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02 abril, 2005

Franz & Fernando
Por Fran Pacheco

Nunca me conformei com a timidez de certos gênios como Fernando Pessoa e Franz Kafka, que deixaram a maior parte de seus legados em baús empoeirados. O Livro do Desassossego, um monumental, fragmentário e genial projeto inacabado de Pessoa renderia o melhor blogue de língua portuguesa já escrito.

O caso de Kafka era mais grave. Ele não só manteve inéditos os manuscritos de colossos como O Processo e O Castelo como instruiu seu amigo Max Brod a queimar tudo - eutanásia literária felizmente abortada.

Por que esconder e incinerar a obra de uma vida? Conjecturo. Talvez Kafka, franzino, tísico e theco (coitado) nunca tenha se recuperado de alguma visita ao editor, quem sabe para avaliar O Processo. "Franz, meu jovem, li a sua papelada de cabo a rabo", teria dito o velho homem de negócios, com a cara fechada. E o pobre Kafka suando frio, já meio atrasado para o expediente. "Explica uma coisa, Franz. Esste tal de José K, esse K vem a ser de quê, mesmo?"

Franz engoliu seco. Sua maior fobia (depois de baratas) era dar explicações. "Se-senhor?"

"É parente seu? E por que tanta coisa vaga? Por que tantas pessoas sem nome? E mais uma coisa, Franz... explica para mim. Por que diabos esse tal de José K está sendo processado, homem de Deus?!"

Franz tremeu-se dos pés às orelhas, teve um acesso de hemoptise e nunca mais pisou naquela ou em qualquer outra pocilga.