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29 outubro, 2006

Elogio fúnebre da campanha eleitoral
Por Fran Pacheco

Semoventes do Bananão, meus irmãos, meus semelhantes, emprestai-me vossos ouvidos e headphones. Estamos aqui, meditabundos e sorumbáticos, para nos despedirmos desta eleição que feneceu hoje, quando o último paruara atrasadinho apareceu para cometer seu voto, na circunscrição de Pixoxó dos Goitacazes do Norte. Agora, apesar dos buzinaços dos ocupantes de cargos em comissão, tudo está melancolicamente acabado. A campanha morreu. Bafuntou. Espichou a alcatra. Desinfetou o beco.

Não importa o resultado: é hora de vestir luto fechado. Ficar de nojo, como diria sua trisavó. Acabou a farra. Nenhum político aparecerá mais suado no meio das favelas para ver “como é que estão as coisas”. Não tomarão mais cafezinho no mercadão, não engraxarão mais os sapatos no meio da estação central, não cortarão mais o cabelo no barbeiro do cais do porto, não comerão aquele sopão reforçado com perninha de barata, ou aquela requintada buchada. Não farão mais caatinga-tour no lombo de jegue. Todos eles vão sumir misteriosamente por dois ou quatro anos e só dar as caras nas colunas sociais e/ou policiais. Quem levou um estrepitoso tapinha nas costas, agora levará um velado pé na bunda.

O sonho de um Brasil-anúncio (desses premiados em Cannes) acabou. Foi para o beleléu. Virou de cujus. E pensar que nossa vida estava tão boa, como nos mostravam as vinhetas chapa-brancas. Gentes de todos os matizes, sorrisos kolinos, confiantes, obras monumentais mostradas pela grande-angular, fotografia em contra-luz, slow-motion e com a Ode à Alegria ao fundo. E pensar que nossa vida poderia vir a ser tão boa, como nos prometiam as vinhetas da oposição... Gentes tão ou mais sorridentes e confiantes que as do bloco anterior, obras monumentais sendo tocadas pessoalmente pelo candidato, na clássica pose de capacete, danto pitaco nos projetos e apontando para algum lugar, como a dar ordens (“levanta aquele pilar mais pra cima, pô! Afasta... isso, agora aperta!”).

Agora toda a beleza, o dinamismo, o élan, tudo se foi. Empacotou. Foi comer capim pela raiz. Os discursos que nos prometiam a Escandinávia de presente, acabam de virar o “veja bem... não foi bem isso que eu quis dizer...”. O Brasil Forte que tudo podia agora não pode mais nem com o cocaleiro boliviano. Nosso único consolo será o Haiti. Enquanto houver um Haiti para servir de comparação, sempre estaremos bem.

O desrespeitoso buzinaço dos apaniguados logo vai passar e eles voltarão à sua faina de parcas, tecendo as teias nefastas dos próximos qüiprocós. Adeus, maviosa campanha eleitoral. Que a terra lhe seja leve, já que a lama foi tão pesada. E, meu chapinha, não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por você, que acaba de virar o bom e velho zé-povinho de sempre. Que a próxima campanha seja eterna enquanto dure.