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18 maio, 2005

Educação sexual através da música contemporânea
Por Fran Pacheco

Image hosted by Photobucket.comMeu senhor, minha senhôra, a não ser que seu pequeno herdeiro seja criado dentro de um contêiner hermeticamente fechado, mais cedo ou mais cedo ele ouvirá falar, em verso e prosa, sobre aquilo (que será, que será?) que os senhores sabem muito bem a que estou me referindo. Isso mesmo, ruborizada mãe de família: sexo. Ouviu bem? SEXO! Mas nada de pânico ou palmatória. Tudo pode ser contornado com um bom e honesto esclarecimento, ajudando seu pimpolho a ter uma formação das mais equilibradas e saudáveis.

Em nosso primeiro fascículo, seu bacuri acaba de cantarolar com os coleguinhas de maternal a cantiga “Festa no Apê”, do chansonnieur Latino – e ficou com a cabeça cheia de idéias. Você está aí para pôr tudo em pratos e lençóis limpos e esterelizados. Ponha o pequeno no colo e use uma linguagem adequada para a psiquê da criança:

Pergunta – Papá, o que é “bundalelê”?
Resposta – Bundalelê, meu filho, é o ato ou ação de virar-se de costas para a platéia, inclinar-se o tórax para baixo, projetando-se pela lei da ação e reação as nádegas, para o alto, concomitantemente ao ato ou ação de desafivelar-se o cinto, abrir a braguilha e, ato contínuo, forçar a calça ou pantalona a deslizar cintura abaixo, cuidando-se para que este movimento abarque simultaneamente a roupa de baixo, seja quantas camadas forem, provocando ipso facto a exibição integral, sem tarjas pretas, da região glútea para a platéia. Recomenda-se arrematar a atitude com um chacoalhar maroto dos quadris e cobrir-se o quanto antes, pois já basta Napoleão ter perdido a guerra assim. Mas não ligue muito para tudo isso, meu filho, a palavra “bundalelê” provavelmente foi colocada pelo letrista apenas como rima pobre, paupérrima, rima em petição de miséria, da palavra “apê”.

Pergunta – Mamã, que é “birita”?
Resposta – Isso não tem nada a ver com sexo, Carlinhos. Quando você for maiorzinho seu pai conta pra você o que é, tá bem? Ele é o maior especialista no assunto. O traste...

Pergunta – Papá, o que é “tesão”, “sedução” e “libido”?
Resposta – Esta tríplice pergunta, meu filho, há que ser respondida em três partes. Tesão, meu filho, nada mais é do que o aumentativo de teso, étimo herdado do latim taesus, tenso, rígido, duro, que é o efeito mais visível e/ou palpável da irrigação dos corpos cavernosos no órgão copulador masculino, indicando que um fator externo deu o start, o boot no mecanismo, tornando o sujeito - que por extensão poética da idéia pode ser homem, mulher ou versátil – sequioso por acasalar-se naquele mesmo instante, se possível. Este fator externo é a sedução, que sem o/a tesão nas redondezas é como uma garrafa de Romaneé-Conti dando sopa, jogada no oceano, tu me entendes? E, last but not least, libido, meu filho, é uma glândula escondidinha no subconsciente, descoberta pelo tarado de Viena, o Segismundo, e que fica colocando todas essas coisas nas nossas cabeças.

Pergunta – Mamá, o que é “Orgia”?
Resposta – Responde você, Almeida... pra mim não dá mais!
Resposta – Orgia, meu filho, ah, que loucura, é a ação (e que ação!) coletiva de cinco ou mais pessoas (3 pessoas é ménàge-a-trois, quatro pessoas, muito provavelmente é swing) confinadas num recinto adequadamente equipado com um grande leito, piscina, tatâme, feno, ou chão de barro - na falta de coisa melhor - e fartamente fornido de suprimentos tais como: togas romanas, vaselina, viagra, pétalas de flores, chicotes, catuaba, esporas, cachos de uvas, coroa de louros, escravos númidas abanando o ambiente, halteres, uvas e kiwis, instrumentos de tortura clerical, aparatos plásticos pulsáteis etc. Todo mundo nu, ao som da Internacional, praticando a socialização do prazer, em que todos recebem conforme suas necessidades e dão conforme suas capacidades, tás me entendendo? Deixa eu exemplificar melhor com uma fábula de Esopo: certa feita a minhoca caiu numa macarronada e gritou: “Oba! Orgia!”. Agora vá brincar com as coleguinhas, meu filho, mas lembre sempre de usar a camisinha. Ai! Que é isso, querida?! Ui! É a camisinha de crochet que minha mãe rendou pra ele...

Pronto. Viu como tudo transcorreu (quase) sem traumas a curto prazo? Jogue suas mãos para os céus e agradeça por ninguém ter lançado a coreografia dessa música. E relaxe, recupere o fôlego, porque seu filho está agora pulando ao som das Obras Completas de Tati Quebra Barraco.