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21 dezembro, 2004

Super Size Me Brasil
Por Fran Pacheco


"Eu dormi num país de desnutridos
e acordei num país de obesos."


Teria sido o excesso de chibé? Overdose de McLanche feliz? O vício do sopão de 1 Real? O consumo desbragado de biscoitos vitaminados? O fato é que, após ler a mágica pesquisa do IBGE, comecei a olhar para as pessoas nas ruas e... quanta abundância! Quantas carnes! A cintura do brasileiro aumentou tanto quanto o rombo em suas contas domésticas. A desnutrição, segundo o Instituto, continua crônica apenas entre as mulheres do semi-árido nordestino e as modelos de mega-agências, como a By Salignac.

A nova mania nacional é detonar balanças e molas das camas. O brasileiro assumiu o modelito "Extra Large Plus" e agora clama por banquinhos mais largos e lojas como Varca ou Bella G a preços populares. A distribuição gratuita de suspensórios e cuecas samba-canção tornou-se um imperativo categórico. Bebedores de cerveja já podem ostentar como símbolo de status suas protuberâncias abdominais. Neo-potrancas podem transbordar, em calças da gang, seus pneus (nada de "pneuzinhos" - agora é Pneu mesmo). Sai Giselle Sem-Bundchen, entra Silvia Popovic como cânone estético do Brasilsão bem-fornido.

Tudo isso da noite para o dia. O que uma pesquisa do IBGE não é capaz de fazer com nossas mentes? Este é um momento histórico de mudança de paradigma. Temos mais obesos do que desnutridos! Os burocratas do Fome-Zero entraram em parafuso. Mal conseguiram abrir a bendita conta para depositar o cheque da Giselle, já estão ameaçados de pensar (o pesadelo de todo barnabé) de novo no que fazer.

O gordo, perdão, o "generosamente modelado" deixou de ser a minoria oprimida. O passado infame da adolescência sofrida está soterrado (adolescentes, quando querem, são o tipo mais cruel de pessoa). O gordo, perdão, "size-friendly", em verdade, já tomou o poder. Há muito. Vide o caso de nossa remota província amazônica, tão longe do Habib's e do Burger King: Eduardo Cadeirudo Braga, Gilberto Tucuxi, Galo Carijó Tampax, Amazonino Papudinho Mendes, Paulo Leão-Marinho Nasser, Belarmino Vigário-Mor Lins, Ari Bolinha Moutinho. É bundão que não acaba mais. Já dizia certeiro Lord Acton que o poder corrompe. Acrescente-se: corrompe e engorda. ACM é o cânone dessa escumalha que inverte a máxima de Nelson Rodrigues: "Todo político é gordo."

Mas estas são as ovelhas negras de uma comunidade cordial, amistosa, amável, bem-humorada, da qual eu próprio fui adepto convicto, antes de ser reduzido à vexatória ossada que hoje sou. Assumo e jogo na cara dos anoréxicos. Cultivei minhas dobras, sim, com carinho e com afeto, e delas só abri mão morto. Fato do qual me arrependo amargamente.

P.S. Ao contrário do Presidente Lulalá, eu acredito na pesquisa do IBGE. Para Lula, o brasileiro "tem vergonha de dizer que passa fome". Lula só não explicou como o faminto enrustido, com o famoso jeitinho, conseguiu enganar até a Lei da Gravidade, fazendo-se passar por obeso em cima da balança dos pesquisadores.