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02 novembro, 2004

Sobre a imprensa
Por irmão Paulo

Remetendo ao título esclareço que falo sobre a imprensa amazonense, décadas de atraso em relação à boa imprensa nacional. O que se viu nas eleições deste ano foi o aviltamento generalizado da imprensa local. Os jornais, sobretudo os escritos (que, como diz Fran Pacheco, podem vender-se à vontade) abusaram da possibilidade de dirigir, aumentar e forjar notícias e apreciações. Veículo símbolo da pouca-vergonha que imperou no ramo é o diário a crítica, sobre o qual pretendo refletir.

A’ crítica, que não merece ser chamado de jornal, a não ser pelo fato de ser diário (do lat. diumális, na acepção italiana giornale), através de seus diversos pontas-de-lança, consolidou sua falta de credibilidade, seu apego à mistificação, a partidarização evidente, o direcionamento das notícias, a reportagem sempre opiniosa dos acontecimentos, mal escondendo o pavor terrível que a esmoleira família Kane tem de ficar sem seus trocados públicos. O que se deseja ver agora, eu ao menos, é a como Serafim irá conduzir essa gente, cuja fome por dinheiro público não encontra saciedade.

Como disse, a imprensa Amazonense está décadas de atraso em relação ao restante do país e do mundo. O Professor Paulo Figueiredo, cito-o exemplificativamente sem intenção de dar-lhe prestígio indevido, em artigo publicado no mencionado diário, ressuscita, com ares de novidade, polêmica dos anos 1960 e 1970 sobre a “diferença entre notícia e comentário e portanto chamamento à realidade”, tema que é obsoleto, como já reconhecia Umberto Eco lá pelos idos de 1997. À época, na qual o Professor parece ter parado, muitos profissionais de verdade sustentavam, como sustenta ainda o Professor em seu artigo, que à exceção do boletim meteorológico, não existe notícia verdadeiramente objetiva. Tosco engano.

É possível a notícia objetiva. O que, quando, onde, como e porque é coisa que qualquer alfabetizado (como é o caso da plebe rude desta terra) faz. Como observa o mesmo Umberto Eco, nos últimos decênios vem se afirmando o estilo da chamada “tematização”. Assim, “mesmo separando acuradamente comentário e notícia, a própria escolha da notícia e sua paginação constituem um elemento de impacto implícito”. Se não se pode considerar legítima a estratégia da tematização, como forma de exprimir opiniões através de notícias completamente objetivas, pelo menos há que se reconhecer que é mais decente que o proceder do diário dos Kane, que sistematicamente desconsiderou o imperativo de igualdade de condições entre os candidatos, omitindo fatos, distorcendo informações, informando pela metade, utilizando imagens depreciativas e, ao final, em ação de homenagem ao velho Surubim Kane, articulando-se com o candidato de sua predileção para noticiar com riqueza de detalhes o caso IPTU.

O Professor menciona que quando começou no jornalismo, lá pelos anos 60, onde parece permanecer até hoje, era normal que os jornais tivessem lado e compara, sem lavar a boca, o The New York Times com o jornaleco dos Kane, asseverando que aquele manifestou-se a favor de Kerry em seus editoriais. Esquece de mencionar duas coisas importantes: 1. o jornal escolhe seu lado segundo os interesses empresariais do Dr. Dono. Era assim nos anos 60 e continua assim hoje. Os Kane escolheram seu lado deles tendo em vista as possibilidades de benesses financeiras e da impunidade em relação ao caso Banestado (se alguém ainda lembra a Dona Kane foi mencionada como exportadora de divisas). Foi assim com o Ministro Arigó Nascimento, que, pelo que pude captar, deu ao Kanezinho a primazia de explorar os espaços publicitários das novas, minúsculas e inadequadas paradas de ônibus pelo Arigó trocadas. 2. The New York Times, como todo jornal de primeira linha, manifesta sua opinião no editorial, bem diferente do papel dos Kane, que o faz sub-repticiamente no noticiário. Não tem desculpa, nem apelação. O jornal morreu.

No dia seguinte ao da eleição de Serafim, voltam os Kane a se ufanarem de tradutores dos mais puros sentimentos populares. Revelando um jeitão meio Pravda (de Stalin) de ser. Os jornais não são tradutores dos anseios puros do (e)leitor, são, ou devem ser, fonte de informações (sobre tudo que ocorre no mundo) e veículo de opiniões divergentes sempre, para que do choque entre as divergências nasça a opinião do leitor. Mas isso é querer demais da imprensa manauara, é querer demais do Professor, que de amigo siamês de Amazonino, tornou-se figadal inimigo. Sem ligar para o fato de que briga entre amigos é coisa de mulher ou de veado, e que homens sérios não rompem.