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14 setembro, 2004

O combustível do Sistema
Por Fran Pacheco

Governar, como disse mestre Washingtão Luís, é superfaturar, perdão, abrir estradas. Fiel seguidor dessa máxima, nosso governador, Acuado Braga, em "entrevista" recente (o termo entrevista, no contexto regional, deve estar sempre entre aspas) fez um balanço das obras em andamento na Capital. Grandes avenidas estão sendo rasgadas na Zona Norte e Zona Leste. Fomos poupados, por enquanto, da construção de uma artéria ligando a Estrada da Cidade Nova à Estrada do Turismo, a White Elephant Road. Ela ficaria a cargo do mestre-de-obras Cordeirinho, que está inativo, até que encontrem um substituto para ele. Quanto às do Extremo Norte, estão a pleno vapor. Nas palavras do governador: "é preciso que as pessoas possam passear (sic) pela Zona Norte e a Zona Leste, e conhecer, que é lá onde a cidade está explodindo."

Eu fui lá. A vantagem de se estar morto é que você pode dar esses "passeios" sem gastar suas alpercatas. A explosão ufanista de Braga é na verdade uma proliferação incessante de favelas, favelas a mancheias, em barrancos, crateras e até dentro de muros. Um horizonte desmatado, tomado por barracos até onde a vista alcança.

Manaus, cidade-sorriso careado, já foi uma Paris de fachada, depois rebaixada a Saigon. Agora, fomos promovidos a Canudos. Cada favela é curral de um Antônio Consigliere, um "amigo da comunidade". Trata-se de uma Canudos domesticada, esperando paciente a construção de um novo sopão, um novo conjunto com o nome do pai ou avô do governante e que o prefeito-tampax Galo Carijó apareça para asfaltar os lamaçais. As avenidas vão rasgando a paisagem, num ciclo interminável barraco-asfalto-barraco. E o "apoio e amparo" do inseto redentor virá, mas "com a ajuda do seu voto".

Vislumbro um futuro longo e promissor para os eternos donos das esmolas públicas. A miséria humana é um recurso natural abundante e renovável.