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02 setembro, 2004

Deixem o pau comer solto
Por Fran Pacheco

"Eu sou um Hobbitt e só me Frodo."
J.K.R.R. Rowling-Tolkien


Falando francamente, alguém assiste ao programa eleitoral gratuito só para ver propostas e projetos de governo? Eu não. Eu sei que essa patota só quer saber do "puder", como diria o Ribamar. Se deixarmos no lenga-lenga do "alto nível", ficaremos durante semanas fadados a ver a seguinte grade de programação:

  • "CREDO!" - Do Latim "acredito". Programa messiânico de Plínio Tampico Valério, ao som de Fágner (cuja técnica de vibratto consiste em balançar a cabeça). Plínio Conselheiro aparece nas pregações com um baita e reluzente crucifixo pendurado no pescoço. Está invariavelmente de braços erguidos ao firmamento, às vezes em êxtase. Suas sentenças são pinçadas de "Minutos de Sabedoria" e "Fernão Capelo Gaivota". Arremata sempre com uma viradinha de cabeça e o bordão "acredite nisso." Eu acredito. Credo quia absurdum.
  • "The Herbert Fellow Project" (a.k.a. "A Rosca de Herbert") - Filmetos experimentais, feitos com câmera caseira, sempre à mão, fitas gastas, zunido do som ambiente (ventilador), um pano velho de fundo. Grupo de 2 revolucionários embrenhados da selva para documentar a queda do Capitalismo Selvagem é assombrado pelo fantasma da ALCA. Suas fitas desaparecem. Seus restos mortais são censurados pelo TRE, com uma tarja azul e uma Marcha Fúnebre para Motel, by Kenny G.
  • "Sarafa Forever, Tentativa 5" - Empenhado em quebrar o recorde mundial de fracassos eleitorais e a quantidade de vices-campeonatos seguidos do Vasco da Gama, portador da comenda de "Homem Menos Carismático do Norte-Nordeste", Sarafa dispensa qualquer verniz. Reimprime (xeroca) a cada dois anos as mesmas propostas. Desafia quem conseguir assistir aos seus 2 minutos diários sem dormir. Só não pode dar nenhum prêmio, que a grana tá curta. Seu candidato a vereador mais forte (depois do bonecão Barbosão) é Paolo de Carli, que vota em Amazonino, capice?. Mas Sarafa é enfático (na medida do possível): "eu voto em mim!"
  • " Madame Eronildo Convida" - Omar, Mixilis, Buchada Nascimento. Não há sofá que seja páreo para tantos bundões. Ao invés, uma grande mesa de um comitê eleitoral, na hora do rush. Dezenas de aspones digitam freneticamente em seus notebooks e analisam farta papelada. Só pode se tratar do listão de companheiros e companheiras a serem contemplados com sinecuras nas 6 Prefeituras da Vanessa ("uma bem pertinho de você"). Atentem para o detalhe de Humberto Mixilis olhando fixamente para a tela de um Apple Powerbook de 15 mil reais. O beiço que ele faz só pode significar o seguinte: "como é que se liga essa porra?" Às vezes o Ministro Buchada Nascimento dá as caras. É constrangedor. Como um arigó desses foi duas vezes prefeito e agora está Ministro? A resposta é simples: a Máquina Pública no primeiro caso. Quanto ao Ministério, ele já admitiu em público que não manda lá. Só em casa, em Dona Léo, sua última vassala (Fabrício Lima exige direito de resposta).
  • "Eu, Artur" - O candidato de proveta chamado Bisneto (cujo filho será Trineto) faz "laboratório" com dinheiro do papai. Pega ônibus pela primeira vez na vida (em Los Angeles andava de Trolley). Qualquer dia vai topar com o Carijó, outro neo-adepto dos "buzões". Voa de helicóptero (cocóptelo, como diz na intimidade, para papai). Em cenário futurista, estilo "Minority Report", uma entusiasta clica em suas propostas holográficas. E sorri. Eclético, entoa um rap mais underground que o do Amazonino. Seu futuro dinástico está garantido: quando sua terceira idade chegar, e as rugas invadirem até o seu sovaco, fará cover do Mick Jagger.
  • "Feelings" - Arrasa-quarteirão da mega-coligação arrivista da Abelha Rainha. Programa forte, que explora sem pudor as lágrimas de crianças, e velhinhas desamparadas. Apesar de doente e inchado (até a fala parece inchada) o velho homem que não sabe viver sem o "puder" tem na cabeça todas as soluções para a cidade. E tem tempo, muito tempo, como todo épico que se preze. Metade do programa são simulações ( ficções) de como suas panacéias vão funcionar. Um Centro de Amparo, na verdade 20 Centros, que reunirão, em cada um, equipes de todas as especialidades existentes no mundo, inclusive "profissionais que estão fora do mercado de trabalho". Ou seja, cabe qualquer um. De advogados a ambulâncias. Tudo, tudo o que o engenho humano conceber estará nesses centros. Call center, divãs, sopão, futebol "soçaite", banco de dados, enfermaria. Um exemplo prático (mostrado no programa): D. Maria está doente. Em vez de ligar para o S.O.S. Manaus ("que está desestruturado"), D. Maria receberá, um dia, a visita de um "agente", que anotará sua situação e em seguida, constatado o quadro clínico (ele manja de tudo), ligará para uma ambulância do Centro de Panacéia, que a levará para uma unidade de saúde. Está tudo na cabeça do homem. Mas o "staff" do homem, sedento, quer saber mesmo quando é que começará o oba-oba das licitações.


A coisa só fica boa quando essa turma deixa de lado a "elegância" e parte pra ignorância. É bom ver os podres deles, em horário nobre. Foi bom relembrar a derradeira "grande jogada" do Amazonino, quando ele tentou barrar o gasoduto Coari-Manaus para dar de bandeja para um obscuro grupo estrangeiro o transporte do gás... por barcaças! Foi lindo rever Amazonino gaguejar para um repórter do Jornal Nacional, tentando explicar que pra ele servia "gasoduto, barcaça ou zepelim".

A Justiça Eleitoral certamente dará direito de resposta. O chato do Amazonino liderar com folga é que provavelmente ele não precisará partir pro ataque e mostrar os podres dos "mocinhos". Ah, mas com alguns pontinhos a menos nas pesquisas, o negão partiria pra cima, com o mentor Egberto por trás. E seria o Apocalipse.

A saída para o pau comer solto será a Justiça liberar geral. Deixem que eles pratiquem, para o nosso deleite, o canibalismo grupal. Ao vencedor, as batatas de ouro. Ao povo ferrado, não restará mesmo qualquer escapatória. Não basta ser amazonense, tem que tomar na tarraqueta.