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01 julho, 2005

O anjo exterminador
Por Fran Pacheco

Eu tinha uma convicção. Eu me achava uma persona de bem, fiel descumpridora de deveres maçantes e caretas - sempre à margem da zona de incidência das obrigações tributárias (quem mandou me pagarem tão mal?). Na média ponderada pelo mínimo denominador comum, podia me considerar uma pessoa proba, de ilibada conduta e caráter sem nódoa - apenas de elevado teor etílico. Até que me veio em sonho esse Bob Jefferson, em trajes de cavaleiro templário, montado num ginete que soltava fogo pelas ventas. E Bob a me apontar o dedo na cara, com uma risota marota, a dizer-me: "Vossa Senhoria não é melhor do que eu...". Devolvi-lhe o dedo (médio) na cara e disse que eu não tinha nada! Nada a esconder. O acusado era ele, não eu! Ele manteve aquele riso sardônico, olhou-me fundo nos olhos, meneou com a cabeça (tal e qual Lawrence Olivier) e disse, com dicção shakespeareana: "Vossa Senhoria sabe muito bem do que eu estou falando...". Foi aí que a cortina de fumaça cerrou-se, uma harpa tocou e eu lembrei de tudo, do que fazia com aquelas pobres tanajuras cujas bundas eu amputava em criança - e aquilo foi só o começo de uma longa escalada de sadismo e concupiscência, que culminou no incidente da invasão do vestiário das normalistas - que eu só falo em juízo, só em juízo! Isso aqui é um estado democrático de direito, ouviu bem, seu Bob Jefferson?... que tal esquecermos nossas desavenças?