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12 março, 2005

O porquê da minha ausência
Por Fran Pacheco

O primeiro motivo foi um longo mergulho nas gramáticas para grafar esse "porquê" escorreito. Toda vez que, por exemplo, leio as palavras "econômia", "aficcionado", "à favor" estampadas nos jornais da vida, tenho ganas de sabotar-lhes as rotativas com césio C-137, que contamina durante longos e longos séculos.

O segundo motivo de inquietude foi descobrir (lendo blogues portenhos) que os argentinos também se consideram no cu do mundo. Este sentimento geográfico-anal parece disseminado abaixo do Equador. (Dizem que os Irlandeses consideram seu país o quincas, mas da Europa, o que é quite different. Nesse caso o que seria o Bono Vox?). Curioso é que mesmo reivindicando para si o inglório status culli, os nativos das regiões retais do planeta sempre encontram, como compensação, alguém mais ferrado - como se existisse um local além na geografia do derrière. No Brasil, este auriverde brioco continental, os sulistas acham o Norte um pouquinho mais perto do epicentro do esfíncter. Os amazônidas da Cidade Sorriso Manaus, por seu turno, consideram seus manozinhos do interior ainda mais no extremo do trevoso ducto. E esses, coitados, que lhes resta? Caçoar da Bolívia ou do Peru, imagino.

O quarto motivo (se não perdi a conta) é que me descobri um pós-hedonista. Vivemos a onda dos neo-hedonistas, que foram matéria de capa do órgão de divulgação das Organizações Roberto Marinho, a Época. Certo, sempre que falta assunto, as revistas atacam de análise comportamental. Ou de rodízio câncer-novela-câncer. Mas essa corrente, a dos neo-hedonistas, desprezaria o patrimônio, o ter, em prol do savoir-vivre, do desfrutar. Claro que é tudo balela. Ninguém enche a cara com um Romanée Conti Montrachet 99 de gaiato, sem ter uma bella conta bancária bem fermentada. Ninguém resolve espairecer em locais cool como Bali sem ter pelo menos um paizão na declaração de bens. Meu desprezo pelos parvenus só é comparável, de forma oposta, ao afeto que sentia pelos meus dois cockers spaniels ingleses: Óscar e Bosie. Viviam na sacanagem, mas eram afáveis. Morreram de mal-do-século.

Os verdadeiros hedonistas, desafeitos a posses e entregues apenas ao império dos sentidos são os habitantes dos lixões. Desde que os ratos não lhes roam os tornozelos.

Eu, que não posso mais, por motivos literalmente espirituais, ter patrimônio algum, sou um pós-tudo. Estou pouco me lixando para o sabor da trufa branca italiana de R$ 15 mil o quilo. E que se dane o Fisco. Nada tenho, nada desejo. Estou além da Ataraxia e do Nirvana. Estou, até segunda ordem, num pós-moderníssimo Coma.