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15 novembro, 2004

Que República de Mierda é essa?
Por Fran Pacheco

"Viva Sua Majestade o Imperador!".
Marechal Deodoro da Fonseca, aos 15 de novembro de 1889.


O brasileiro é um feriado, repete-me irmão Nelson Rodrigues. Cabe explicar o porquê de mais esse pretexto para vagabundagem cívica chamado 15 de Novembro.

Convenhamos, uma republiqueta supostamente proclamada por um monarquista convicto jamais poderia ser levada a sério. Jamais poderia dar certo. Digo "supostamente proclamada" porque a verdade cristalina dos fatos é essa: Manoel Deodoro da Fonseca (foto), o Generalíssimo (apelido depois imitado pelo ditador castelhano Francisco Franco) fez de tudo, naquele fatídico 15 de novembro de 1889. Menos proclamar a tal da república.

- Um cadete teria esboçado um "viva a República" na ocasião. Mas foi só. Deodoro repreendeu com rigor o fedelho.

Que diabos queria o Generalíssimo Manoel? Pura e simplesmente escorraçar o Gabinete do Visconde de Ouro Preto, hostil aos milicos. Mas o que o levou, febril e acamado que estava, a ceder aos apelos dos ressentidos fardados e liderar a quartelada? Alguém (e dessa vez não fui eu) soprou ao Generalíssimo que o Ouro Preto seria substítído pelo gaúcho Silveira Martins para chefiar o gabinete. "O Silveira, não!", pensou consigo o Maneco, lembrando da Adelaide. Explico: em tempos passados, Deodoro e Silveira disputavam os encantos da alcova de D. Adelaide, viúva alegre e prestativa, na pujança de seus 34 anos. Silveira acabou por levar a melhor na parada, ganhando a inimizade eterna de nosso "Proclamador".

Quadrinha da época, que corria à boca pequena no Rio de Janeiro:

Papagaio come milho,
Coruja bebe azeite,
Mas a pomba da Adelaide
Come carne, bebe leite...


Pois foi pensando na remota e para sempre perdida pomba da D. Adelaide que Deodoro (muito fulo) subiu no cavalo e seguiu com a tropa para o campo de Sant'Ana. Ouro Preto foi preso, dois tiros foram disparados e só. Deodoro saudou o Imperador e foi-se embora. Nas ruas, niguém entendeu patavinas.

A tal república foi criada naquela noite, quando os conspiradores aproveitaram a deixa, o vácuo de poder, para aposentar de vez o velho Imperador. Logo ele, um homem tão culto (falava sânscrito fluentemente, mesmo sem ter com quem praticar). Cambada de milicos positivistas... Milico positivista foi um dos grandes paradoxos do meu tempo, já que a doutrina de Auguste Comte (a do "Order and Progress") associava a Monarquia ao estágio teológico-militar, uma etapa a ser superada. Coisas do Bananão. Os "milicos positivistas" (rárárá) mandaram o bom velhinho embora, pra morrer na França (por que sempre na França?). Ele & família, incluindo o Conde d'Eu (pra quem, senhores, pra quem?).

O legado disso? Bem, o massacre de Canudos, as Revoltas da Armada, a Revolução Federalista esmagada na base das "cabeças cortadas a facão", a carnificina do Contestado, a ditadura do café-com-leite (regime nem de longe sequer assemelhado a qualquer coisa próxima de uma democracia representativa). Lampião & Padim Ciço. O golpe de 30, que gerou o golpe de 36, com Estado Novo e tudo. A Gloriosa de 64. O município de Presidente Figueiredo. Os fiscais do Sarney. Um cocainômano Collorido. E toda sorte de estelionatos eleitorais sociológico-metalúrgicos.

Fazer o quê? Curtir o feriado, ora pois. Dá pra imaginar um Império Tropical do Bananão, hoje, se o Deodoro não tivesse levantado da cama naquele dia? Não teríamos esse feriado. O feriado seria o aniversário d'El Rey. Um playboy qualquer, Pedrinho de Orleans & Bragança Ltda. Pós-moderno e metrossexual, casado com uma ex-mulata do Sargentelli. Quem sabe, D. Solange Coito. E os Dotô seria tudo Barão. Bom enredo para um samba do monarquista doido.