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31 julho, 2006

O jogo dos sete erros
Por Fran Pacheco

Ou "Por que Amazonino deve usar este cartaz!"

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Cartier, nosso finado colaborador paparazzo baixou no comitê do Negão e quase teve um piripaco ao se deparar com uma sessão interna corporis de contemplação da nova “identidade visual” do Capiroto. Mesmo em estado de choque, nosso destemido “chausser d’images” sacou de sua inseparável Rolleyflex e nos brindou (muy amigo!) com esta imagem que talvez o grande público jamais chegue a ver. Sim, porque incapazes de dizer ao chefe que “o Rei está sem Photoshop!”, os caudatários decidiram vetar, em conciliábulo secreto, o uso de tão... autêntico e cru retrato de Dorian Grey. Vejamos os sete pontos capitais que fazem desta peça um marco do design político:

1) A estética “Homem da Camisa Suada”, já bastante surrada, cede lugar, por força do enquadramento fechado, ao estilo “Cabôco que Não Tem Tempo Nem de Passar Sabão na Cara”. O detalhe da secreção prestes a pingar do nariz é verdadeira pérola do que Cartier chama de “capturar o momento decisivo”. No entanto, a primeira impressão da platéia não foi “oh! Esse aí ganha o pão com o suor da cara”. Antes fosse, pois se dependesse das glândulas sudoríparas e sebáceas para viver, o Coisa Ruim nem precisaria ter recorrido à política como tábua de salvação (e que Salvação!). Seria um pujante pólo exportador de vinagre. Em verdade, entreouviu-se alguns discretos “Vige, que nojo...”, seguidos, evidentemente, do protocolar “Adorei, tá fofo, chefinho!”

2) O cabelo desgrenhado e encanecido em tons de “Pompéia devastada pelo Vesúvio” poderia denotar que “esse sim, é um cara vivido paca”. Mas no caso indica apenas que “o vivaldino nem penteia mais o cabelo, já.” Em matéria de valetes, portanto, Gilberto Mestrinho ainda leva vantagem, pois gozou, no remoto apogeu de três fieis escudeiros capazes até de limpar-lhe a cetácea bunda, se preciso fosse. Sabino, Tiradentes, Cavalcante, habilitai-vos, rapaziada! Antes que um Pé Frio qualquer lhes tome o lugar...

3) A testa um tanto quanto pronunciada rebrilha em tons semi-cadavéricos, denunciando que por ali já correu muita, mas muita toxina botulínica, talvez demais da conta. Agora não tem mais jeito. Nessa terra arrasada talvez só um tratamento experimental com células-tronco para recuperar um quê de mobilidade e expressividade.

4) A boquinha contraída, enigmááática, como diria Hedô, mezzo La Gioconda, mezzo Cesar Romero (ainda o top Coringa). Afinal, ele estaria contendo a iminente explosão de uma gargalhada sardônica? E de quem ele riria, prezado eleitor? Dos lesos? Mas quem são os lesos?... Estaria deglutindo uma tapioca de tucumã (o ponto branco acima do lábio é suor ou resíduo alimentar? Nhg...) servida por algum xerimbabo? Inserida no contexto geral da carranca, parece indicar que ele está apreciando mesmo seu prato predileto, a vingança. Fria e pelas bordas, comme il faut.

5) O olhar diz tudo: esse aí tá armando... As olheiras cavas e o discreto estrabismo são de somenos. O olhar é a janela da alma. Vamos brincar de voyeur e espiar por essa brecha. Tape com as mãos a parte de cima e a de baixo do rosto, deixando somente os olhos do retratado descobertos. Agora, olhos nos olhos. O quê?! Você teve um espasmo e levantou instintivamente os braços? Calma, relaxe, pare de entregar a carteira, pare!

6) A tentativa de se conseguir um flagrante “natural”, não posado, até que daria certo se o Negão não fosse o tremendo canastra que é. O naturalismo alcançado pela moderna dramaturgia televisiva, que atingiu o clímax com a estética da velhota babada, fez com que intérpretes à moda antiga como Mazoca, Boto Tucuxi e mesmo suas metástases como o Cadeirudo soem tão artificiais como um Rodolfo Valentino ou Ramon Novarro fazendo caras e bocas cheios de pancake na cara e rímel nos olhos, num dramalhão de Glória Magadan. O estilo cênico do Capiroto, ainda que eternamente exaltado pelos cupinchas de aluguel, hoje só se adequaria a um Zorra Total ou Hemes & Renato. E olhe lá.

7) Embora não faça parte da carranca em si, o slogan “O Governador de Todos” é emblemático. A rigor não quer dizer nada, mas pode-se intuir a intenção do time de criativos abelhudos em afagar o megalômano ego do Capiroto. Mais modesto era Mané Ribeiro (alguém lembra do portuga?), com seu dístico “O meu Prefeito” – ou seja, só dos pascácios. Amazonino ainda se julga, em seus delírios de puder, o Grande Sátrapa, o Comandante-em-Chefe de todas as almas da província. Mas o slogan valeu pelo “T” maiúsculo, que ao menos tenta levantar o moral dos “todos” sob a possível tutela do Negão (toc toc toc).

Por essas e por outras, lamentamos do fundo do túmulo a iminente defenestração deste precioso material gráfico. Pelo contrário, recomendamos veementemente a sua proliferação. Tão educativo como as desgraças impressas nos maços de cigarros, poderia abrir caminho para uma nova tendência de antimarketing político, revelando os candidatos sem retoques e sem glamour, tal como eles são: nocivos à saúde. Afinal, o caráter de um homem deixa sim, marcas em seu invólucro físico - ainda mais se este caráter vem aprontando das suas por décadas a fio. Sem o embuste da computação gráfica, os lobos em pele de cordeiro parecerão, simplesmente, lobos. Há quem goste.