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11 novembro, 2004

Historietas de Manáos (1)
Por Fran Pacheco

"Ponte Metállica da Cachoeira Pequena "

Não, não se trata de nenhuma emulação da coluneta bissemanal que o Berinho publica no jornal dos Kane. Até porque Mr. Robberyous fala de coisas do arco-da-velha baseado em relatos, livros mofentos e chute. Eu não. Eu estava lá.

Estava, quando o governador mulato-maluco-beleza Eduardo Ribeiro (O Pensador) detinha-se melancólico, com o cavalo parado à beira do Igarapé da Cachoeirinha. Para sair do Palácio do Governo, ali na Praça D. Pedro I (hoje em decomposição financiada pelo Monumenta) e chegar nos arrabaldes da Cachoeirinha, só pegando uma catraia. A cavalo, nem pensar. Isso pelos idos de mil oitocentos e noventa e pouco.

Ganhei muito dinheiro naquela época. Libras (do tipo esterlinas) de uns trouxas ingleses na mesa de bilhar do Hotel Cassina. A coisa mais fácil do mundo é ganhar de bêbado no bilhar. E meu organismo era imune a várias doses de Joãozinho Caminhante e absinto. Meus negócios eram sortidos e, em geral, controversos. Eu era, além de anarquista, uma espécie de lobista desses súditos da Rainha Vitória (e a véia não morria). Sabia que o governador queria ordem e progresso, e a bufunfa era tão farta que acendia até charutos (eu vi). Com a palavra, Ribeiro: "Posso afirmar que os recursos de nosso Estado são inexgottaveis!"

"Então, Excelência", eu dizia, "somos os caras certos para resolver o seu problema e o da cidade. Quer ligar o Centro ao cafundó chamado Cachoeirinha? Façamos a ponte, pois!" Nesses momentos, ele entrava em surto e imaginava não pontes, mas túneis sobre os igarapés. Queria túneis com marias-fumaças passando por baixo de tudo, tal e qual o metropolitano de Londres. Eduardo Ribeiro hoje é nome de avenida e hospício.

Entre um surto e outro eu o convenci a fazer a ponte metálica que hoje está lá. Sugeri chamá-la de Ponte Mikhail Bakunin. Entenderam Bacuri. Batizaram de Benjamin Constant, um porco positivista que era ídolo dos milicos da época (Eduardo incluso). Bem, deu pra ganhar um bom dinheirinho, sim. Hoje passa um esgoto embaixo. Mas qual não foi a alegria dos cidadãos manauaras no dia da inauguração!

E qual não foi a alegria de Eduardo Ribeiro, naquela mesma noite, passado o festejo, quando enfim pôde atravessar a ponte a cavalo, para encontrar-se com sua fogosa amante, que morava do outro lado.

(Em breve: como criei a cúpula do Teatro Amazonas.)