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18 janeiro, 2005

Hoje é Dia de Mad Maria
Por Fran Pacheco

Num Sertão sem fronteiras, mítico e atemporal, onde todos falam tar e quar Guimarães Rosa, para desespero dos ouvidos urbanitas (legendas! legendas!), a pequena-grande Maria, símbolo, signo e arquétipo da Pureza & Sabedoria da Infância, percorre, com a qualidade da película cinematográfica de 35mm e aquela luz dourada, milimetricamente fotometrada, que torna tão estética, tão cosmética a miséria, em tom de farsa elizabethana e commedia dell'arte, as veredas do Brasil Profundo. Morena em criança, torna-se, por força de um sortilégio, adulta e branquela. É Letícia Sabatella, a Sra. Beija-Flor. Em sua busca, vagueia monologando seu pai, Osmar Prado, o eterno Tião Galinha. E eu, suplicante:"Legendas! Legendas!"

E El-Diretor, a divindade plenipotenciária do set, não resiste a deixa e se vale de todos os recursos/referências possíveis de linguagem, enquadramento, ritmo, montagem e trucagens (digitais e artesanais) para nos provocar: "sou ou não sou genial? Sou ou não sou o Hyeronimus Bosch do horário nobre? O Tintoretto da telinha?"

E eu respondo, bocejante: "Luiz Fernando Carvalho, és o Peter Greenaway tupiniquim". (Nota: isso não é um elogio!)

Enquanto isso, no Guaporé, Fábio Assumpção declama, junto a um cadáver: "É um pobre índio... E está morto!". Tony Ramos, alisa o bigodinho Louis Chypher para nos avisar, com uma risota: "sou o vilão". Juca Albieri de Oliveira, vestido de Allain Quartermain da 3ª Idade, grita, com a impostação de um Lawrence Olivier de fartas sobrancelhas: "Porque eu aceitei fazer essa Ferrovia!" E bate no mapa, com um estrondo de sonoplastia. Broooump! "E vou chegar no final! Mesmo que seja morto!" Brooooump!

E eu, na situação que os antigos tupis chamavam de pindaíba, me pergunto: "quanto o Márcio Souza levou nessa?"