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16 abril, 2005

Música Gravada - O Começo
Por irmão Paulo

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Nosso relembrar deveria começar em 1900. Nesse emblemático ano do quarto centenário do descobrimento do Brasil, em que o Censo Demográfico aponta uma população de 17.438.434, o comerciante tcheco, naturalizado norte-americano, Frederico Figner, funda, no Rio de Janeiro, a Casa Edison, a primeira especializada em equipamentos sonoros.

Voltemos antes, um pouco. De origem judia, Frederico Figner nasceu na madrugada de 2 de Dezembro de 1866, na Tchecoeslováquia e deixou sua casa aos 13 anos de idade. Filho de pais pobres, Figner teve que imigrar para o Novo Mundo, como faziam os jovens da Europa Central, naquele tempo. Aos treze anos, como disse, sai do lar paterno e vai para a cidade de Bechim, aprender um ofício. Em 1882, aos 16 anos, deixa definitivamente a terra natal. Parte com sua maleta de emigrante para Bremershafen, de onde, a bordo do vapor “Elbe“ (como passageiro de terceira classe), ruma para os Estados Unidos da América só levando dinheiro para a travessia. Contava Figner um pormenor interessante dessa viagem. Sua mãe fizera e lhe dera para a viagem uma trança de pão doce. Chegando a bordo, nota que a alimentação de terceira classe é absolutamente insuportável. Divide e economiza então o seu pão doce, de sorte a durar para os 14 dias de travessia.

Uma tempestade violenta foi o único incidente da travessia, tendo sido mais dura a luta para adquirir estabilidade econômica para manter-se e ajudar a família. Estados Unidos, México, América Central e, finalmente, América do Sul, foram seus campos de atuação. No Brasil, estabeleceu-se, prosperou, conheceu Esther de Freitas Reys. Mas não nos percamos.

De acordo com Humberto Franceschi, o primeiro contato de Figner com o que viria a descrever depois como “um aparelho com uns canudos que as pessoas punham nos ouvidos e riam” deu-se em 1889, no Texas. Sem muito interesse, como o cunhado já havia comprado a peça, adquiriram cilindros em branco e dedicaram-se a juntar repertório para exibir na américa latina. Terminada a turnê, movido a sonhos de riqueza, retornou aos Estados Unidos apenas para carregar-se de equipamentos, rumando para o Brasil e , num navio de carga, aportando, 12 dias depois, em Belém do Pará. Era o mês de agosto de 1891. A amazônia brasileira era um colosso econômico e Figner trazia a ela, em primeira mão, o aparelho Phonógrafo.

Ainda segundo Franceschi, hospedado no Hotel Central, Figner convocou o dono do hotel a registrar sua voz, ordenando-lhe em espanhol: hable usted aqui. Tendo o nativo verbalizado frase em francês que, depois de reproduzida a seus ouvidos, foi motivo de indizível espanto. Não mais o tempo levaria as palavras. Foi ainda convocado um advogado, Dr. Cabral, que registrou, maravilhado, um discurso contra a República. Após sucesso absoluto, e após ter recolhido repertório regional (modinhas, lundus etc.), gravado no próprio hotel, para suas próximas exibições, Figner partiu para Manaus e depois Fortaleza, Natal, Recife, João Pessoa e Salvador. Chegando, finalmente, ao insalubre Rio de Janeiro. Era abril de 1892.

O fonógrafo de Figner não foi, entretanto, o primeiro a que viu o Rio de Janeiro.