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21 novembro, 2004

Cinemamorto assombra festival do Robério
Por Stella Maris - especial para o Club


Filmadoras portáteis de última geração serão as vedetes do festival de cinema dos Terríveis.

Mal o Secretário de Envernizamento Cultural do Amazonas, Mr. Robberyous Braga, anunciou o seu "I Festival Megalomaníaco de Cinema do Amazonas", e já surgiu um forte concorrente às suas pretensões de realizar "o maior festival de cinema do Brasil". Em aparição coletiva capitaneada por Fran Pacheco, no Centro Cultural Chico Xavier, um grupo de espectros de agitadores culturais anunciou oficialmente o "I Festival Mediúnico de Cinema de Desventuras do Amazonas."

Com curadoria do defunto cineasta Glaubério Rocha, a mostra reunirá toda sorte de produções abortadas ou assassinadas antes ou durante a produção, pelos motivos mais variados: a maioria por ser ruim mesmo. Outras, por serem "ousadas demais para o seu tempo". Várias por terem torrado todo o dinheiro do financiamento público na compra das coberturas duplex de praia de seus cineastas.

Glaubério - sempre falando pelos cotovelos - disse ter priorizado produções "anárquicas! Pós-modernas! Distópicas! Anti-imperialistas! Qualquer coisa que rompa com essa linearidade quadrada do discurso! E sem foco! Sem foco! Que foco é coisa de burguês!" Será uma oportunidade única para se conferir esse material. Gláuberio se empolga com a exclusividade: "com 100% de certeza esses filmes jamais serão vistos em nenhum outro lugar! Nenhum!"

Fran Pacheco explica que a mostra será realizada em pontos alternativos e "descolados", como a capela da Santa Casa, o necrotério do IML e diversos varadouros e encruzilhadas da cidade. O público pagará uma "modesta quantia, para manutenção de nossos sarcófagos" e em troca receberá uma dose de Santo Daime. "Sem esse cocktail de ayahuasca será impossível aos viventes tomarem contato com delírios audiovisuais do além-túmulo."

Ao final da mostra, a obra malograda mais execrada receberá o prêmio "Guilherme Fontes", escultura na forma da cabeça chata do Chatô - o Rei do Brasil. Fontes avisou que só vem ao festival se o Governo "arranjar mais seis milhões de dólares. Só quero mais seis milhões para concluir o meu filme e o piso de mármore da minha cobertura."

Confira abaixo a programação da mostra competitiva e prepare sua mente e seu estômago para essa maratona de cinema-arte:


  • Tabatinga, Mon-Amour - Clássico da Nouvelle Vague Baré, um filme com começo, meio e fim, não nessa ordem. Trilha sonora inesquecível do mímico Marcel Marceau.
  • O Último Tango em Parintins - A famosa "cena da manteiga" levou o governador Jânio Quadros a um ataque de gota e à proibição eterna deste clássico do "cinema de sacanagenzinha soft-core".
  • Je Vous Salue, Maninha - Filme-escândalo de Jean-Luc-Clochard, misturando fundamentalistmo religioso e Kama-Sutra, sob o ponto de vista de uma desinibida cunhã-poranga praticante de Kundalini Yôga. Foi proibido de ser rodado em todos os países do mundo.
  • O Ano Passado em Marabá - Aclamado pela crítica como "o filme mais chato de todos os tempos". Nenhum ser humano jamais conseguiu ver na íntegra suas oito horas de longos e silenciosos planos em preto e branco representando a busca de um protagonista anônimo por algo que se supõe ser o sentido da vida ou a chave de seu apartamento.
  • Rimbaud Programado Para Matar - Veterano-traumatizado da guerra Franco-Prussiana, Arthur Rimbaud dedica-se a exterminar poetas concretistas e vanguardistas, num jorro de sangue simbolista em sonetos e elegias, uma verdadeira temporada do inferno.
  • A Merreca Furada (Vol. I) - Faroeste tosco de Hong-Kong, rodado na mata amazônica, com muita mulher pelada e palavrões dublados porcamente em italiano. Representante máximo do gênero Yakisoba-Western, o filme de cabeceira de mestres como Quentin Tarantino e Hermes & Renato.

Para o público infantil e de trintões saudosistas, será exibido o clássico absoluto da Sessão da Tarde Amazonense:

  • A Fantástica Fábrica de Cambalachos - com Nino Mazonka no papel do ex-governador-prefeito-senador que vive recluso em seu castelo, rodeado pelos prestativos anõezinhos barrigudos, os Lamby-Coos. Em cartaz durante vinte e dois anos, acaba de ser proscrito dos cinemas locais. Foi substituído pela comédia mambembe "É dos Carecas que Elas Gostam Mais".

Faremos a cobertura completa do evento. Divirta-se, mas com moderação. Cinema de arte em excesso, em particular o iraniano, faz mal à saúde.