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04 junho, 2005

Ultra-sonografia de uma administração
Por Fran Pacheco

“Meus parabéns! A senhora está com um escândalo. E ele está prestes a vir à luz.”
“O quê, doutor?!”
“Um escândalo. E dos grandes. Veja aqui no monitor. Olha como ele se agita quando alguém tenta chegar perto. Como se avisasse: chega pra lá, essa mamata é minha!
“Isso aí está dentro de mim?”
“E já faz um bom tempo. Acontece nas melhores repartições, minha senhora. Não se preocupe. Quando ele vier à baila, ganhará manchetes garrafais nos jornais. A senhora ficará famosa.”
“Mas o que meu patrão vai dizer, doutor? Ele não sabe de nada.”
“Seu patrão, aquele zé-povinho? Ele nunca sabe de nada, é de praxe. Mas será por pouco tempo. Logo, logo, a bolsa estoura.”
“Não tem como empurrar com a barriga?”
“Isso só vai fazer o escândalo ficar maior. Veja só o tamanho dele, veja como move o gordo polegarzinho como se contasse dinheiro vivo. E pensar que há alguns meses ele era apenas um pequenino descalabro, que foi crescendo, sugando recursos, virou um esquema, foi crescendo...”
“Doutor, não temos como... o senhor sabe... e se eu não quiser ter... eu não quero dar palanque para a oposição, sabe? Não tem como...”
“Abortar? Não me fale uma coisa dessas, minha senhora! Logo a senhora, que sempre foi contra o aborto de escândalos?”
“Virei a casaca, doutor. Sabe como é. Aquele palácio da Alvorada mexe com a nossa cabeça, abre nossas idéias...”
“É impossível abortar um escândalo. O máximo que uma cirurgia de abafa poderia fazer seria congelá-lo novamente, como um descalabro. E conservá-lo assim, indefinidamente, dentro de algum órgão público. Mas tudo isso tem um preço.”
“Quanto, doutor? Pode falar!”
“Quanta verba de emendas parlamentares a senhora tem à disposição?”
“Toda, doutor! Toda! Tudo que o senhor quiser.”
“Cinco por cento. Cinquinho. Já está de bom tamanho.”
“Cinco? Fechado, doutor!”
“E tem uns sobrinhos meus, calouros da faculdade, que gostariam de um cargo no alto escalão.”
“Tudo bem, tudo bem. Mas vamos logo com isso, doutor!”
“E uma namorada de dezessete aninhos que é lôquinha pra ser diretora de autarquia. Mas isso fica só entre nós, certo? Se minha mulher descobre, vai querer mamar também.”
“Certo, certo, doutor! Pode abafar, que eu tenho que viajar amanhã.”
“Então vamos lá... Escancare bem as pernas... Maldição!”
“O que foi, Doutor?”
“O ultrassom. Estava grampeado.”
“O quê! Como? Por quem, doutor?”
“Por quem eu não sei. Só sei que a senhora vai ter um parto prematuro.”