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20 março, 2005

Ars politica
Por Fran Pacheco

Parafraseando Clemenceau, sobre a guerra e generais: educação e saúde são coisas importantes demais para ficar nas mãos de políticos. Aos políticos só interessa a construção e inauguração pomposa de escolas e hospitais, já que não se pode superfaturar o salário de professores, nem receber uma porcentagem sobre as consultas dos médicos. No máximo, pode-se lotear a direção das unidades, permitir o desvio de medicamentos, direcionar a compra de material para os amigos do rei etc. Qualidade no ensino e no atendimento médico são abstrações além da capacidade de compreensão de qualquer pessoa cuja moral tenha sido conspurcada pela atividade política. Ou metas intangíveis para aquela aberração que se convencionou chamar de “vontade política”.

Quando doentes se amontoam e morrem uns na frente dos outros em pornográficas enfermarias na Cidade Maravilhosa e o prefeito – possível candidato à Presidência da República – diz, com toda nonchalance que o episódio lhe gera “um desgastezinho político”, mas o deixa “mais conhecido e com uma velocidade maior também”, anote aí: esse sujeito tem um futuro e tanto.

A política é o flagelo mais antigo da civilização. O ônus por termos descido daquelas aprazíveis árvores das savanas africanas.

E ainda tem quem saia em defesa dessa gente: “alguém tem que fazer o trabalho sujo”, correto? O que não aceito é admirarem esse alguém por isso. Admiro, sim, o trabalho de bombeiros, enfermeiras, fisioterapeutas, médicos (exceto os cirugiões plásticos de madamas, gigolôs da Medicina). Nenhum deles pode aumentar o imposto que eu pago. “Não está gostando? Se candidata, então.” é o conselho dos pascácios. Não me candidataria porque minha mãe soube me dar uma educação e, superstição ou não, a altíssima incidência de rebotalhos em nossas câmaras e assembléias só me leva a crer que política estraga qualquer ser humano.

Numa ditadura, a melhor espécie de político é o exilado. Numa democracia, a pior espécie de político é aquele que se candidata a alguma coisa. Para um político, não ser eleito é o menor dos males. Ele se arranja com os eleitos. Governo de coalizão é isso, a união da matilha eleita com a alcatéia não eleita, para melhor aproveitar a carniça.

Políticos deveriam ser monitorados 24 horas por dia. Deveriam usar roupas especiais, sem mangas e sem bolsos. Deveriam ficar longe de crianças. Deveriam sofrer lobotomia. Deveriam ser incapazes, por dispositivo constitucional, de exercer qualquer influência sobre nossas vidas. Assim como “mulher pública” é prostituta, “homem público” é gigolô, fique sabendo.

Quando seu filho, senhora leitora, meter-se a presidir grêmio acadêmico, comece a ficar preocupada. Arranje-lhe urgentemente um estágio, um emprego, dê-lhe qualquer preocupação real que ocupe todo o tempo. Invente um câncer, providencie um neto, sei lá. Ou a senhora um dia será nome de uma maternidade-açougue superlotada.