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11 janeiro, 2007

In dubio, pro recto
Por Fran Pacheco

Os nobres advogados de porta de cadeia que me perdoem... mas cliente VIP, filho da puta e enrolado é muito melhor. Ah, que curtição não deve ser arquitetar uma defesa mirabolante, que doce e bem remunerado exercício de cinismo, que sádico prazer de contorcer as juntas da verdade profunda (aquela que não se pode declarar à Receita) para espremer dali a mais deslavada e esfarrapada desculpa... Tudo isso num esforço supremo para controlar o incontrolável: os movimentos involuntários, instintivos da gargalhada franca diante dos otários.

Meu chapinha, só com muito traquejo, com muitos calos nos dedos de tanto contar dinheiro de honorários (em cash, faz favor) para conseguir declarar à imprensa, olhos nos olhos, numa boa, que “meu cliente é inocente!” – com o dedo em riste e espalhando perdigotos “indiguinados” pela sala. Você não conseguiria. Tente fazer isso no espelho. Diga: “A bispa Sônia é inocente, aleluyah!” E não pense que basta se formar bacharel para conseguir essas proezas. Não, negativo... bacharel até organismos simples como o Ronaldo Tiradentes e o Carrapeta o são. Estamos falando aqui de high-art.

Nota necessária: É claro que minutos depois, no recôndito banheiro do fórum, o advogado, que apesar de tudo é um ser humano, tem um acesso incontrolável de riso, desses de dar pontadas na bexiga. Passa uma água no rosto, e recompõe a fisionomia, mais sério que cu de touro.

Arrependo-me amargamente de minha longínqua deserção da Faculdade de Ciências Jurydicas & Sociaes. Poderia hoje estar defendendo o Procurador Geral de Justiça do Amazonas, Dr. Vicente Cruz, que andou procurando um sicário para matar o candidato rival na eleição interna para Procurador Geral e terminou preso no próprio gabinete, que nem o Arafat. Nas lutas intestinas do Parquet amazonense, dossiês para aniquilar o adversário são coisa do passado. Agora é na base do trabuco mesmo. Se essa moda pega na Câmara...

Aparentemente, o Dr. Vicente amarelou na hora agá e ligou para o Zeca Diabo, em conversa gravada pela, er... “inteligência” da poliça amazonense:

Dr. Vicente: “Aborta!”
Zeca Diabo: “Mas dotô...”
DV: “Aborta, aborta, aborta!”
ZD: “Mas o pessoar já tá na rua, dotô...”
DV: “Aborta, aborta, aborta. Já chamei outro.”

Coisa mais fácil livrar o Dr. Vicente dessa. Em vez de assassinato, Dr. Vicente encomendou exatamente o que se ouviu: um aborto – que é ligeiramente diferente. Quem há de negar? Se bobear aparece até um “estrupo” ou um anencéfalo na jogada, pra coisa ficar toda legalizadinha. Dr. Vicente é filantropo, bicho.

Tudo bem, advogados do diabo... mas e essa história de que “o pessoal já está na rua”? Muy simples... os médicos aborteiros originais foram demitidos. Tanto é que o Dr. Vicente arremata “já chamei outro”, referindo-se ao profissional recém-contratado (Aparece um zé-mané da Zona Leste enfiado num jaleco e dizendo: “é eu!”)

Ora, esta é a verdade luzidia, auto-evidente, senhores, verdade que em hebraico se escreve EMETH! Não há que se fazer ilações levianas, estrambóticas, motivadas pela intriga solerte da oposição, típica de período eleitoral, senhores, não, não! O nome do meu cliente é VERDADE. Não quereis tirar-lhe abruptamente a letra inicial e transformar-lhe em METH, quem bem sabeis é MORTE, na mesmíssima língua semítica. Meu cliente, senhores, foi, é e será sempre INOCENTE! (*)

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(*) Em off, que ninguém é de ferro: Quáquááquaáááá!!!!!

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É uma arte para iniciados, sem dúvida. Só nos resta torcer para que Márcio Thomaz Bastos guarde para si suas manhas e não saia dando workshops por aí.