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10 fevereiro, 2007

Ninguém segura essa indústria
Por Fran Pacheco

Ouçam o que vou escrever, leiam o que vou dizer, tanto faz: toda essa discussão sobre a necessidade premente de nossa indústria crescer não faz, atenção para a entonação “snob”: não faz o menooorrr sentido. Só os pobres de retina não vêem que a indústria do Bananão já é um prodígio de crescimento. Por exemplo: a indústria da violência. O setor ostenta uma pujança espantosa, uma aceleração assombrosa, capaz de driblar e fugir de qualquer crise, seja por túneis ou pela porta da frente da cadeia.

As projeções indicam que em poucos anos, a serem mantidos os atuais incentivos e subsídios (parceiras público-privadas facções-polícia; justiça cega, surda, muda e com lumbago; educação da molecada gerida pelo tráfico; Poder Público adepto do liberalismo estilo “deixa rolar”) elevaremos nosso PIB (profundo inferno brasileiro) a patamares nunca vistos no mundo civilizado. Bagdá, atual referência mundial em carnificina, não perde por esperar.

Mas nossa efervescência industrial não pára por aí. Vejam a indústria dos golpes: só um país com tamanha vocação artística poderia produzir tantos e tão talentosos estelionatários. Nossos trambiqueiros vivem uma explosão de criatividade, inovação e ousadia capaz de deixar no chinelo os gênios do Vale do Silício. Tudo em comunhão com os modernos princípios do código-aberto, do software-livre: malandro nenhum patenteia ou cobra royalties por suas invenções e sai por aí espalhando “eu sou o criador do Boa Noite Cinderela! Do golpe do bilhete premiado!”, querendo faturar com a história (a não ser que seja golpe de marketing). E embora haja tanto golpista trainee ingressando todos os anos no superaquecido mercado de trabalho, ninguém fala em saturação do setor – ao contrário, otário é o que não falta.

Se somarmos a tudo isso a meritíssima indústria das liminares e a meretríssima indústria da prostituição, a tão difamada, mas crescente indústria dos danos morais, a torrencial indústria da seca, a bem fornida indústria da fome, a indústria cult das faculdades de esquina, a epidêmica indústria dos planos de saúde, a bem-dotada indústria da pornografia, entenderemos de uma vez por todas que o que falta neste país não é indústria, mas infra-estrutura. Afinal, nesse ritmo o futuro do Brasil passa inevitavelmente pelo esgoto.