Image hosting by Photobucket

30 novembro, 2004

Diário póstumo de um cinéfilo (3)
Por Fran Pacheco

Apatia. Eis a palavra de ordem do festival. Tento vencê-la. Este é um festival de Aventura! Que soem as trombetas do tema de Indiana Jones! Não entendo por que ninguém topou pagar 50 reais por uma sessão noturna no Teatro. Sairia pela bagatela de cem reais o casal. Agora só vejo o Robério correndo de um lado pro outro. O Governador quer resultados, é um homem técnico, pragmático, quer retorno. Robério se afoba e libera geral a entrada. Aguardem: em breve estará recolhendo gente na rua para encher as sessões. A última esperança do secretário e expor o Giannecchinni às massas. Se ele vier.

Seguem minhas observações muy pessoais acerca do que vi:


Paloma de Papel (filme em competição)
Um filme literalmente do Peru. Belas imagens dos Andes me levaram a um sono gostoso durante a projeção. Eu estava pouco me lixando para o drama pessoal do protagonista, um marmanjo relembrando o tempo em que foi levado pelo Sendero Luminoso (a Al-Qaeda deles), quando ainda chico. A madrecita do menino morre. Pronto, contei. O que eu não me conformo é que o Peru - que fica logo ali, em Tabatinga - produz Cinema (Pantaleón y las Visitadoras, Bajo la Piel, No Se Lo Digas a Nadie) e nóis aqui, do outro lado da rua, fazendo vídeo caseiro de 1 minuto...

O Xangô de Baker Street (hors-concours)
Um dos mais caros filmes brasileiros em todos os tempos. A grana transparece em cada sequência deste blockbuster tupiniqum insosso, sem estilo e quase sem graça. Filme de época? Comédia? Noir? Aventura? A soma incipiente das partes incompletas de cada gênero, resultando num filme quadrado e pasteurizado (gostei desse chavão). A impressão é que, para garantir o retorno do investimento, foi contratada uma junta de diretores. Não há traço autoral. Jô Soares, que nem é tão bom ator assim, aparece numa gag. A prochaska da Isabel Guerón também, no justo momento em que eu acordava, o que, para mim, salvou o filme. Vale ser revista. Digo, revisto.

Buffalo Boy (filme em competição)
"Saigon. Shit." (Apocalypse Now). Mas vamos ao filme: Minh Nguyen-Vô é o nome do sorridente vietnamita que assina a película. Mais uma vez o curador francês, Messier Ditilhê, põe um drama de juventude na parada, desta vez deslocado para a Indochina dos anos 40, ocupada por quem? Pela turma do Asterix, é claro. Altos negócios nos trópicos úmidos é com eles (vide as ex-possessões na África e o Amazonas Film Festival). Não confundir com Buffalo Bill, embora essa fosse a intenção. O curumim em questão gerencia a manada de búfalos marajoaras, nas várzeas do delta do Mekong e cuida do pai gagá. Aprende muito com a ralação e se torna um Homem. Enquanto isso, meu sono se aprofundava e eu sonhava com meia hora de Norma Bengell pelada na praia naquela cena de Os Cafajestes (62). Mas Norma Bengell no atual estado. Acordei transido de suor.