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13 agosto, 2004

LAUDO CADAVÉRICO DE UM OUTDOOR

Por Fran Pacheco e Herculano (na saideira)



Todo cidadão de bem nessa cidade perdida já se deparou com esta aparição:





Preliminares

Como todos sabem, o Dr. Amazonino Armando Mendes tutelou, com pequenas (mas intensas) férias o Paiz das Amazonas nos estertores do século XX e comecinho do novo milênio. Nos últimos dous anos, cuidou da vida de cidadão comum, às voltas com pequenas (mas intensas) aporrinhações no STJ e STF. Há quem o tenha visto, neste ínterim, na suíte presidencial de um renomado centro cirúrgico paulista, fazendo uma micro-cirurgia cardíaca pelo nariz. Sim, hospital também tem suíte presidencial.

Há cerca de um mês, em programa político do PFL, sua imagem televisiva foi vista por todos, mas é impossível precisar em que data foi gravada. Pode ter sido há anos. Sua aparência, porém, já despertava preocupações. Faces turgescentes, voz nitidamente embargada, olhar embaciado.

Semanas atrás, anunciou-se e registrou-se sua candidatura ao cargo de Alcaide da capital Baré. Foi quando ele apareceu em público pela primeira vez. Todos viram, então, na Convenção dos Cadeirudos, Botinhos e Carijós, um Amazonino inchado (como uma paca, diriam alguns), túrgido, esvaindo-se num caudaloso, gelado e viscoso suor (que outros zelosos discípulos guardam até hoje em frasquinhos, como relíquia).

O esforço daquele dia fez com que Amazonino, exaurido, sumisse por quase um mês. Os boatos ficaram mais intensos. Num esforço supremo para espantar a crescente preocupação com sua apetência, o Caboco Suado decidiu fazer o cabelo de um incauto, no Mauazinho. Mais algumas semanas se passaram, com Amazonino, provavelmente preso a um leito, até que os ideólogos de sua campanha lançaram uma cartada fundamental, para mostrar que o Negão estava, sim, vivo: o outdoor acima.

O tiro saiu pela culatra.

A Junta

Convocamos para analisar o material gráfico uma renomada junta, formada pelos Drs. Cesare Lombroso, especialista em sociopatias e psicopatologias (caracterologista, diriam os puristas, descendente direta da Frenologia) e Dr. Fritz, versado em dissecações "in vivo" (é também o único espírito capaz de baixar em mais de dois médiuns ao mesmo tempo).

Observe-se que nossa junta, tendo deixado o mundo fenomênico antes do advento da moderna computação gráfica, desqualifica completamente as propaladas virtudes terapêuticas da panacéia digital. O que se vê, no rosto disforme estampado neste outdoor é fruto, afirmam os doutos, da intervenção física de escamoteadores de quinta categoria. Com a palavra, os sábios:

O Laudo

Preâmbulo - Aos treze dias do mês de agosto do ano graça de 2004, às 00:30h, encontramo-nos reunidos nesta sala mortuária os infra-assinados drs. Fritz, Chefe da equipa de cirurgia do grupo do Dr. Bezerra, aqui
representando-o, Dr. Cesare Lombroso, emérito caracterologista, versado nas artes da Frenologia e da Fisiognomia, com seu L'Uomo Delinquente em mãos e eu, Luís C., na condição de secretário dos trabalhos, incumbido muy honrosamente do registro escrito do evento, para realizar a necropsia indireta da foto do cadáver de AMAZONINO ARMANDO MENDES, de nacionalidade brasileira, natural do Amazonas, do sexo masculino, com presumidos 65 anos de idade e outrora residente às margens do Rio Tarumã, o qual foi identificado por todos quantos viram o outdoor.

Histórico - Com a palavra Dr. Fritz. "Comecemos, senhores. O corpo de AMAZONINO ARMANDO MENDES, anh, encontra-se desaparecido e todo o esforço de nossas equipas não foi suficiente para encontrá-lo, anh, pelo que concentraremos nossas atenções na imagem disponível, tudo para atender aos reclamos de nosso dileto irmão Fran Pacheco. Registro a presença do Prof. Lombroso, para aqui deslocado no objetivo estudar os caracteres desse espécime raro e completo de animal político. Descrevo. O cadáver fotografado vestia camisa amarela e provavelmente estava nu dos ombros para baixo, devido ao alto grau de edemaciamento apresentado.

Chama atenção a tonalidade da pele do de cujus: a côr exibida não é de gente viva. Superficial comparação demonstra que não se encaixa no tom epitelial do Homo amazonicus, nem no do próprio Amazonino (Homo
amazonicus safus
). Como se sabe, a côr da pele, caráter mendeliano, resulta de uma herança genotípica multifatorial, onde diversos pares de genes alelomorfos exercendo uma função cumulativa determinam, por efeito de variadas combinações, tonalidades diferentes de pele, definindo fenotipicamente o indivíduo. Sabe-se que o de cujus, é faiodérmico (pardo, trigueiro, mulato). Chama atenção que na foto o homem exibe características xantodérmicas, sendo praticamente um chinês. Nem a nítida utilização de verniz naval (nessa cara-de-pau) é capaz de disfarçar o tom cadavérico amarelecido, a textura de pergaminho por trás do violento repuxo tegumentar.

