embora Ted Turner continue riquíssimo.

De bom mesmo, o que pude aproveitar de minhas espreitas ao Jeca, é Michael Moore em seu Awful Truth, levando um coral de cancerosos laringotomizados para cantar na Philip Morris, ou pondo um ator vestido de Hitler para retirar o ouro nazista dos cofres suíços ou, ainda, tentando contato com Bill Gates para entregar-lhe um presentinho para o novo barraco de 60 milhões de dólares e constatando que todos na Microsoft, assim como Gates, são atrofiados emocionais tendo a mesma anti-reação (silêncio e imobilidade) diante da grotesca figura de Moore. É triste constatar que nem humor sabemos mais fazer aqui neste país desgraçado, deixando os artistas espaço aberto para os jornalistas que, na ausência do que fazer, esforçam-se para fazer-nos rir.

Exemplo maior disso é o conselho do estupidimbecil Pompeu de Toledo, nas páginas do órgão de imprensa da famiglia Civita, de que tratemos os desarranjos verbais de Lula com o mesmo bom humor com que os ingleses encaram a vida amorosa do Príncipe Charles (com sua Camilla Cara-de-Cavalo). Poderia até ser engraçadinho, não fizesse Lula ao país, o que Charles faz apenas à Camilla. Ou ela a ele.

 

12 março, 2005

O porquê da minha ausência
Por Fran Pacheco

O primeiro motivo foi um longo mergulho nas gramáticas para grafar esse "porquê" escorreito. Toda vez que, por exemplo, leio as palavras "econômia", "aficcionado", "à favor" estampadas nos jornais da vida, tenho ganas de sabotar-lhes as rotativas com césio C-137, que contamina durante longos e longos séculos.

O segundo motivo de inquietude foi descobrir (lendo blogues portenhos) que os argentinos também se consideram no cu do mundo. Este sentimento geográfico-anal parece disseminado abaixo do Equador. (Dizem que os Irlandeses consideram seu país o quincas, mas da Europa, o que é quite different. Nesse caso o que seria o Bono Vox?). Curioso é que mesmo reivindicando para si o inglório status culli, os nativos das regiões retais do planeta sempre encontram, como compensação, alguém mais ferrado - como se existisse um local além na geografia do derrière. No Brasil, este auriverde brioco continental, os sulistas acham o Norte um pouquinho mais perto do epicentro do esfíncter. Os amazônidas da Cidade Sorriso Manaus, por seu turno, consideram seus manozinhos do interior ainda mais no extremo do trevoso ducto. E esses, coitados, que lhes resta? Caçoar da Bolívia ou do Peru, imagino.

O quarto motivo (se não perdi a conta) é que me descobri um pós-hedonista. Vivemos a onda dos neo-hedonistas, que foram matéria de capa do órgão de divulgação das Organizações Roberto Marinho, a Época. Certo, sempre que falta assunto, as revistas atacam de análise comportamental. Ou de rodízio câncer-novela-câncer. Mas essa corrente, a dos neo-hedonistas, desprezaria o patrimônio, o ter, em prol do savoir-vivre, do desfrutar. Claro que é tudo balela. Ninguém enche a cara com um Romanée Conti Montrachet 99 de gaiato, sem ter uma bella conta bancária bem fermentada. Ninguém resolve espairecer em locais cool como Bali sem ter pelo menos um paizão na declaração de bens. Meu desprezo pelos parvenus só é comparável, de forma oposta, ao afeto que sentia pelos meus dois cockers spaniels ingleses: Óscar e Bosie. Viviam na sacanagem, mas eram afáveis. Morreram de mal-do-século.

Os verdadeiros hedonistas, desafeitos a posses e entregues apenas ao império dos sentidos são os habitantes dos lixões. Desde que os ratos não lhes roam os tornozelos.

Eu, que não posso mais, por motivos literalmente espirituais, ter patrimônio algum, sou um pós-tudo. Estou pouco me lixando para o sabor da trufa branca italiana de R$ 15 mil o quilo. E que se dane o Fisco. Nada tenho, nada desejo. Estou além da Ataraxia e do Nirvana. Estou, até segunda ordem, num pós-moderníssimo Coma.

 

08 março, 2005

Feliz dia nosso!
Por Stella Maris - especial para o Club

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Como nenhum espírito masculino teve a elegância de postar sobre nosso Dia Internacional da Mulher, aí vai um colírio para os olhos das leitoras: Fran Pacheco, no auge do seu carisma, em Um Lotação Chamado Desejo, dirigido por J. B. Tanko. A cena inesquecível de Fran, com sua T-Shirt rasgada, gritando na chuva "Stella!! Stella!!!" causava um verdadeiro efeito estufa no íntimo da audiência! É uma pena que Fran tenha abandonado a promissora carreira e morrido obeso e falido em Bora Bora...

