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24 abril, 2005

Música Gravada - O Começo II
Por irmão Paulo

(...O fonógrafo de Figner não foi o primeiro a que viu o Rio de Janeiro.)

Bem antes, em 1878, apenas 4 meses após ter sido apresentado por Thomas Alva Edison ao Departamento de Patentes para obter o registro, o fonógrafo foi demonstrado pela primeira vez no Brasil. O acontecimento deu-se a 21 de julho de 1878, numa reunião das Conferências da Glória, regularmente freqüentadas por Dom Pedro II e real família.

As `Conferências Populares da Glória', assim denominadas por se realizarem em escolas públicas localizadas na Freguesia da Glória, no Município da Corte, iniciaram-se em 23 de novembro de 1873 sob a iniciativa e coordenação do conselheiro Manoel Francisco Correia, senador do Império. A identificação da escola pública que sediou estas conferências não é uma questão totalmente esclarecida, porém as referências indicam que, inicialmente, estas realizaram-se em uma das escolas públicas da Glória (na época haviam seis escolas em ruas que atualmente pertencem aos bairros do Flamengo e da Glória), posteriormente, na Escola São José (de janeiro a maio de 1875) e, finalmente, em um prédio construído para tal fim (as indicações sugerem a atual Escola Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, construída entre 1874 e 1875). Transcorriam, inicialmente, nas manhãs de domingo (posteriormente estendidas para dois dias semanais), e eram rotineiramente anunciadas antecipadamente nos mais importantes jornais da época (Jornal do Commercio, Gazeta de Notícias e Diário do Rio de Janeiro). http://www.coc.fiocruz.br/hscience/vol2n3/fon23.html

Levado por Francisco Ribeiro de Mendonça, conferencista do dia, F. Rodde exibiu seu fonógrafo, no transcorrer da exposição intitulada: Primeiras experiências com o ‘fonógrafo’ no Brasil, conforme aviso publicado no Jornal do Commercio, RJ, p. 1 do dia anterior. De fato, tratou-se de um acontecimento e a assistência, ante a legitimidade evidente dos fatos, foi ao êxtase. Em outras palavras, a conferência e a exibição repercutiram de tal forma que, conforme registra o mesmo Jornal do Commecio do dia 26 de julho de 1878, Não tendo sido possível a muitas pessoas que se interessaram poderem apreciar este aparelho nas experiências que tiveram lugar na Conferência das Glória, F. Rodde convida essas mesmas pessoas que desejarem assistir a novas experiências para sua casa – Ao Grande Mágico – em o dia 26 do corrente. Exatamente a mesma loja onde, 20 anos no futuro, Frederico Figner, o pioneiro, instalaria sua Casa Edson. Mas não nos apressemos.

A reação brasileira foi, contudo, mais contida que a Francesa. Dias depois da apresentação oficial de Thomas Edson, o Conde Theodore Du Moncel, em nome do inventor, em uma cômica sessão da Academia de Ciências de França, apresentou o Fonógrafo. O astrônomo Camilo Flamarião, presente à apresentação, registrou o corrido em um de seus livros: Assistia eu, certo dia, a uma sessão da Academia de Ciências, dia esse de hilariante recordação, em que o físico Du Moncel apresentou o fonógrafo de Edison à douta assembléia. Feita a apresentação, pôs-se o aparelho docilmente a recitar a frase registrada em seu respectivo cilindro. Viu-se então um acadêmico de idade madura de espírito compenetrado, saturado mesmo das tradições de sua cultura clássica, nobremente revoltar-se contra a audácia do inovador, precipitar-se sobre o representante de Edison e agarrá-lo pelo pescoço, gritando: “Miserável, nós não seremos ludibriados por um ventríloquo.

Evidentemente, não eram Du moncel ou o operador da máquina falante ventríloquos. Ao contrário do que se poderia imaginar, o som era registrado e reproduzido em condições extremamente simples, como explica o próprio Conde, na primeira publicação européia do gênero, o seu Le Téléphone, Le Micro­phone et Le Phonographe: Se a velocidade de reprodução for a mesma que a do registro de gravação, o tom das palavras reproduzidas é o mesmo das palavras pronunciadas. Se a velocidade for maior, o tom será mais agudo; se for menor, será mais grave, mas reconheceremos sempre a voz daquele que fez a gravação. Essa particula¬ridade faz com que, nos aparelhos rodados à mão, a reprodução da voz quando canta seja a que mais apresenta defeitos. Nesse caso, o que foi registrado pelo aparelho soa falso. Isto não ocorrerá mais, se o aparelho mover-se sob o comando de um mecanis¬mo perfeitamente regular, como o de um relógio. Dessa maneira, poderemos obter reproduções satisfatórias. A palavra gravada sobre uma folha de estanho pode ser reproduzida várias vezes, mas a cada vez os sons se tornam mais fracos e menos dis¬tintos porque os relevos vão se desfazendo aos poucos. Sobre uma lâmina de cobre essas reproduções são melhores. Para que essas reproduções possam ser usadas indefinidamente é necessário tirar muitos exemplares dessas lâminas e, neste caso, a montagem do aparelho deverá ser diferente.

Os fonógrafos dessa primeira geração, ditos de exibição, com cilindros fixos, eram verdadeiras máquinas falantes e prestavam-se ao serviço de divulgação da nova maravilha tecnológica. Dez anos após as primeiras exibições, em 1889, um tal Comendador Carlos Monteiro de Souza levou ao Rio de Janeiro um novo fonógrafo, com cilindros removíveis e substituíveis. Promoveu três apresentações, sendo a última no Palacete do Príncipe D. Pedro Augusto, filho da Princesa Isabel, onde, horas antes da proclamação da República, gravou-lhe a voz, cantando. Entretanto, nem as conferências, nem Rodder e, muito menos, o Comendador podem ser considerados como os introdutores do fonógrafo no Brasil. Tal título cabe a Fred. Figner.

 

1 Comments:

  • At 8:07 AM, Anonymous Anônimo said…

    Dom Pedro II saw at least three phonographs before his expulsion from Brazil. 1. F. Rodde's at the Conferencia da Gloria, July 1878. 2. The phonograph brought as a gift by Gustave Aimard, 1879. 3. The wax cylinder phonograph of Monteiro e Souza, Nov.1889. Dom Pedro made a phonograph recording, what happened to it?
    Geoffrey

     

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