Image hosting by Photobucket

14 julho, 2004

Cinematógrafo
Por Fran Pacheco

Muito boa a iniciativa da SEC de relançar em Manáos filmes que fizeram a nossa cabeça quando jovens, como este Gabinete do Dr. Caligari. Lembro a primeira vez em que assisti, numa quermesse no Coliseo Tauromáquico, a um filmeto de dois irmãos franceses mostrando um trem chegando numa estação. A patuléia saiu correndo. Eu me questionava, assombrado, mas imóvel: que diabos é isso?

"Isso é o cinematógrafo", pregoava o bilheteiro, tocando uma caixa de música, com um mico de cheiro no ombro, ambos com dragonas e alamares. "Militares, casais e babás só pagam meia". Eu entrava imponente, sem pagar, e ele não tinha coragem de me cobrar. Foi lá que vi Voyage dans la Lune e esse Caligari, Lindalva Cruz ao piano.

(Naquela quermesse, em outra ocasião, conheci Pércia, a anã polidáctila que fazia maravilhas com as mãos, mas isso é outra história.)

Agora revendo na Roberiolândia lembrei-me que Caligari foi a matriz (clichet) de todos os cientistas loucos do cinema, uma premonição de Hitler, para uns. Aquele tom de pesadelo, as ruelas tortas, as caras cheias de pancake, tudo isso marcou meus futuros porres de absinto e bourbon batizado. Marcou mais que a maldita árvore que me perseguiu, quando criança. Ou talvez este trauma tenha sido plantado em minha memória por uma "viagem má", no opiário de Mme. Fu. Puxa, eu realmente curtia um alcalóide com expressionismo alemão.

Quando o som chegou ao cinema e Al Jolson proclamou, "vocês ainda não ouviram nada!", eu me desiludi daquela arte inferior. Obrigado ao Secretário de Cultura por exibir o verdadeiro cinema da nossa mocidade viril.