 

07 março, 2005

Saudades da Boca do Lixo
Por Fran Pacheco


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Eu era feliz no Cine Guarany e não sabia...


Já não se faz mais "filminho brasileiro de sacanagem" como antigamente. E isso é triste. Bem, o Jabor também não filma mais. E isso é bom. Mas onde andam aquelas gentes desinibidas do porte de uma Helena Ramos, Zilda Mayo, Nicole Puzzi, Matilde Mastrangi, Aldine Muller, Kate Hansen, Sandra Midori, Kate Lyra, young Vera Fischer, Monique Lafond, Claudia Ohana da fase Mata Atlântica, Denise Dumont, Alcione Mazzeo, Claudete Joubert, Zaira Bueno e - forçoso reconhecer - o anão Chumbinho?

O que aconteceu com a verve de artífices da sem-vergonhice como David Cardoso, Fauzi Mansour, Carlão Reichenbach, Sílvio d'Abreu, Sadi Baby, Jean Garret, Ody Fraga e outros cachorros? Onde anda esse povo e/ou seus sucedâneos? Por que Carla Camuratti agora deu pra fazer "filme de arte"?

Paradoxalmente, eram os anos de chumbo (ou plúmbeos, como diria um Coelho Netto) da Redentora 64. As velhinhas da Censura fizeram um estrago danado com a tchurma do Cinema Novo (o que não foi mau de todo). Em compensação, a Boca do Lixo produziu a todo vapor. E nunca o brasileiro foi tanto ao cinema, com recordes de público não superados nem pelos filmes pasteurizados da Tv Globo.

Talvez as rigorosas matronas da Tesoura Federal (que mal podiam ouvir o nome Che Quevara e já sacavam a pistola) nada vissem de subversivo em títulos de lírica sutileza como "Bobeou... Entrou", "Meu Pipi no seu Popó", "No Calor do Buraco", "A Tara das Cocotas na Ilha do Pecado" ou "Fuk Fuk à Brasileira".

Talvez nutrissem uma afeição maternal pelo anão Chumbinho, o arretado astro de clássicos como "As Taras do Mini-Vampiro", "Senta no Meu que eu Entro na Sua" e "O Analista das Taras Deliciosas" (no papel de um tatu).

Na mesma época, impedido de cometer seus filmes-horror, o pensador José Mojica Marins sublimou sua pulsão astística em películas como "24 horas de Sexo Explícito", uma obra erudita, com o Chorus grego simbolizado por um papagaio falando besteira durante as orgias. Foi seu maior êxito de bilheteria. Zé do Caixão parece estar mentalmente incapacitado de filmar (talvez estivesse desde sempre) e agora só opina. Seria mais divertido ele no Jornal Nacional do que Anal do Jabor, como o bobo da corte mais bem pago do país.

Depois daquela saudosa esbórnia, veio a brochada da Nova República e a amputação bobbittiana da era Collor.

Nem a dita retomada do cinema nacional resultou numa, digamos, levantada nos ânimos do pessoal. Nossos filmes andam vestidos até o pescoço, as personagens falando, discursando sem parar, a fotografia com aquela luz dourada bonita de doer, muita exaltação à pobreza em High Definition Dolby 5.1, o André Abujamra não pára de fazer trilha sonora conceitual... tudo isso é muito triste, e não se faz mais um Pereio para dizer seu etílico: "Puuoooorrraaa!" a cada frase. E nem eu encontrei uma metáfora equivalente a "pendurar as chuteiras" para descrever a aposentadoria do anão Chumbinho. Pelo menos nada publicável.

 

05 março, 2005

Qu'est-ce que la Littérature?
Por Fran Pacheco

O sociólogo Hélio Jaguaribe foi eleito o novo imortal da Panelinha Brasileira de Letras. A meu ver só há uma vantagem em ser um confrade: pegar um táxi, vestido com aquele fardão de debruns dourados, chapéu bicorne e espadim - e ouvir o chauffeur te perguntar: "sois rei?"

