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20 fevereiro, 2005

Vai um Exorcismo 2.0 aí?
Por Fran Pacheco


Todo crente, fiel e praticante dos ofícios da informática acredita piamente que a luta entre o Bem e o Mal ecziste - e o lado escuro parece sempre estar um passo à frente dos cordeirinhos de Gates. Ou não somo nós (os do Bem, suponho) que nos vemos obrigados a dar os pulinhos e atualizar semanalmente - às vezes diariamente - o Janelinhas, as vacinas e muralhas de fogo do micro? Do outro lado, as legiões de espâmeres, ráqueres e cráqueres (1) (os do Mal, presumo) se divertindo na masturbação algorítmica de expelir novas pragas.

A Santa Sé, cuja escala de tempo são os séculos, apercebeu-se, em 1958, desta verdade absoluta: Jesus salva, mas o Diabo faz upgrade. E concluiu, em 1999, uma atualização no seu Ritual de Exorcismo - a primeira desde 1614(2). Ou vocês acham que, desde o tempo em que a peruca de Luís XIV ainda estava em vigor, o Tinhoso não aprimorou diuturnamente suas mutretas?

Em primeiro lugar, o Capiroto (não confundir com o ex-governador Amazonino Mendes), deixou de praticar e acabou por esquecer completamente o Latim. Como resultado, imprecações solenes como vade retro! (Vai reto, mas pra trás!) e revertere ad locum tuum! (volta pras tuas bandas!) deixaram de ter efeito. Seria o mesmo que alguém te mandasse comer sabão em Servo-Croata. O máximo que você entenderia seria a entonação raivosa - o que pode ser enganador, como demonstra o Alemão, em que até uma canção de ninar soa como um jab no piloro.

Segundamente(3), tão enferrujado quanto o rito estavam seus raros praticantes. O documentário O Exorcista (The Exorcist), dos anos setentas, mostrava Belzebu fazendo gato, sapato, contorcionismo e sopa de ervilhas na Linda Blair e em dois bananas de batina, Max Von Sydow e - quem era o outro sujeito mesmo? Na película, o Perna-de-Bode não foi, tecnicamente falando, derrotado. Como se diz no boxe, ele cansou de tanto bater - e deu o pira. Foi uma demonstração cabal da necessidade fazer um update no vade-mécum do Exorcista - e ensinar o trabalho duro às novas gerações(4). Ah, claro, sem previsão alguma de intercâmbio com os especialistas da Universal do Reino de Edir. A não ser para fins de dramatização.

Eu, cá no meu ceticismo-critico-agnóstico-não-praticante (e como 3/4 dos brasileiros, filho de Iansã), não acredito nisso - nos vírus de computador, evidentemente. Duvido que essas criaturinhas plantadas no imaginário popular pela McAffee e Norton Inc. possam me fazer qualquer mal. Fico na minha. E, enquanto as letrinhas despencam na tela do meu micro, o demônio de cabelos compridos e rabo fino rodopia no teto do quarto.

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Notas
(1) Como se vê, a única língua que presta para termos de informática é mesmo o Ingrês - a Última Flor do Laço só serve para fins humorísticos.
(2) Foi um bom ano para as ciências: Napier divulgou a descoberta do Logaritmo e foi inaugurada a Universidade de Gröningen. No Bananão, índios caetés defumaram e jantaram Fernão Vieira Toicinho.
(3) Extraído de Odorico Paraguaçu - que Dias Gomes, por sua vez, copypasteou dos tipos de José Cândido de Carvalho.
(4) É o que está fazendo uma prestigiosa Universidade no Vaticano, a Regina Apostolorum (vide linque). Sim, lá cabe mais de uma Universidade.