Image hosting by Photobucket

01 dezembro, 2004

Diário póstumo de um cinéfilo (penúltimo)
Por Fran Pacheco

As opiniões sobre o festival se dividem. Todos os convidados do Governo, com hospedagem, alimentação e city-tours pagos, estão adorando. Os aldeões estão indiferentes. Uma senhora no terminal de ônibus (onde estão passando os filmes de 1 minuto) disse que preferia ver a imagem de um padre fazendo a pregação. Não tenho com quem discutir as nuances de fotografia, montagem e trilha sonora dos filmes coreanos e vietnamitas em cartaz. Não consigo falar com o Kakof, para polemizar e perdi o e-mail do Ivan Lessa. Rubens Edwald está vendido ao Governo. Fico desanimado. E ainda por cima, tenho cadáveres para enterrar. Poeticamente falando, é claro. Não fui ao Tropical Hotel assistir aos eco-documentários sobre a prática de necrofilia entre os patos do Canadá. E ainda confundo alhos com bugalhos, no caso de nossos vizinhos Peru e Colômbia. Com a agravante de que eu não faço a menor idéia do que sejam bugalhos.

A seguir, a penúltima seqüência (serei breve) dos filmes que vocês não viram. E uma pergunta intrigante: por que o próximo festival, se existir, só será daqui a dois anos? É tão difícil assim trazer nove longa-metragens para exibir num cinema?


Bocage, o Triunfo do Amor (hors-concours)
A poesia e a sacanagem do genial bardo luistano, num filme sem pé nem cabeça do nativo Djalma Limongi. Delirante. Sensacional. Sensacionista. Um Peter Greenaway deglutível. O melhor filme já exibido neste festival.

September Tapes
Jornalista que teve a esposa morta no World Trade Centre resolve ir à forra e matar Osama Bin Laden, embarcando com uma trupe de documentaristas rumo ao Afeganistão. Deles restam os tais tapes, que é o que vemos na tela. É sério. No pior estilo Dogma e Bruxa de Blair. Torci a valer pelos talibans.

The Snow Walker
Piloto cai com o avião no meio da tundra canadense e não se conforma. Recebe a ajuda de uma jovem nativa Inuit. Já seu pra sacar o que rolou? Uma mistura glacial do Survivor com "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar."

O Silêncio da Floresta
A humilhação final para o pólo de cinema do Amazonas: Camarões já produz Cinema (e bom). Na verdade, até o Butão (no segundo barranco depois do Everest) produz, tendo já emplacado um filme ("A Copa") para concorrer ao Oscar, barrando na época o filmeco Orfeu, de Caca Diegues.

Quase Dois Irmãos
Segundo um diário local, "nossa única esperança de premiação". A indignação popular tomará as ruas se este filme com Werner Bento Gonçalves Schunermann, sobre dois ocupantes de um xilindró em plena Ditadura Verde-Oliva sair de mãos abanando. Estamos de olho em vocês, srs. Jurados! E ainda por cima pagando sua boca-livre.