Aproveitando o ensejo, o intrigado leitor me pergunta: acaso Sociologia é Literatura? Se você for bem relacionado e chegado num chá, é literatura sim. Tanto quanto Paulo Coelho, Ribamar, Código Da Vinci, bula de Prozac (recomendo, leiam, leiam), ideograma tatuado na nuca voluptuosa de uma sílfide praiana (o que prefiro) e até software. Sim, programa de computador. Quem entende do riscado consegue ver poesia numa sub-rotina bem feita em Cobol. Um dia Bill Gates terá seu talento artístico reconhecido, mas acho que ele tem mais o que fazer a ficar deglutindo canapê com o Ivo Pitanguy.

 

Soy loco por ti, América!
Por Fran Pacheco

O que eu admiro na Latinoamérica em geral e no Bananão em particular é nossa crescente fixação pelo corpore sano - e que dane-se a mens. Nosso projeto de nação resume-se a que, no futuro, cada brasileiro tenha direito a 15 minutos diários de malhação (ou 150 ml de silicone per seiu, tanto faz). Daí para a proliferação de medalhas olímpicas - outro ideal a ser perseguido com afinco pelas políticas públicas - será um salto com vara de bambu. (Nossa segunda maior ambição pátria é ganhar um Oscar, mas isso é outra película).

Que papo furado esse de colocar a gurizada pra ler, que nada: o negócio é construir quadras, quadras a mancheias. Parece não haver opção possível: ou "construimos quadras e centros de lazer" e colocamos nossos jovens para jogar pelada ou eles ficam putos e saem por aí praticando ultraviolência. Abrir livrarias e ensinar a molecada a ler, digo ir além de assinar mecânicamente a graça? Nem pensar, isso é coisa de país rico e pirobo. Ou de país quebrado, como a Argentina. Haha, a Argentina, pobrecitos, que ouçam calados nossos gritos de pentacampeões! Eu amo a Latinoamérica por isso: eles engolem os nossos cinco canecos e nem jogam na nossa cara seus cinco prêmios Nobel - contra nenhum nosso.

 

Estressadíssimo
Por Fran Pacheco

Familiares de Michael Schumacher estão preocupados. Desde que Rubinho Barrichello declarou que não considera o alemão imbatível, o heptacampeão mundial não tem conseguido mais dormir direito.

 

03 março, 2005

O boca-rota
Por Fran Pacheco

Perdoe se as notícias demoram para chegar no lado de cá. Sabe como é, telégrafo, pombo-correio, essas coisas meio ultrapassadas. Qualquer dia faço uma mesa redonda sobre aquele jogo que o juiz nos roubou na França, Copa de 38.

Sobre as últimas zurradas que o efelentífimo presidente Mula da Silva emitiu, confidenciando em público que mandou acobertar a corrupção no BNDES durante o tucanato de FCH (le president mulâtre), só restam dois juízos possíveis sobre nosso atual mandatário: ou é mentiroso, ou prevaricador. Sujeito, por este último, a processo de impeachment. Mas liga pra isso, não. Nada vai acontecer, nem mesmo uma CPI para desacobertar a tal mamata naquele banco que empresta o teu dinheiro para gente necessitada como Edemar Cid Ferreira.

Mentiroso ou prevaricador. Faça sua escolha. Eu fiz a minha: ele é inimputável, o coitado.

 

Alerta
Por Fran Pacheco

O Ministério da Saúde não adverte (mas deveria): "ter princípios, neste país, causa úlcera no duodeno."

 

01 março, 2005

À sombra das jaqueiras em flor
Por Fran Pacheco

Qualquer proposta de reforma política que não leve em consideração o cuidado com o meio-ambiente deveria ser proibida por um Protocolo de Kyoto Expandido. Os célebros científicos do 3º mundo podem seguir o exemplo de seus colegas viajandões do hemisfério boreal. Lá, já existe o protótipo do celular biodegradável, que vem de fábrica com sementinhas de girassóis estrategicamente inseridas. Depois de usado, basta plantá-lo em terra adubada e seu jardim ficará mais florido.

Pois esta é a solução perfeita para os graves problemas ambientais causados por nossos "representantes do povo". Chega de achar que há algo de podre no reino da Botocúndia. Só poderíamos votar, por força de lei, em candidatos ecologically correct, biodegradáveis, que tivessem sementes de jaca implantadas na tarraqueta. Uma vez rejeitados, o destino dos degradados seria um só: a terra adubada, e muito bem adubada, quem sabe a própria fossa séptica do Congresso. A eflorescência doeria um pouquinho nos nobres congressistas, mas logo, logo a cobertura vegetal da nossa pátria mãe senil estaria recuperada. E a jaca passaria a ser nosso principal produto de exportação.