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26 agosto, 2004

Quero ser indiciado pela PF
Por Fran Pacheco

"Ari e Bosco são indiciados e dizem que estão mais fortalecidos"
Manchete de "O Estado do Amazonas" 25/08/04

O Brasil esboça sinais tímidos de interesse em civilizar-se. José Dirceu quase caiu por umas traquinagens de um cupincha instalado em seu gabinete, o já esquecido Waldomiro Um-Por-Cento Diniz. Agora, se Zé Dirceu e Luís Gushiken, tidos como os políticos mais próximos do presidente Lula, o chamado núcleo-duro, fossem formalmente indiciados pela Polícia Federal por formação de quadrilha, o governo petista cairia. A duras penas, é verdade, mas cairia. Isso no Brasil.

No País das Amazonas, a coisa funciona ao revés, como me informa o jornal acima. Essa manchete, com toda sua carga de paradoxo, deveria ser matéria de análise em cursos de jornalismo. A chamada, logo acima da manchete, em letras menores, já prepara o espírito do leitor para se acalmar diante do aparente infortúnio dos dois eduarditos: "Braga afirma que é politicagem." Ah, que alívio. Então está feita a mixórdia: um fato negativo (o indiciamento dos mais queridos pets do Governador) atenuado (na impossibilidade de ser anulado) pela análise subjetiva e favorável dos envolvidos.

Na verdade, como o próprio jornal confessa, nas páginas internas, quem disse que sai fortalecido foi o Sr. Arizinho, em coletiva comandada pelo Dr. Simonetti (especialista em clientes, digamos, VIPs). Bosco afirmou que não renuncia à candidatura de vice. Fez bem. Se o negão bater as botas nos próximos oito anos, o sineiro fica com a chave do cofre. Ambos os indiciados afirmaram ter a vida transparente. De fato. Foi o que permitiu à PF enxergar algo muito indecoroso sob os diáfanos véus palacianos.

Comoção pública? Vai no comício dos homens, ver a festa. Indignação? Só se for contra a PF. Na Assembléia impera o silêncio. Assim será seculum seculorum, por um motivo simples: nós não elegemos uma bancada de deputados ou de vereadores. Elegemos uma blindagem para os governantes. Isso é a Assembléia. Isso é a Câmara. O palco para o imperador estadual ou o chefe tribal municipal exercer os seus desmandos, na forma da lei. O escudo contra qualquer ingerência da sociedade civil na "cosa" pública. A Grande Família, onde irmão não julga irmão.

Nesse cenário, sobrou para o office-boy de uma das células de corrupção do Estado. Cordeiro será cassado. Mas não por ter ajudado a destinar 500 milhões de reais para a sua panelinha. Os deputados não conseguiram ver, nas 1.200 páginas de inquérito, provas contra o irmão. É natural, isso é fraternidade. Cordeiro será cassado por ter chamado, nas conversas grampeadas, Lino Chíxaro de "Vaselino", Belão Lins de "Vigário-Mor", entre outros. Isso não é fraternidade. Foi o seu fim.

CPI? Companheiros, CPI pra quê? O que essa bancada será capaz de investigar? Filho não investiga pai. Recomendo terminantemente arquivar essa idéia. Uma CPI corre o risco de ser presidida, por exemplo, pelo Zé Melo. Ele concluirá que não há corrupção no Estado do Amazonas. Deixem a coisa nas mãos dos federais de Herr Thomas-Baztos. E protejam a Dra. Graça Malheiros.

Estão todos indiciados. As inscrições para o festival folclórico de Manaus já se encerraram. Não aceitam mais quadrilhas. Em 3 de outubro Ari Moutinho será eleito vereador com uma das maiores votações da História (está disputando a glória com o ilustrado Sr. Sabino Castello Branco). Bosco Saraiva será eleito (sem nenhum voto, como todo vice) e poderá tocar, quem sabe, mais um Plano Emergencial, à base de dispensas de licitação. Eduardo Braga, o pai dessas crianças travessas, provavelmente chegará à reeleição de 2006 com um único adversário: Herbert Amazonas.

Amazonino, pai de Braga, já avisou que só abandona o poder morto.

Boto Tucuxi, pai-de-todos, a célula-mater dessa metástase, talvez já esteja morto e não saiba.

Preciso melhorar a merda da minha "vida", ainda que no além-túmulo. Sou mais transparente que o Bosco Saraiva. Quero ser indiciado pela PF.