Na região frontal, é possível perceber a total ausência de marcas de expressão de rugas, o que só pode ser explicado pelo descuido com que os embalsamadores trataram o de cujus, descolando-lhe o couro cabeludo e em seguida costurando fora de lugar, o que causou o alisamento, nitidamente anti-natural, da testa. Em seguida, voltando nossas atenções para as regiões orbitárias, é fácil notar qual inchadas estão, a ponto de formarem duas bolsas sobre e sob os olhos do de cujus, que parecem abertos à força, e efetivamente o estão devido ao avançado estado do período enfisetamoso. Os globos oculares, por certo, foram empurrados para o fundo da cavidade (o que é fácil) e substituídos por próteses que sequer foram bem colocadas. Vide discreto estrabismo no olho direito.

A linha de incersão dos cabelos apresenta-se bastande recuada. A tentativa de se pregar esses estranhos fios brancos, anormalmente retesados, indica a técnica primária usada pelos falsários. Simplesmente não existe cabelo branco nas pontas e preto na raiz! O contrário seria o correcto, mas os sacripantas, tentando dar ao de cujus um ar venerável, sairam-se com essa improvisação, pregando afobadamente e ao revés os fios no crânio combalido do velho líder. O material usado provavelmente foi piaçava tingida.

Horrendamente desproporcional é a ausência de pescoço: há uma ligação direta do queixo com o tronco, mal disfarçada pelo corte na imagem. Esse elemento, aparentemente sem importância, ganha relevo ao raciocinarmos, com grandes chances de êxito, que tal fato destina-se a esconder o corte da autópsia certamente realizada. A incisão mento-pubiana, que vai do queixo até o púbis, precisa ser ocultada. Se observarmos com atenção, o o homem está torno. A boca fechada fortemente, que esboça um indecifrável sorriso, tem uma explicação bastante lógica. Está costurada por dentro. Assim não fosse, a ausência
de tônus muscular provocaria a queda do queixo e teríamos não Amazonino, mas um boneco Muppet com a bocaça aberta.

A fácies do de cujus nos passa inquietante sensação de achatamento, como se um rolo de pastel tivesse passado por cima de uma substância flácida. O mais provável é que ele tenha sido fotografado em seu leito, em decúbito dorsal. O inchaço generalizado da facies cadavérica, que dizem estender-se pelo corpo todo, principalmente pelo abdome, é sintomático do estágio de decomposição em que se encontra, como dito, período enfisetamoso.

Por fim, as mensagens subliminares deixadas pelos ideólogos. É sabido que todo falsário deixa uma pista para ser pego, mas estes exageraram. O branco que domina a composição nos remete à paz excelsa do além-túmulo. A citação ao "trabalho" é recorrente em entradas de cemitérios, como no São João Batista ("Laborum Meta - Finda o Trabalho"). O inseto alado adornando a composição assemelha-se a um querubim, apontando e subindo feliz para o céu. O destacado número 25 seria a data de seu passamento: 25 de julho de 2004, supomos.

Posto isso, a partir da análise deste outdoor, a conclusão a que chega essa junta é uma só e ela pode afirmar, categoricamente:

Amazonino Armando Mendes está morto.




.........................................................................

Nota do Club: devido à polêmica conclusão, já que um homem que se diz "Amazonino Mendes, o Prefeito que a Gente Quer" está perambulando pela cidade, concedendo entrevistas e prestes a ganhar uma eleição, solicitamos à junta uma explicação para tal fenômeno, o que está sendo providenciado. Dr. Lombroso, que apresentará em breve seu laudo caracterológico, adianta que trata-se de um animal político completo com áreas cerebrais da destrutividade e aquisitividade excepcionalmente hipertrofiadas.




 

3 Comments:

  • At 4:38 PM, Anonymous Anônimo said…

    vocês são uns desocupados, que não tem mais o que fazer, ao invés de irem cuidar das suas vidas medíocres ficam avaliando fotos,o que tem a ganhar com tudo isso, apenas a imagem do ridículo de pessoas invejosas desesperadas por polêmicas, se era atenção que vocês queriam os terríveis, foi atenção que vocês conseguiram pois não há quem não pare para observar, rir e comtemplar o ridículo de um bom palhaço.

     
  • At 1:31 PM, Anonymous abelhinha said…

    to com vc meu amigo enao abro pro qui de e vier abelhinha um abraço do teu amigo

     
  • At 1:31 PM, Anonymous abelhinha said…

    to com vc meu amigo enao abro pro qui de e vier abelhinha um abraço do teu amigo

     

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