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22 setembro, 2004

Prato Feito
Por irmão Paulo

“Muita gente há que ainda se admira de acontecimento de coisas
desagradáveis aos olhos e ao entendimento, principalmente em matéria de
política. Parece que neste objeto o Amazonas tem provado uma capacidade
extraordinária para o humor sórdido, uma prioridade escandalosa, a ajuizar da
seqüência de exemplos.”

Mário Ypiranga Monteiro
(A renúncia do dr. Fileto Pires Ferreira)

Enquanto escrevo, ouço o tocante prelúdio da Bachianas Brasileiras n. 4, de Villa-Lobos, gravado em 1958, “par lui-même”. Saudade de um Brasil que não existe mais.

Vivendo entre feras, o homem sente inevitável necessidade de também ser fera. A política é para os brutos, uma luta de arena onde quem não mata, morre. O retrato mais perfeito do mundo político ao qual tenho pouquíssimo acesso e olho de soslaio, para não chamar atenção, é o mundo da máfia retratado por Copolla (lê-se copóla) na trilogia The Godfather. Nada é o que parece, ninguém é o que parece e alguns, muitas vezes, não são o que são. Assim se dá com a maquinação política amazonense. Tudo permanece em suspense, até o último momento. Quando tudo se decide, num jogo de caciques, brinca-se o faça tudo que seu mestre mandar.

Por falar nisso, há espaço para quatro caciques políticos no Amazonas? Desenvolvidas a partir da fértil matriz gilbertista, as principais lideranças políticas do Amazonas (incluindo a matriz genética), pela quantidade, ameaçam acotovelar-se mutuamente na busca da mantença de um lugar ao sol. Conto-as em quatro, como sugeri acima, pela ordem de precedência (influência eleitoral, política e capacidade de articulação e estratégia): Amazonino Mendes, Eduardo Braga, Gilberto Mestrinho e Arigó Nascimento.
Pela primeira vez sem mandato, desde que indicado Prefeito de Manaus pelo então governador Gilberto Mestrinho, Amazonino Mendes, preparou diligentemente seu retorno à cena pública desde dois anos antes do término de seu terceiro mandato como governador.

Naquele biênio, moralizou parte das licitações governamentais, disciplinou o uso do pregão, criou a Universidade do Estado do Amazonas, salpicou o estado com mais de 600 obras em andamento simultâneo, criou e/ou consolidou o Festival de Ópera, o Encontro Internacional de Poesia, a Amazonas Filarmônica, as orquestras mirins, o coral mirim, o corpo de dança, permitiu a execução de significativo projeto editorial de resgate de obras clássicas de vultos amazonenses e de novos escritores, sinalizou a implantação do terminal graneleiro etc.

Ou seja, criou uma paisagem favorável (meio artificial, mas favorável), deixou uma boa lembrança na também bienal memória popular, ao tempo em que engatilhou (é esse o termo) o estado de tal forma que qualquer governador que o sucedesse se veria instado a concluir as obras inacabadas, postergando ou desacelerando a execução do próprio programa de governo e, diante da estrutura criada, redirecionar recursos para sua efetiva utilização, drenando-os da execução de seu próprio programa. Xeque, como em xadrez. A patifaria no porto de Manaus parece não ter repercutido junto à opinião pública, que não entende de direito nem de legalidade.

Nesta terra de cegos, a genialidade política de Amazonino Mendes se manifesta ganhando eleições. Aparece fácil. Não há praticamente competição. Ocorre que agora existem quatro caciques disputando o direito de sentar sobre o formigueiro.

O retorno à cena pública, isso são favas (trocadilho involuntário) contadas, se dará através da Prefeitura de Manaus, cidade que já governou em dois outros momentos. Assim, reinstalado no governo da cidade, Amazonino Mendes, planejando-se nesses ciclos de dois anos, poderá (sempre tendo em vista a já mencionada bienal memória popular) executar uma vistosa administração e viabilizar-se candidato a Governador do Estado, se outro caminho não tiver sido acordado. Embora, como se sabe, acordos possam ser rompidos ou refeitos. O governador, politicamente, fez a única coisa que poderia para se proteger um pouco, indicou o vice na chapa de Amazonino.

As eleições gerais de 2006 representam o primeiro momento de potencial confronto direto entre Eduardo Braga e Amazonino Mendes, após o armistício de 2002. O que se diz, após o acerto do apoio de Mestrinho à Amazonino, é que a vaga do Senado é do boto e ninguém tasca. Por trás, claro, os 5 milhões de Gilberto Miranda. Resta, como diria João Saldanha, combinar com o adversário. E pasteurizar o boto para que dure até lá.

O pensamento voa com a voz de Victoria de Los Angeles, na famosa ária da Bachianas Brasileiras n. 5, gravação de 1957.