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22 junho, 2005

Orgulho de ser Neandertal
Por Stella Maris - especial para o Club

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Eles estão por aí...

Causou furor e revolta na comunidade paleolítica organizada um série de reportagens veiculadas em importante programa dominical sobre a suposta extinção, há 30 mil anos, dos chamados Homo neandertalensis. “É mentira! É conversa pra mamute dormir! Tamo levando a vida, mano”, garante o presidente do “Movimento Consciência Troglodita”, Haraak Guruuk Mött. Entre uma mordida e outra num pernil cru de rinoceronte, Mött é incisivo em suas críticas contra seus maiores desafetos, os Homo sapiens: “São tudo uns bando duns mané!”

A rixa entre os autoproclamados sapiens – admiradores de poesia e física quântica – e os neandertais – robustos, porém menos dotados de massa cinzenta – vem de longa data. “Essa parada começou na era glacial”, explica Mött. Após chupar as unhas cheias de limo, o ativista denuncia o que considera uma conspiração maquinada pelos pérfidos sapiens para denegrir e excluir a imagem dos neandertais das maravilhas do mundo moderno. “Eles diz que inventaro as sinfonia de Mozárte e outras coisa de pirobo. Mais kem eles pensa que inventou o Heavy Metal? O Punk? O Pagode? O Grunge? Os baile funk? Aí kem bolou o skate e o surfe, mano? A suspensão rebaixada? Yo, kem eles pensa q dirige aquelas picape e moto 500 cc a 200 por hora nas quebrada? Aí kem criou os Gavião da Fiel e a Mancha Verde???”, grunhe Mött, espalhando sua baba num raio de vários metros. Após um longo e medidativo silêncio e uma coçada nas dreadlocks, Mött consegue concluir para si mesmo: “Nóis!”

Perguntado por que os neandertais não assumem sua verdadeira natureza, preferindo se passar por arremedos de Homo sapiens, Mött arrota estrondosamente e pondera: “os mano prefere levar na maciota, é a lei do cão, mais vamo virar esse jogo.” O primeiro passo é acabar com a expressão políticamente incorreta “Homem de Neandertal”. “Nem falar esse troço direito a gente consegue”, queixa-se Mött. Para ele, o correto seria chamá-los de “bródi-descendentes”.

Mas não é só. O engajado brucutu planeja levantar o moral das hordas revelando à sociedade que grandes vultos da Humanidade fazem parte da espécie. “O Chorão”, resfolega Mött, “ele é o porta-voz da nossa geração”. Perguntado se Chorão – crooner do Charles Brown Jr. – seria então um poeta libertário, uma espécie de Bob Dylan cavernoso, Mött coça as pudendas e devolve: “Quem é esse, já?!”

Mött não se aquieta e mostra o esboço de um outdoor com as fotos de Alexandre Frota (“um grande pensador da raça”), Ozzy Osbourne (“verdadeiro poeta e gourmet”), Mike Tyson, Maguila, Vin Diesel, Dolph Lundgren, Sabrina Sato (“nossa musa”), O tetracampeão Dunga, Edmundo, Carlito Tévez, Gil Gomes, Athayde Patresi, O. J. Simpson, Vítor Belfort, Dado Dolabella, Kléber Bam-Bam, Cigano Igor, Gêmeos, João Gordo, Latino, Otávio Mesquita (“apesar de metrossexual, ele é dos nosso”), Muamar Kadafi, Hugo Chávez e o novo xodó dos adoradores da pedra lascada: Príncipe Harry. Isso mesmo, o encrenqueiro herdeiro do trono bretão: “Já chegamo ao poder no 3º Mundo. Agora é a vez da Ingraterra.”, ufana-se Mött, farejando algo de estranho no sovaco.

O objetivo último do “Movimento Orgulho Neandertal” vai muito além de cotas para bródi-descendentes ou desfiles gigantescos, com as hordas copulando a céu aberto, portando livremente clavas e tochas, devorando carne de caça crua e andando, de quando em vez, de quatro. Mött, rindo como uma hiena jurássica (“kkkk”), avisa: “Os sapiens que se cuide. Nóis vai dominar!”. E quem duvida que este seja o futuro da Humanidade?