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07 maio, 2005

Acredite, se quiser
Por Fran Pacheco

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Admirável é o mundo da publicidade. Lá tudo reluz, é jovial, eficiente - ao contrário da porcaria do mundo real, que teima em não funcionar. Eu queria viver ali, entre ninfas, com minha imagem aos cuidados de um consagrado diretor de fotografia e minhas falas elaboradas por um redator com no mínimo dois Leões de Ouro em Cannes. Eu queria viver ali, naquele Amazonas sorridente das revistas de alto luxo que o Governo do Estado espalhou por toda a cidade e até por Paris (64 páginas full-color em papel cuchê de brilhoso, 128 referências ao Nome do Governador, umas 256 fotos do Governador, sendo um sorriso photoshopado de página inteira, tiragem de 50 mil exemplares. Preço pago pelos contribuintes para a promoção pessoal de Braga: mistério).

Destaco as páginas dedicadas ao PROSAMIM, que - ao contrário do que o nome sugere - não é similar do Prozac ou do Xarope Neurobiol. É um complicadíssimo (portanto caríssimo) programa que (ah, deixem-me acreditar) vai acabar de vez com a poluição e favelização dos igarapés de Manaus, hoje tomados por palafitas, mucuras, lixo e merde em abundância amazônica.

Já vi esse comercial em outros carnavais, mas viajemos por um instante na concepção artística do projeto (foto acima). Na foto menor (deixemos menor - é muito feia), o igarapé tal como é hoje. Uma espécie de leucemia urbana. Em resumo, o que o Governo nos promete é o seguinte:

(1) A primavera de Paris;
(2) Como a primavera será de Paris, as pessoas também serão, fazendo alegres promenades com roupas de manga comprida;
(3) Como os caboclos se tornarão parisienses, sentarão nos bancos para ler Bernard Henry-Levy (BHL) e Simone de Beauvoir;
(4) Como a água do igarapé não basta para enfeitar a paisagem, mais água: um chafariz.
(5) Como em Paris não há mato, as margens serão recapeadas com grama sintética, igual à das melhores quadras de futebol soçaite (ou melhor, société).
(6) E a pièce de résistance: o fim da água barrenta, com aquele visual Bangladesh e sua substituição por água azul. Sim, azul de Amaralina, azul Riviera, provavelmente com o uso intensivo de cloro e detergente.

As obras do projeto, embora monumentais, são discretas. Por isso ninguém as vê. Evidemment, ficarão muito mais visíveis na época da campanha eleitoral.

Foi-se o tempo dos comerciais de 30 segundos. Quem quiser ter um Rio Sena no quintal de casa será extorquido, digo, sugestionado a dar mais 4 aninhos para o Governador continuar com seu verdejante mandato-campanha-publicitária.