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07 março, 2005

Saudades da Boca do Lixo
Por Fran Pacheco


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Eu era feliz no Cine Guarany e não sabia...


Já não se faz mais "filminho brasileiro de sacanagem" como antigamente. E isso é triste. Bem, o Jabor também não filma mais. E isso é bom. Mas onde andam aquelas gentes desinibidas do porte de uma Helena Ramos, Zilda Mayo, Nicole Puzzi, Matilde Mastrangi, Aldine Muller, Kate Hansen, Sandra Midori, Kate Lyra, young Vera Fischer, Monique Lafond, Claudia Ohana da fase Mata Atlântica, Denise Dumont, Alcione Mazzeo, Claudete Joubert, Zaira Bueno e - forçoso reconhecer - o anão Chumbinho?

O que aconteceu com a verve de artífices da sem-vergonhice como David Cardoso, Fauzi Mansour, Carlão Reichenbach, Sílvio d'Abreu, Sadi Baby, Jean Garret, Ody Fraga e outros cachorros? Onde anda esse povo e/ou seus sucedâneos? Por que Carla Camuratti agora deu pra fazer "filme de arte"?

Paradoxalmente, eram os anos de chumbo (ou plúmbeos, como diria um Coelho Netto) da Redentora 64. As velhinhas da Censura fizeram um estrago danado com a tchurma do Cinema Novo (o que não foi mau de todo). Em compensação, a Boca do Lixo produziu a todo vapor. E nunca o brasileiro foi tanto ao cinema, com recordes de público não superados nem pelos filmes pasteurizados da Tv Globo.

Talvez as rigorosas matronas da Tesoura Federal (que mal podiam ouvir o nome Che Quevara e já sacavam a pistola) nada vissem de subversivo em títulos de lírica sutileza como "Bobeou... Entrou", "Meu Pipi no seu Popó", "No Calor do Buraco", "A Tara das Cocotas na Ilha do Pecado" ou "Fuk Fuk à Brasileira".

Talvez nutrissem uma afeição maternal pelo anão Chumbinho, o arretado astro de clássicos como "As Taras do Mini-Vampiro", "Senta no Meu que eu Entro na Sua" e "O Analista das Taras Deliciosas" (no papel de um tatu).

Na mesma época, impedido de cometer seus filmes-horror, o pensador José Mojica Marins sublimou sua pulsão astística em películas como "24 horas de Sexo Explícito", uma obra erudita, com o Chorus grego simbolizado por um papagaio falando besteira durante as orgias. Foi seu maior êxito de bilheteria. Zé do Caixão parece estar mentalmente incapacitado de filmar (talvez estivesse desde sempre) e agora só opina. Seria mais divertido ele no Jornal Nacional do que Anal do Jabor, como o bobo da corte mais bem pago do país.

Depois daquela saudosa esbórnia, veio a brochada da Nova República e a amputação bobbittiana da era Collor.

Nem a dita retomada do cinema nacional resultou numa, digamos, levantada nos ânimos do pessoal. Nossos filmes andam vestidos até o pescoço, as personagens falando, discursando sem parar, a fotografia com aquela luz dourada bonita de doer, muita exaltação à pobreza em High Definition Dolby 5.1, o André Abujamra não pára de fazer trilha sonora conceitual... tudo isso é muito triste, e não se faz mais um Pereio para dizer seu etílico: "Puuoooorrraaa!" a cada frase. E nem eu encontrei uma metáfora equivalente a "pendurar as chuteiras" para descrever a aposentadoria do anão Chumbinho. Pelo menos nada publicável.