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05 abril, 2005

A razão da minha melancolia
Por Fran Pacheco

Image hosted by Photobucket.comMelancolia. No meu tempo os sábios europeus ainda não haviam inventado a depressão. Melancolia - essa era a palavra - se curava com formicida no guaraná ou acendendo querosene na banheira. No meu tempo os homens ficavam neurastênicos, as mulheres histéricas* e todos eram mais baixinhos (dois palmos mais ou menos) posto que ninguém comia biscoitos vitaminados. Havia em cada sala, num canto, uma elegante escarradeira de porcelana - e mais de 200 tipos de tosses e pigarros. Nos concertos e saraus não havia os odientos ringtones de telefones móveis - havia as tosses (podem conferir, em antigas gravações ao vivo). E tosse convém não se pôr para vibrar.

Mas a razão por minh'alma estar triste talvez seja que eu ande ouvindo demais, no Museu da Imagem e do Som, o clássico lacrimogêneo Coração de Luto, mais conhecido pelo carinhoso apodo de "Churrasquinho de Mãe", na voz de Teixeirinha. Para os mais novos (entenda-se por isso menores de 80 anos), ouvir as desventuras do pequeno capiau cuja genitora virou paçoca é um passatempo que desrecomendo.

No meu tempo havia música assim, triste de fazer chorar. Hoje, são ruins de fazer chorar.

* Histeria, literalmente furor uterino. Neurose típica da Belle Époque. Freud se esbaldou com ela no divã. Nada ver com a macaquice de gritar em programa de auditório, na frente do Felipe Dylon.